Título: Ciclo de alta da Selic impede maior expansão do PIB no ano
Autor: Saito, Ana Carolina
Fonte: Gazeta Mercantil, 16/04/2008, Nacional, p. A4

São Paulo, 16 de Abril de 2008 - O início de um ciclo de aumentos da taxa básica de juros, como o mercado espera hoje, afetará negativamente o desempenho da economia brasileira neste ano segundo a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Os bons resultados do setor no primeiro trimestre podem levar a entidade a elevar, neste mês, a projeção de crescimento do PIB em 2008, atualmente em 4,8%. No entanto, a avaliação é de que a expansão poderia ser ainda maior, sem a rodada de alta da Selic. O Comitê de Política Monetária (Copom) anuncia hoje sua decisão após o fechamento do mercado. A previsão contida no Focus é de elevação da Selic, hoje em 11,25% ao ano, em 0,25 ponto percentual. "Essa alta não será responsável por grandes alterações, mas sabemos que não será só um aumento. É o início de um processo", afirma o diretor departamento de pesquisas econômicas da Fiesp, Paulo Francini. Para o consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Julio Gomes de Almeida, dois fatores contribuem para que a economia cresça menos neste ano em com comparação com 2007, quando o PIB apresentou expansão de 5,4%. "O primeiro é a política de juros. A segunda, a crise americana. E esses dois fatores ainda estão se desenvolvendo. Não sabemos hoje qual será o tamanho da crise e do aumento da Selic", comenta do economista. Na avaliação de Francini e Gomes de Almeida, com a alta dos juros, a tendência é de uma maior valorização cambial, o que poderia reduzir mais ainda o saldo comercial. "A menos que a crise internacional compense esse valorização", diz o consultor do Iedi. O aperto monetário pode também provocar uma desaceleração nos investimentos, avaliam. "O ciclo de alta da taxa de juros vai mexer com a intenção dos empresários. Quem vai investir com essa força para segurar a demanda? É um banho de água fria", afirma o diretor da Fiesp. Francini ressalta que a demanda interna não está tão aquecida a ponto de colocar em risco o curso da inflação. "A alta dos preços da indústria está bem abaixo da inflação. A pressão está nos produtos agrícolas e petróleo, que não vão dar bola para o aumento da Selic. A alta só vai servir para reduzir esse ciclo virtuoso de crescimento a troco de nada", diz. Segundo o diretor da Fiesp, os bens intermediários representam 60% da pauta de importação brasileira e apenas 12% são produtos de consumo. No primeiro trimestre deste ano, a indústria paulista criou 65 mil vagas, 8 mil empregos a mais em relação ao mesmo período do ano passado. Do total, 67% dos empregos foram gerados pelo setor de açúcar e álcool, segundo pesquisa divulgada ontem pela Fiesp. "O emprego está melhor neste ano", comenta Francini. Só em março a indústria abriu 28 mil vagas, expansão de 1,29%, sem ajuste sazonal. Segundo a Fiesp, esse é o melhor resultado para o mês desde da nova série histórica iniciada em 2003. Com ajuste sazonal, a expansão ficou em 1,05%. Nos últimos doze meses, o nível de emprego de avançou 5,11%, com a criação de 109 mil vagas. Das 36 diretorias pesquisadas, 27 registraram expansão no nível emprego em março e nove apresentaram diminuição de vagas. Sertãozinho apresentou a maior variação positiva, 11,42%. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 4)()