Título: Próximos passos
Autor: Sabadini, Tatiana
Fonte: Correio Braziliense, 18/04/2011, Mundo, p. 14

No novo capítulo da política externa brasileira, as primeiras páginas mostram uma tendência positiva. Segundo especialistas, porém, é preciso observar qual será a postura do Brasil em questões mais sérias, quando os interesses do país estiverem em jogo. Nos próximos anos do governo, o Brasil deve reforçar seu espaço no cenário internacional e aprofundar as relações bilaterais. Os planos para o Mercosul continuam a ser uma prioridade e o objetivo de conseguir uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU segue firme na pauta.

O papel do Brasil como um jogador nas questões globais pode ficar ainda mais fortalecido, se a gestão de Dilma souber usar as ferramentas disponíveis. ¿O país está em uma posição bem mais elevada nos últimos anos. É preciso saber o que fazer neste patamar, mas sem se entusiasmar muito. Em política externa, não há grandes mudanças e não se joga sozinho. E, no momento, é muito mais uma questão de correção de rumos do que de querer fazer grandes revoluções¿, avalia Clodoaldo Bueno, professor do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

O grande desafio do ministro de Relações Exteriores, Antonio Patriota, será mostrar firmeza nas decisões brasileiras quando houver algum impasse nas relações internacionais. ¿Precisamos aguardar para saber o que ocorrerá na hora em que acontecer uma situação desconfortável com o Mercosul, por exemplo, ou mesmo na questão com o Paraguai sobre Itaipu. Vamos ver se o país não mistura as coisas na diplomacia e deixa de lado os objetivos nacionais¿, comenta Bueno.

Os esforços de Patriota para melhorar as relações com os dois gigantes mundiais, Estados Unidos e China, por enquanto, ainda não saíram do papel, mas são vistos como passos importante para a política externa do governo. ¿Tudo é negociação. A visita de Obama não teve resultados (imediatos). Na China, Dilma não resolveu o problema de fundo do Brasil, que exporta primários e importa secundários. Até o momento, estamos em compasso de espera¿, afirma Amado Luiz Cervo, professor emérito Universidade de Brasília (UnB).

Grandes linhas de ação criadas no governo anterior devem permanecer intactas. ¿A internacionalização da economia brasileira, que beneficiou-se de um grande impulso de Lula, e o investimento no Mercosul não devem mudar¿, afirma Cervo. O desejo por uma vaga permanente no Conselho de Segurança, no entanto, ainda está longe de ser realizado. ¿A diplomacia deve manter essa ambição, mas ela está acima da realidade. Os apoios ainda são muito vagos e o Brasil precisa ter uma capacitação estratégia para fazer parte do grupo¿, completa o especialista. (TS)