Título: Sistema financeiro deve liberar R$ 80 bi para a compra de carros
Autor: Nascimento, Iolanda
Fonte: Gazeta Mercantil, 15/04/2008, Finanças, p. B1

São Paulo, 15 de Abril de 2008 - Os prazos alongados e a maior oferta de crédito vão continuar a seduzir este ano os consumidores interessados em comprar um automóveis a prazo. As instituições financeiras devem liberar em 2008 R$ 13,3 bilhões a mais que no ano passado às pessoas físicas para o financiamento de veículos, conforme projeções da Anef (Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras). O total de recursos disponíveis para a compra parcelada de automóveis somente na modalidade de crédito direto ao consumidor (CDC) deverá chegar a R$ 80 bilhões ao final deste ano, se considerado o maior patamar de aumento estimado para 2008, entre 15% e 20%, em comparação aos R$ 66,7 bilhões de novas concessões de crédito para operações com juros prefixados do ano passado. Em 2006, o montante atingiu R$ 52,1 bilhões. No primeiro bimestre deste ano, as instituições financeiras já disponibilizaram R$ 9,88 bilhões, valor 6,7% superior em relação ao mesmo intervalo de 2007. Com esse volume de recursos, o presidente da Anef, Luiz Montenegro, acredita que o saldo total de crédito para aquisição de automóveis, incluindo leasing, tenha um adicional de cerca de R$ 22 bilhões e a carteira se aproxime de R$ 133 bilhões ao final deste ano, também uma alta de 15% a 20% sobre os R$ 110,7 bilhões de 2007, montante que por sua vez cresceu 43,5% quando comparado aos R$ 77,1 bilhões do ano anterior, segundo levantamento do BC (Banco Central). Do total de 2007, R$ 81,6 bilhões foram provenientes de operações de CDC e R$ 29,1 bilhões, de leasing. No primeiro bimestre deste ano, o saldo de CDC e leasing chegou a R$ 116,8 bilhões, crescimento de 44,9% ante igual fase de 2007 e o equivalente a 35,4% do total de crédito destinado às pessoas físicas pelo Sistema Financeiro Nacional, informou a Anef. A carteira de CDC ficou em R$ 83 bilhões no período, alta de 27,1%. Esses resultados mostram que o financiamento de veículos é hoje a principal carteira de todos os bancos que trabalham no País com crédito à pessoa física. Montenegro disse que baseia as expectativas de crescimento nas projeções da indústria automobilística, que prevê forte crescimento nas vendas este ano também; na disponibilidade de crédito do sistema financeiro; e na evolução da política econômica brasileira. "O mercado cresce muito atrelado à produção e à oferta de carros. A Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) prevê vendas 17% maiores em 2008 e sobre um crescimento já histórico que foi o do ano passado, de 28%", afirma Montenegro. No Brasil, mais de 70% das vendas totais de veículos são financiadas. Nos bancos HSBC e GMAC, as estimativas são de crescimento. O HSBC fechou 2007 com uma carteira de financiamento de automóveis para pessoa física beirando os US$ 4,5 bilhões, 48% superior ao saldo do ano anterior, e espera finalizar 2008 com crescimento ao redor de 35% a 40%, conforme a previsão do diretor de financiamento de automóveis do banco, Sérgio Cipovicci. "Com a maior oferta de veículos e demanda de financiamento, a carteira, não só a do HSBC como a de todos os bancos, só tende a crescer", diz Cipovicci, observando também que o alongamento dos prazos, que na média está em 42 meses, segundo a Anef, também favorece o aumento do saldo total. O GMAC, banco que administra os serviços financeiros oferecidos à rede de concessionárias Chevrolet e à General Motors Brasil, trabalha com uma perspectiva de alta semelhante à da indústria automobilística. O diretor comercial do GMAC, Gunna Murillo, afirma que entre leasing, CDC e consórcio, a oferta de crédito do banco cresceu 26% no ano passado, e a carteira passou a R$ 3,19 bilhões. Os clientes ativos chegaram a 240 mil em 2007 e a tendência, diz Murillo, é de aumento. "Deve crescer na mesma proporção da carteira, em torno de 15%", conta o executivo. O HSBC tem hoje 450 mil clientes nessa carteira e Cipovicci avalia que haverá um crescimento natural desse número, para entre 500 mil e 550 mil ao final deste ano e 600 mil em 2009. "Somos um dos bancos de varejo mais novos no mercado de financiamento de veículos (atua há cerca de dez anos) e esse aumento, é claro, vai depender também da expansão da rede." Inadimplência Nesse céu de brigadeiro, contudo, começam a se formar algumas nuvens, apesar de ainda raras. A inadimplência, que hoje está em níveis administráveis, segundo os executivos, preocupa, especialmente os analistas de mercado. Celso Mugnela, executivo comercial para a área de finanças do SAS, consultoria em serviços financeiros, diz que ainda está havendo uma "festa" na oferta e prazos para esse mercado, que pode chegar a 84 meses. "E como toda a festa, vai ter um fim. Além de haver risco de aumento da inadimplência, as carteiras estão muito securitizadas e podemos ter uma bolha parecida com a dos Estados Unidos (subprime)", afirmou, ressaltando que as empresas também estão começando a precificar melhor. Atualmente, o spread está um pouco acima de 18 pontos percentuais (p.p.) ao ano, para taxas de juros de 31,2%. No ano, as taxas cresceram 2,4 p.p. e o spread, 2,3 p.p. O percentual de inadimplência (acima de 90 dias) ficou em 3,2% do saldo total ao final de fevereiro, taxa parecida com a média mensal de 2007, conforme dados do BC. As parcelas com atraso de 15 a 90 dias responderam por 6,9% do total do saldo em fevereiro, também percentual similar à média do ano passado. Quando consideradas as operações de financiamento à pessoa física para aquisição de outros tipos de bens, a pesquisa do BC mostra que a inadimplência está em 12,4%, e os pagamentos em atraso de 15 até 90 dias, em 10,2%. Segundo Mugnela, a taxa de recuperação de veículos em casos de inadimplência está em torno de 85%. Para o presidente da Anef, a taxa de inadimplência não é a ideal, mas é uma das mais baixas que a carteira já teve e não sinaliza qualquer risco. Já o diretor do HSBC, Sérgio Cipovicci, diz que a empresa toma todos os cuidados possíveis. Entretanto, ele afirma que financiamentos de longo prazo sempre estão sujeitos às turbulências macroeconômicas, internas e externas. "Nós não somos uma ilha." Um dos grandes problemas do Brasil, na avaliação do executivo, é a falta de um cadastro positivo. Montenegro avalia que o humor do tomador de empréstimo, em relação à segurança na manutenção de emprego e renda, que pode ser causada, por exemplo, pela possibilidade de reflexo da crise norte-americana no Brasil, é o que pode atrapalhar um pouco a dinâmica desse mercado. "O setor financeiro não tem problema de liquidez e o povo brasileiro gosta de pagar suas contas. Outros riscos de retração seriam a inflação, que corrói a renda, e o desemprego, que pode ser conseqüência da inflação, e pode reduzir a atividade econômica. Seriam riscos macro, mas não há sinalização disso também, pelo contrário", observa o executivo.(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)()