Título: Eletronuclear criará um novo modelo para comercialização
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Fonte: Gazeta Mercantil, 11/04/2008, Infra-estrutura, p. C4
Rio, 11 de Abril de 2008 - Equacionados os entraves de ordem política e ambiental para a retomada das obras da central termonuclear de Angra 3, a direção da Eletronuclear já começa a discutir mudanças nas regras de comercialização tanto da energia já gerada por Angra 1 e 2, como para a carga prevista para a nova central, que deverá começar a operar em 2014. O presidente da estatal, Othon Luiz Pinheiro, revelou ontem que aguarda só a licença ambiental para iniciar em julho as obras de Angra 3. A licença, que sairá provavelmente no fim deste mês, dependia apenas da realização de audiências públicas sobre o projeto. Pinheiro confirmou que concluiu neste mês a oitava audiência, no Estado de São Paulo. Atualmente, a energia gerada pelas centrais termonucleares do País é comercializada por Furnas Centrais Elétricas, por meio de um contrato firmado com a Eletronuclear na década de 1990. A intenção, de acordo com Pinheiro, é mudar tal critério, por meio de uma discussão, já em curso, com Furnas e o próprio Ministério de Minas e Energia. Embora o executivo tenha evitado detalhar qual a alternativa ao atual modelo, fontes da Eletronuclear admitem a possibilidade de adoção de um sistema semelhante ao usado hoje para a energia de Itaipu Binacional. Por esse sistema, a carga é comprada pela holding Eletrobrás, que a comercializa no Sistema Interligado Nacional por meio de um modelo de cotas rateadas entre as distribuidoras do Sul e Sudeste. "Essa é uma discussão que estamos tendo com Furnas de forma consentida, não-litigiosa", afirmou o presidente da Eletronuclear, que não quis fixar prazo para a definição de um novo modelo de comercialização. Já prevista desde o ano passado, a discussão de um novo modelo consta do artigo 3º da resolução 03/2007, do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). A resolução autorizou, na prática, a retomada das obras de Angra 3, interrompidas no início da década de 90, em conseqüência da paralisação do programa nuclear brasileiro. Tarifa de Angra 1 e 2 Pinheiro admitiu, ainda, o que classificou de desconforto com a atual tarifa de venda da energia de Angra 1 e 2, hoje fixada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) em R$ 120,35 por megawatt/hora (MWh). A tarifa, justificou a Eletronuclear, não inclui todos os custos administrativos da estatal, principalmente com as despesas de manutenção dos equipamentos já comprados para a usina Angra 3. Tais equipamentos, de acordo com a empresa, representariam um custo anual de até R$ 40 milhões. A expectativa da presidência da Eletronuclear é solucionar o problema a partir deste ano, sem impacto para o consumidor, com a retomada das obras da nova central. Ao conseguir autorização para tirar o empreendimento do papel, a estatal poderá começar a negociar o financiamento para construir a usina com bancos nacionais e estrangeiros. A tendência, de acordo com Pinheiro, é que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) financie a parcela de equipamentos nacionais que ainda falta para a usina, enquanto instituições financeiras européias assumam a parcela destinada aos equipamentos estrangeiros. Uma parte do financiamento junto aos bancos estrangeiros também será destinada à amortização dos custos de manutenção dos equipamentos já comprados. De acordo com fontes da empresa, a medida deverá contribuir para desonerar as despesas da empresa sem a necessidade de reajuste da tarifa da energia gerada pelo complexo de Angra ou qualquer impacto para o consumidor final. Projeto interrompido no início dos anos 1990, a usina Angra 3 já consumiu US$ 750 milhões em recursos públicos. Com projeto similar ao da central Angra 2, de autoria da alemã Siemens, a nova usina terá reator de Água Leve Pressurizada (Pressurized Water Reactor) e potência de 1.350 MW. Aproximadamente 60% dos materiais para a construção da usina foram adquiridos junto com os materias comprados para Angra 2. O presidente da Eletronuclear confirmou que uma auditoria concluída no fim do ano passado identificou um custo de R$ 7,3 bilhões para o término da nova usina. (Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 4)(Ricardo Rego Monteiro)