Título: Como o Peru chegou antes do Brasil ao grau de investimento
Autor: Loureiro, Ubirajara
Fonte: Gazeta Mercantil, 14/04/2008, Internacional, p. A13

Rio, 14 de Abril de 2008 - O que o Peru tem, que o Brasil não tem? A pergunta, em tom irônico, tem sido feita, nos últimos dias, a partir da inclusão do país andino na lista de grau de investimento, que reúne um pequeno grupo de nações cujas economias, na visão de algumas agências internacionais, não apresentariam risco de calote. O Brasil, há anos, tenta, em vão, alcançar este status. Em busca das razões desse insucesso brasileiro, e do aparente paradoxo de um pequeno país suplantar um vizinho muito maior aos olhos de agências internacionais, foram ouvidos especialistas em economia e finanças públicas. Nas respostas, um ponto em comum: o Peru fez o dever de casa segundo o receituário da ortodoxia econômica, e conseguiu reduzir o volume da dívida interna diante do Produto Interno Bruto, obtendo sua classificação do como país BBB-. Acima do Brasil, classificado como BB+. Mesmo assim, até especialistas com bagagem suficiente para entender os fundamentos teóricos da classificação dada ao Peru pela Fitch Ratings, como Luiz Roberto Cunha, titular da cátedra de economia na Pontifícia Universidade Católica do Rio, não esconderam a surpresa diante do anúncio. "Realmente, foi um pouco espantoso. Embora o Peru tenha feito ajustes indispensáveis, e apresente uma situação de estabilidade, o Brasil tem fundamentos econômicos muito mais sólidos, não só em energia, com ampla e diversificada capacidade de geração, como também em matérias primas, as ditas commodities, que são a base da atividade econômica no Peru. O país é dependente da exportação de café, açúcar, chumbo, cobre e estanho", diz. O professor Carlos Lessa, ex-presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) atém-se mais a aspectos geopolíticos para explicar o fato: " O Peru hoje é fundamental para os Estados Unidos. Sem o gás peruano, não fecha o balanço energético da Califórnia. Além de tudo, eles devem ter feito concessões colossais para chegar a isto ", fuzila o cepalino Lessa. Este tom crítico não o impede de explicar por que o Brasil não recebe a tal classificação de grau de investimento, que abriria as portas para grandes fundos de pensão americanos, muito exigentes quanto aos parâmetros econômicos dos países em que investem. " Para eles, não interessa se o Brasil tem reservas superiores ao montante da dívida externa", dispara Lessa. "A questão é que a dívida pública interna cresce sem cessar e, na verdade, é quase dívida externa, estimulada por esta bacanal de juros que o Meirelles (Henrique Meirelles, ex-presidente do Bank Boston, hoje presidente do Banco Central) está fazendo. O capital especulativo, o hot money, está correndo para cá, ganhando os tubos com a arbitragem de taxas. Tomam dinheiro barato fora, aplicam aqui com juros três vezes maiores, pelo menos", acrescenta. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 13)()