Título: Fome generalizada preocupa países ricos
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Fonte: Gazeta Mercantil, 11/04/2008, Internacional, p. A11

Paris, 11 de Abril de 2008 - Os países ricos aumentaram nos últimos dias seus apelos por ajuda aos mais pobres para que enfrentem o aumento dos preços dos alimentos, enquanto a recente onda de protestos contra a fome se generaliza no Haiti. O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, enviou uma mensagem a seu colega japonês, Yasuo Fukuda, para pedir que durante a próxima cúpula dos grupo dos sete países mais industrializados mais a Rússia (G8), que será sediada por seu país em julho, o impacto dos biocombustíveis no preço dos alimentos seja examinado. "O aumento do preço dos alimentos ameaça anular os avanços em matéria de desenvolvimento obtidos nos últimos anos. Pela primeira vez em décadas, o número de pessoas que sofrem com a fome aumenta", alertou Brown na carta. A França está muito "preocupada" com a revolta desencadeada no Haiti e em outros países, declarou ontem a secretária de Estado para os Direitos Humanos Rama Yade, que pediu aos países doadores que "atendam com urgência" o pedido de US$ 500 milhões feito pelo Programa Alimentar Mundial (PAM). "Nós, franceses, estamos muito preocupados com esses motins de fome. É preciso pôr a globalização em seu lugar", declarou Rama Yade. Em uma espécie de resposta a essa preocupações, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em visita à Holanda, negou taxativamente que exista um vínculo entre a alta dos preços dos alimentos e a produção de biocombustíveis. O Brasil é o maior exportador mundial de biocombustíveis com base no etanol e a cana-de-açúcar utilizada para produzi-lo ocupa cada vez mais terras agrícolas do país. Brown também destacou que o G8 deve trabalhar com outros organismos internacionais para desenvolver uma estratégia global a longo prazo para contra-atacar a alta dos alimentos. No Haiti, o presidente René Preval pediu calma depois que o país foi cenário, esta semana, de novos distúrbios provocados por uma súbita alta dos preços dos produtos de primeira necessidade. Desde que começou a crise no Haiti, há uma semana, pelo menos cinco pessoas morreram e cerca de 60 ficaram feridas, segundo um registro de fontes ligadas ao governo. No início de abril, o presidente do Banco Mundial (Bird), Robert Zoellick, havia proposto um "novo contrato" alimentar em nível mundial para enfrentar o aumento dos preços dos produtos agrícolas. Nos últimos meses, vários países africanos também foram sacudidos por revoltas motivadas pela fome, como Mauritânia, Camarões, Costa do Marfim, Burkina Faso e Senegal. "Delineia-se uma crise alimentar mundial, menos visível que a crise do petróleo, mas com o efeito potencial de um verdadeiro maremoto econômico e humanitário na África", advertiu o comissário europeu para o Desenvolvimento, Louis Michel. Os líderes estão submetidos à pressão do aumento dos preço do arroz na Ásia e da multiplicação das greves por aumentos salariais frente à alta do custo de vida. O grande crescimento de economias emergentes como Brasil, China e Índia se soma às más condições meteorológicas em países produtores como a Austrália, assim como à especulação financeira e à demanda por cereais para a produção de biocombustíveis. "O FMI destacou que em um ano houve um aumento de 40% nos preços dos alimentos, com conseqüências desastrosas. No momento em que os países pobres precisam desesperadamente dos países ricos", denunciou a organização humanitária Oxfam internacional. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 12)(AFP)