Título: Saída contra inflação é produzir mais alimentos, afirma Lula
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Fonte: Gazeta Mercantil, 11/04/2008, Nacional, p. A4

Haia, 11 de Abril de 2008 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que o Brasil precisa produzir mais alimentos para reduzir a inflação. O presidente, em visita oficial à Holanda, comentou os dados de março do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) divulgados na última quarta-feira pelo IBGE, que mostraram aumento de preços de 4,73% nos últimos 12 meses, acima do centro da meta de 4,5% estabelecida pelo governo para 2008. Segundo Lula, a inflação causada pelo aumento dos preços dos alimentos é um problema não só do Brasil como de vários países do mundo. Isso porque, de acordo com o presidente, os pobres do Brasil, da Ásia, da África e da América Latina estão consumindo mais alimentos. "Se o motivo da inflação que está acontecendo é porque milhões de pobres do mundo, que não tinham acesso à comida, estão tendo esse acesso agora, isso significa apenas o seguinte: precisamos produzir mais alimentos. No caso do Brasil, nós vamos resolver esse problema com muita facilidade porque temos, nos 851 milhões de hectares existentes no País, 400 milhões são de terras agricultáveis", disse. Os governos do Brasil e da Holanda anunciaram ontem que vão juntar esforços para o desenvolvimento de biocombustíveis. Segundo o primeiro-ministro holandês, Jan Peter Balkenende, os dois países assinaram acordo de cooperação na área. Lula destacou que o momento é propício para se firmar uma parceria estratégica como a que os dois países pretendem estabelecer. "A União Européia decidiu até 2020 introduzir 10% de biocombustíveis na sua matriz energética. Todo mundo sabe que o Brasil tem um potencial extraordinário nos biocombustíveis, muito mais no etanol, e agora estamos começando o biodiesel", ressaltou o presidente, em declaração conjunta à imprensa. Apesar de anunciar a parceria entre os dois países, o primeiro-ministro holandês ressaltou que é preciso medir os benefícios e os prejuízos dos biocombustíveis. "Você precisa ter uma combinação em que se pense nas possibilidades dos biocombustíveis, de um lado, mas também levar em consideração os aspectos ecológicos. Essa é a obrigação agora", afirmou Balkenende. Lula compareceu a um encontro em Amsterdã com 15 empresários holandeses, durante o qual negou que a produção de biocombustível esteja disputando terreno com o cultivo de alimentos. O presidente da Confederação da Indústria e dos Empregadores Holandeses (VNO-NCW, em holandês), Bernard Wientjes, disse logo após a reunião que a delegação do país, da qual fez parte a ministra da Economia holandesa, Maria van der Hoeven, ficou "impressionada" pela clareza com a qual Lula respondeu "a perguntas que não eram fáceis". Representantes de oito empresas brasileiras, entre elas a Brasil Ecodiesel e o grupo sucroalcooleiro São Martinho, também compareceram à reunião com empresários holandeses, mas, assim como Lula, não fizeram comentários no final da mesma. O presidente da Maubisa, Maurílio Biagi, disse à Agência Efe na entrada do encontro que os empresários estavam ali "somente para escutar". Wientjes disse que o presidente da República defendeu na reunião que somente uma parte muito pequena dos milhões de hectares usados para a agricultura no Brasil é dedicada a cultivos voltados para a produção de biocombustíveis. Lula concordou com a ministra holandesa sobre a importância de demonstrar a sustentabilidade dos biocombustíveis, motivo pelo qual se mostrou disposto a criar junto com a Holanda um grupo de trabalho bilateral para certificar a origem desse tipo de fonte energética. Brasil e Holanda assinam hoje, antes da viagem de Lula para a República Tcheca, outros acordos bilaterais em diversos campos. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 4)(Agências Brasil e EFE)