Título: IPCA sobe 0,48% em março e fica acima das projeções
Autor: Lorenzi, Sabrina; Saito, Ana Carolina
Fonte: Gazeta Mercantil, 10/04/2008, Nacional, p. A5

Rio e São Paulo, 10 de Abril de 2008 - Sem nenhum sinal de trégua, os alimentos pressionaram a inflação em março e tendem a continuar preocupando, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Por trás dos reajustes, a pressão incontrolável das commodities, que encareceram por exemplo pão francês e óleo de soja em 4,24% e 9,81% apenas no mês passado. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) repetiu praticamente a elevada taxa de fevereiro, com alta de 0,48%. O indicador é superior ao teto das projeções de analistas, que estimavam alta de 0,35% a 0,40%. "Este índice preocupa um pouco por causa dos alimentos. E a tendência de pressão (das commodities principalmente) é continuar", afirmou a gerente de Pesquisas do Sistema Nacional de Preços do IBGE, Irene Machado. A inflação já acumula 1,52% no ano, acima da taxa dos três primeiros meses de 2007 (1,26%). Nos últimos 12 meses, o resultado está em 4,73%, também superior ao dos 12 meses imediatamente anteriores (4,61%). E no ano o IPCA de março também é superior que o do mesmo mês de 2007, de 0,37%. Os aumentos nos preços de alimentos e vestuário ficaram acima das projeções do mercado. Os artigos de vestuário, que haviam caído 0,54% em fevereiro, apresentaram alta de 0,75% no mês passado. Com alta de 0,89%, só o grupo alimentos e bebidas respondeu por 40% do IPCA. "Esperávamos uma alta de 0,36%, mas os alimentos in natura apresentaram variação maior que a esperada. Só o tomate passou de uma queda de 3,60% para uma alta de 24,13% em apenas quinze dias", diz o economista da LCA Consultores, Raphael Castro. Para analistas consultados pela Gazeta Mercantil, os alimentos devem continuar exercendo pressão no indicador, mas em menor intensidade. Com isso, a expectativa é de o IPCA desacelerar e encerre este mês com variação de 0,38%. "A questão é volatilidade expressiva dos preços dos alimentos, especialmente in natura. Mas espera-se que em um ou dois meses, eles apresentem queda", afirma Castro. Além disso, energia deve registrar deflação devido à revisão tarifária em Minas. "Combustíveis também tendem a desacelerar com a entrada da safra da cana-de-açúcar", completa o economista da Tendências Consultoria, Gian Barbosa. Além da alimentação e roupas, energia elétrica e combustíveis aumentaram o IPCA de março. Os preços do litro do álcool , que haviam caído 2,31% em fevereiro, ficaram 1,73% mais altos em março. "Por isso também houve aumento de 0,76% no preço da gasolina , que, em fevereiro, havia apresentado queda de 1,42%", diz a pesquisa do IBGE. As contas de luz ficaram 1,40% mais caras, por causa de reajustes em Brasília (3,61%), Rio de Janeiro (2,93%), São Paulo (2,72%) e Porto Alegre (1,17%). Subiram também as tarifas de água e de esgoto (1,43%) , com aumentos em Belo Horizonte (7,28%) e Brasília (5,90%). A Fundação Getulio Vargas (FGV) também está detectando alta de preços, e as maiores pressões estão ainda no atacado, com indícios de contagiar no varejo produtos além da alimentação num futuro próximo. "Os eletrodomésticos por enquanto estão em queda, mas devem ficar mais caros por causa do aumento do aço", afirma Irene Machado. Além do aço, insumo para fertilizantes e resinas plásticas, bem como produtos para a estão encarecendo para a indústria. Na avaliação do economista da LCA, o forte crescimento das importações tendem a contrabalancear o aumento de custos no atacado. "Desde de 2004, há pressão dessas commodities e essa alta não chegou ao varejo", diz. Aceleração dos núcleos O núcleo da inflação por médias amparadas, medida usada para filtrar choques temporários, acelerou de 0,32% em fevereiro para 0,40% interrompendo a trajetória de queda iniciada em dezembro do ano passado. "Pode ser algo pontual, mas é realmente uma má notícia devido à demanda aquecida", comenta Barbosa. Por outro lado, a inflação de serviços caiu para 0,31% em março, ante 0,38% em igual mês de 2007. Em 12 meses, passou de 5,19% para 5,12%. "As taxas mensais estão próximas do nível de outubro do ano passado", afirma Castro, da LCA. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 5)()