Título: Indústria do turismo começa a sofrer impacto da epidemia
Autor: Lorenzi, Sabrina; Victal, Renata
Fonte: Gazeta Mercantil, 09/04/2008, Nacional, p. A5

Os efeitos da dengue na economia começam a aparecer nas estatísticas. O total de reservas em hotéis do Rio está 20% menor do que o esperado para o próximo feriado, dia de Tiradentes. No emprego, o número de trabalhadores infectados pela doença é comparável, em média, a um segmento inteiro da indústria fluminense. A Associação Brasileira da Indústria Hoteleira (ABIH) revelou que as reservas feitas até esta semana indicam uma ocupação de 45% nos hotéis da cidade para o final de semana do dia 21 de abril. "Esse percentual estaria hoje, em condições normais, de 52% a 55%", afirmou o presidente da entidade, Alfredo Lopes. O que preocupa representantes de hotéis como Windsor e Sheraton é que esse quadro tende a se agravar, apesar de as filas nos hospitais terem diminuído nos últimos dias ¿ com a chegada de mais médicos e, finalmente, investimentos das autoridades. É que o contágio da doença no turismo é tardio. "Estamos preocupados mesmo é com o que pode acontecer nos próximos meses porque a imagem da cidade vai sendo afetada aos poucos no exterior e nos outros estados", teme o gerente-geral do Hotel Windsor da Barra da Tijuca, Marcelo Bezerra. A Barra é dos bairros mais picados pelo mosquito. Dois eventos de grandes empresas foram cancelados no estabelecimento, transferidos deste mês para uma data ainda não definida. O hotel já havia perdido um seminário do laboratório Merck, como foi noticiado. O valor do cancelamento não é revelado, mas outros funcionários do Windsor Barra contam que um evento costuma render até R$ 2 milhões. O prejuízo pode ter sido de até R$ 6 milhões, portanto. Valores mais conservadores apontam para uma perda de R$ 4 milhões. A dengue, na verdade, já mudou a rotina dos hotéis, que estão precisando contratar empresas de dedetização para espantar os mosquitos. "O hotel está cheio, mas estamos suando a camisa para mostrar para os turistas que o mosquito não entra aqui", diz o recepcionista do Sheraton Barra, Leonardo Domingues. Até repelente o Sheraton oferece aos hóspedes. No Windsor, o gasto semanal com a contratação do serviço particular de fumacê chega a R$ 750. Nada para uma rede com faturamento de bilhões. Procurada por Sidney Linhares, diretor de operação da agência de turismo Del Bianco, que trabalha apenas com a venda de pacotes no exterior, o órgão informou que o problema da dengue era para ser resolvido pelas autoridades da saúde. "Procurei a RioTur e me disseram que a dengue não tinha nada a ver com o turismo e que só a secretaria de Saúde poderia resolver", reclamou Linhares. "Isso é um absurdo porque estamos sofrendo com a epidemia. Cinco pacotes foram cancelados nas duas últimas semanas e já recebi consultas sobre a situação da epidemia de países como Israel e Austrália. A cegueira, no entanto, parece ser apenas das autoridades brasileiras. Até agora, ministérios das Relações Exteriores e embaixadas de países como Estados Unidos, França, Portugal, Uruguai, França e Itália já emitiram comunicados de alerta sobre a doença. Presidente da Brazilian Incoming Travel Organization (Bito), Roberto Dultra confirma que o número de pedidos de informações sobre a doença está aumentando: "As agências dos Estados Unidos e da Europa estão interessadas na doença. Eles querem tomar as medidas preventivas. Ainda não decidimos, mas talvez venhamos a interpelar as autoridades". Na avaliação de Alexandre Sampaio, presidente do Sindicato de Hotéis, Bares e Restaurantes, tudo indica que o mês de abril será ruim. "Os números de março não foram afetados, não tivemos perdas, mas os cancelamentos internacionais estão acontecendo. Temos que intensificar o combate ao vetor e evitar outra epidemia em 2009." Hóspede do Royalty Hotel, Evanice Cibulskis só veio para o Brasil porque não sabia da dengue. Brasileira residente nos Estados Unidos, ela passou primeiro por São Paulo antes de chegar ao Rio, e foi alertada sobre a dengue pelos paulistas. "Eles tentaram me convencer a não vir para o Rio, mas eu queria visitar minha família e não estava acreditando muito. Vi que não era estardalhaço da mídia quando encontrei minha sobrinha com dengue, muito mal no hospital", disse. "Não houve tempo para mudar de planos, mas eu teria adiado essa viagem se soubesse", completou. Os hotéis relatam que as embaixadas dos Estados Unidos, de Portugal e Espanha estão recomendando que as pessoas não venham para o Rio. Por causa do medo de a notícia se espalhar, os profissionais do setor tentam disfarçar o impacto da dengue. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 5)()