Título: Criação de normas para evitar crises domina encontro do FMI
Autor: Exman, Fernando
Fonte: Gazeta Mercantil, 14/04/2008, Internacional, p. A16

Washington, 14 de Abril de 2008 - Concluída ontem, a reunião de primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial (Bird) foi marcada pela preocupação com os riscos de inflação e recessão. As causas e os efeitos das turbulências - que deve gerar perdas de aproximadamente US$ 1 trilhão - foram descritos com precisão pelas duas instituições. A discussão sobre os remédios necessários para que a imprudência do mercado financeiro chegue novamente às últimas conseqüências, entretanto, foi tabu. Dirigentes do FMI e do Bird foram cautelosos ao falar de regulação e supervisão. "Estamos vendo as lições da crise. Ainda é cedo para dizer", desconversou sem graça o diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental do Fundo, Anoop Singh, quando perguntado se um aumento da supervisão do mercado financeiro é recomendável. Receosos de que a crise prejudique os ciclos de crescimento econômico dos quais começam a desfrutar, os países em desenvolvimento cobraram soluções. O G-24, grupo de países em desenvolvimento que aproveita os encontros do FMI para se reunir, divulgou comunicado exigindo "ações decisivas" dos países ricos para fortalecer o ambiente regulatório e promover o crescimento global de forma sustentável. Por enquanto, no entanto, o FMI prefere ver as medidas previstas no Acordo de Basiléia implementadas. Reunidos à margem do encontro anual do FMI e do Bird, o G-7, o grupo dos países mais industrializados, levantou a mesma bandeira em comunicado divulgado na sexta-feira. O argumento das autoridades das duas organizações é sensível para as economias emergentes. Relatório do FMI alertou que o excesso de regulação pode gerar um maior aperto de crédito do que a já esperada redução de fluxo de capitais. A escassez de investimentos transnacionais é causada pelo colapso do mercado de financiamento imobiliário de alto risco dos Estados Unidos, o qual já afeta outros países. Mantega: discussão atrasada "Esta discussão está atrasada no FMI, pois o Fundo estava mais preocupado com a sua própria sobrevivência, com seus problemas financeiros e de representatividade", ironizou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, para quem essa discussão sempre é feita em períodos de crise mas é deixada de lado quando há melhoras na conjuntura. "Este é o momento de tomar providências." O ministro concorda que o Acordo de Basiléia é eficaz na supervisão dos bancos. Ressaltou, entretanto, que faltam mecanismos para controlar as operações de outros tipos de instituições financeiras, como fundos de investimentos. "Deve-se ter regras globais para estabelecer limites para a alavancagem de riscos e também instituições para controlar os mercados financeiros." As economias emergentes querem participar do debate. Mantega sublinhou que o ideal é que as soluções surjam em um ambiente multilateral, como o FMI. Diretor-executivo para o Brasil do Banco Mundial e representante nacional no G-24, Rogério Studart ressaltou que o país, por ter reformado seu sistema de regulação durante a crise financeira da década passada, pode contribuir nas discussões e mostrar como criar instrumentos de supervisão e garantir mais transparência ao setor. "A discussão de maior regulação deve ser feita passo a passo. Temos que evitar que essas ações prejudiquem e repercutam de forma desfavorável para os países em desenvolvimento", ressaltou Studart. "Em um primeiro momento, os países desenvolvidos devem ter políticas fiscais e monetárias articuladas. Depois, devemos discutir uma nova arquitetura financeira internacional." O Banco Mundial concorda com a solidez do sistema financeiro latino-americano. Segundo relatório divulgado na sexta-feira pelo organismo, os bancos da América Latina continuam imunes à crise financeira internacional. De acordo com o Bird, as instituições bancárias da região continuam rentáveis e capitalizadas, além de estarem pouco expostas a financiamentos de alto risco. Preocupação imediata Para o diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental do FMI, no entanto, a preocupação imediata deve ser a qualidade dos financiamentos, que são crescentes na América Latina. "Vemos um rápido crescimento do crédito. Historicamente, quando isso acontece a qualidade do crédito piora. Fica difícil distinguir o que é crédito bom e o que é ruim", destacou Singh. "Vemos um mini-boom." O representante do Brasil no Banco Mundial rebate. Para Studart, o crescimento sustentável da economia evitará o surgimento de eventuais dificuldades. "Não haverá problemas de qualidade, pois a renda e o emprego estão acompanhando o crescimento do crédito", argumentou. "Nos Estados Unidos, ocorreu um boom de créditos com garantias muito frágeis. Eram operações insustentáveis." Recentemente, o ministro da Fazenda levantou a possibilidade de reduzir a oferta de crédito do país. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 16)(