Título: Crise mundial e inflação não reduzem apetite do consumidor
Autor: França, Anna Lúcia
Fonte: Gazeta Mercantil, 16/04/2008, Nacional, p. A5

São Paulo, 16 de Abril de 2008 - Ignorando completamente a crise norte-americana e a preocupação do governo com o aumento da inflação, os brasileiros continuam comprando. E gastam cada vez mais. Enquanto o Índice de Fluxo do Varejo (IFV), que mede a circulação de pessoas nas lojas, mostra um crescimento de 7,8% em fevereiro deste ano comparado a igual período de 2007, a Pesquisa Mensal do Comércio - divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - indica um aumento de 12,2% no volume de vendas efetivas do comércio varejista. "Isso mostra que as pessoas que entram nas lojas não só estão efetivando as compras como também estão gastando mais em cada uma delas", explica o economista-chefe da Gouvêa de Souza, Cesar Fukushima. Para ele, as quedas das vendas registrada pelo IBGE em fevereiro, de 1,5% no volume e de 1,4% na receita nominal, depois de três meses de alta, só indicam um movimento de acomodação do comércio varejista. "Apesar disso, a demanda continua aquecida, porque o aumento da massa salarial e a expansão do crédito também continuam firmes", afirma o economista. Mesmo com aumento dos juros, Fukushima acredita que não haverá retração da demanda. "Se houver aumento, será de meio por cento, o que não muda de forma drástica a tendência", diz. Para o economista, a elevação da Selic repetirá a mesma história do aumento do IOF, que se diluiu nas prestações. O que conta mesmo, segundo ele, é a ampliação do crédito, que em 2006 cresceu 29%, em 2007 subiu 23,1% e em 2008 deve totalizar alta de 24%. "Isso dará sustentação para que o comércio cresça 8,5% neste ano, ante os 9,7% registrados no ano passado", diz o economista da Gouvêa de Souza. O prazo é outro ponto fundamental nessa expansão. Enquanto em fevereiro de 2007 as pessoas levavam 12,5 meses para pagar por um produto, em fevereiro deste ano já chegava a 14,9 meses. "O alongamento do prazo e do crédito são determinantes para as vendas", afirma. O próprio IBGE mostra ainda que o resultado de fevereiro significa uma acomodação das taxas, depois das significativas expansões de vendas em janeiro, de 2,2% em volume e de 2,6% na receita nominal. Das 10 atividades pesquisadas, apenas três registraram taxas negativas em comparação a janeiro: tecidos, vestuário e calçados (¿4,0%), hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-3,9%); e artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (¿2,8%). Com taxas positivas ficaram os itens equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (12,4%), veículos e motos, partes e peças (5,2%). Material de construção continua com demanda firme, subindo 3,6% e livros, jornais, revistas e papelaria subiram 2,7%. Para Fukushima, isso reflete claramente o aumento do poder de compra das classes C, D e E. "Muitos estão comprando, construindo ou reformando suas casas e também buscam mais por informação". Em seguida, vem móveis e eletrodomésticos, com alta de 1,8% também pelo mesmo motivo. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 5)()