Título: Sem capacidade ociosa, Opep discute estabilidade dos preços
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Fonte: Gazeta Mercantil, 15/09/2004, Energia, p. A-6
Declarações de membros indicam que não haverá mudanças nas cotas. Os ministros dos 11 países da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) estudam em Viena o que mais podem fazer para estabilizar o mercado de petróleo depois de já terem aberto quase ao máximo suas torneiras, deixando uma pequena margem de manobra. A julgar pelas declarações dos delegados que chegaram anteontem e ontem a Viena, parece provável que a Opep feche hoje sua 132 conferência regular sem adotar grandes mudanças na produção e adie para o final de novembro ou início de dezembro qualquer modificação dos níveis atuais de produção.
Às vésperas do inverno no hemisfério norte, que deve trazer um forte aumento da demanda mundial de petróleo, a Opep se encontra praticamente sem mais petróleo adicional para oferecer ao mercado. Com cerca de 40% da produção mundial de petróleo e mais da metade das exportações de petróleo do planeta, o grupo influenciou de forma decisiva os preços dessa matéria-prima durante os últimos anos, mediante uma política de controle do mercado com freqüentes reuniões para ajustar sua oferta.
O último aumento da mesma, determinado dia 3 de junho em Beirute para baratear o combustível, elevou a cota oficial de produção de dez dos países membros - todos menos o Iraque - em mais de 10%, para 26 milhões de barris diários (mb/d). Nem essa forte elevação, nem os 2 mb/d adicionais e extra-oficiais bombeados pelo grupo acima da cota impediram a escalada das cotações, que chegaram a quase US$ 50 por barril em agosto, (no caso do petróleo WTI, de referência nos EUA). Mesmo com uma certa queda nos preços, as cotações ainda superam os US$ 40.
Uma das chaves da situação atual é que esta alta da oferta aumentou a tensão e o nervosismo no mercado e a pressão sobre os preços, ao deixar ao mundo com muito pouco estoque adicional em caso de emergência ou de um forte aumento da demanda. Segundo os cálculos da empresa especializada PVM, essa capacidade adicional, denominada "ociosa", é hoje de apenas de um milhão de barris diários, e está praticamente apenas nas mãos da Arábia Saudita, o maior exportador mundial de petróleo e líder da Opep.
Margem de flutuação
Os ministros poderiam revisar as cifras e divulgar uma capacidade talvez maior, que poderia tranqüilizar um pouco o mercado, caso ele dê credibilidade a seus números. Estima-se que a criação de capacidade ociosa suficiente requer grandes investimentos e bastante tempo. Outra medida discutida, proposta entre outros pela Argélia, é a de oficializar o excesso de produção atual, total ou parcialmente, o que implicaria um aumento das cotas oficiais, mas a Venezuela se mostrou contrária a esta opção, enquanto outros membros, como a Arábia Saudita e o Catar, consideraram-na desnecessária.
Por outro lado, parece claro que a Opep se desligou da margem de preços de US$ 22 a US$ 28, adotada em 2000 para estabilizar o barril de sua cesta de petróleo em uma média de US$ 25. No entanto, a Arábia Saudita insiste na vigência oficial dessa margem. A Venezuela propunha elevá-la para US$ 28 a US$ 35, o Catar defende um preço de US$ 28 a US$ 30 e a Nigéria quer um intervalo de US$ 30 a US$ 40. "É necessário mudar a margem, mas ainda não há acordo sobre o novo nível", disse o representante dos Emirados Árabes, Obaid Al-Nasseri.
Os ministros parecem concordar que, para reconquistar o controle sobre os preços, devem entrar em acordo sobre uma cotação mais idônea a defender no futuro. Mas querem esperar para ver como evolui o mercado antes de fixar um nível que mais tarde pode não ser mantido e que diminuirá a credibilidade do grupo. Seu poder no mercado também depende do desenvolvimento de uma maior capacidade de extração, questão que dominará o seminário convocado pela Opep para quinta e sexta-feira, com a participação de outros importantes agentes do setor, como os dirigentes de várias multinacionais petrolíferas.