Título: PIB do Brasil é corrigido para mais e o dos EUA para menos
Autor: Exman, Fernando
Fonte: Gazeta Mercantil, 10/04/2008, Internacional, p. A12

WASHINGTON, 10 de Abril de 2008 - O Fundo Monetário Internacional (FMI) revisou para cima a estimativa do crescimento da economia brasileira. A nova expectativa é que o Produto Interno Bruto (PIB) do país cresça 4,8% neste ano, projeção 0,3 ponto percentual maior do que a divulgada em janeiro. Brasil e Rússia foram os únicos países que tiveram suas estimativas de crescimento melhoradas pela instituição. Mesmo assim, o Fundo reafirmou que o Brasil sentirá os efeitos negativos da desaceleração da economia americana. A projeção para o crescimento do PIB dos Estados Unidos foi reduzida em 1,0 ponto percentual, para 0,5% - um cenário classificado pelo FMI como "recessão moderada". Acima das previsões "A economia brasileira tem ido muito bem desde o ano passado. O quarto trimestre foi melhor do que nós havíamos antecipado. O crescimento de 2007 foi de aproximadamente 5,5%, o que forneceu um excedente para 2008 em termos de crescimento anual", declarou o diretor adjunto do Departamento de Pesquisa do FMI, Charles Collyns, para quem a disciplina das políticas macroeconômicas adotadas pelo governo reduziu a vulnerabilidade do Brasil frente a crises externas. "Apesar disso, nós enfatizamos que o Brasil será afetado pela economia dos EUA. A economia brasileira vai desacelerar em 2008 e 2009, mas essa desaceleração virá de um nível mais alto." Para 2009, a estimativa do FMI para a economia brasileira é de um crescimento de 3,7%, queda de 0,3 na comparação com a expectativa divulgada em janeiro. Em relação à alta do PIB mundial desde ano, o corte da projeção foi de 0,5 ponto percentual. De 4,2%, passou a ser 3,7%. A instituição estima que há 25% de chance de o crescimento da economia global cair para 3% ou menos em 2008 e 2009, o que representaria uma recessão. O pessimismo deve-se às incertezas relacionadas ao tamanho e à duração da crise gerada pelo mercado americano de crédito imobiliário de alto risco, a qual já se espalha para outros segmentos da economia dos EUA e para outros países. O Fundo espera, entretanto, que a conjuntura internacional melhore a partir de 2010. Economias desenvolvidas As economias desenvolvidas crescerão 1,3% neste ano e nesse mesmo ritmo em 2009. Já os países em desenvolvimento avançarão 6,7% e 6,6%, respectivamente. As economias emergentes passaram a representar dois terços do crescimento global. Em 1970, esse peso era de 10%. Somente a China representa cerca de 25%, enquanto Brasil, Índia e Rússia respondem por aproximadamente 10% do PIB global. A China deve crescer 9,3% e 9,5% neste ano e em 2008. O FMI revisou para baixo as duas projeções em 0,7 e 0,5 ponto percentual, respectivamente. O PIB da Índia (7,9%, 0,5 ponto percentual abaixo do esperado anteriormente) e da Rússia (6,8%, 0,2 ponto percentual acima do projetado em janeiro) também continuarão vigorosos em 2008. Segundo o relatório "Perspectivas Econômicas Mundiais" (do inglês World Economic Outlook), divulgado ontem pelo FMI, o desempenho dos emergentes é justificado pelos ganhos de produtividade e pelas melhorias nos ambientes macroeconômicos verificados. Esses países têm diversificado os destinos de suas exportações e embarcado produtos de maior valor agregado. Commodities O aquecimento dos mercados domésticos também beneficia as economias em desenvolvimento. Além disso, por serem grandes exportadores de produtos básicos, esses países são beneficiados pela alta dos preços das commodities. Esse último fator, entretanto, é o grande desafio enfrentado pela economia global. O aumento da cotação de alimentos e da energia representa um sério risco à estabilidade, acredita a instituição. "A inflação é uma preocupação para os países desenvolvidos e em desenvolvimento. É uma preocupação global neste momento", alertou em entrevista coletiva o diretor do Departamento de Pesquisa do FMI, Simon Johnson. "Os países devem estar prontos para agir." Para Johnson, a primeira linha de defesa a ser levantada pelos presidentes de bancos centrais de todo o mundo deve ser a política monetária. A segunda arma, complementou, é a política fiscal. Já o último instrumento das autoridades monetárias é o uso de dinheiro público com a finalidade de evitar o colapso dos mercados. O diretor do Departamento de Pesquisa do Fundo elogiou a atuação do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), que tem utilizado esses mecanismos. Em média, o Fed emprestou para os bancos americanos cerca de US$ 100 bilhões por mês para tentar estancar a crise. Johnson ponderou, entretanto, que os governos devem lançar mão desses desembolsos com cautela. O receio do diretor do FMI é que o chamado "moral hazard" ¿ ou "risco moral" - não seja mitigado. Ou seja: que os agentes do mercado que foram imprudentes não pensem que sempre serão salvos quando uma crise acontecer. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 12)()