Título: Em Minas, Lula cumpre agenda com estrutura de campanha
Autor: Guimarães, Durval
Fonte: Gazeta Mercantil, 18/04/2008, Politica, p. A9

Belo Horizonte, 18 de Abril de 2008 - Com o pescoço imobilizado por causa de um torcicolo , o presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, fez uma visita de oito horas a Belo Horizonte, onde vistoriou obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e até assentou tijolos em casas populares na periferia da cidade. O presidente fez dois pronunciamentos onde reafirmou a "opção preferencial pelos pobres nos gastos do seu governo", mas não poderá ser acusado de fazer campanha eleitoral local, já que ainda não existem nomes para a sucessão na capital mineira. O que existe até agora é uma enorme discussão entre dirigentes do seu partido, por causa da decisão da corrente majoritária no município, liderada pelo prefeito Fernando Pimentel, em formar uma aliança com o PSDB. O seu candidato é o ex-guerrilheiro Márcio de Araújo Lacerda (PSB), que já foi aprovado pelo diretório municipal mas será avaliado pela diretório nacional no próximo dia 23. Lacerda, hoje empresário e também secretário estadual de Desenvolvimento Econômico é também apoiado pelo governador Aécio Neves, numa coalizão que surpreende o mundo político. Um dia antes da visita à capital mineira do presidente Lula, os deputados estaduais Durval Ângelo e André Quintão, ambos do PT foram protagonistas de um constrangedor bate boca na tribuna da Assembléia Legislativa onde revelaram intimidades sombrias da agremiação e se acusaram mutuamente de infiéis ao partido. Ângelo, que é aliado de Pimentel, defende a aliança condenada por Quintão, que foi secretário particular do ministro Patrus Ananias, do Combate à Fome, quando este foi prefeito de Belo Horizonte. A corrente do ministro condena a aliança, que foi vitoriosa numa reunião do diretório municipal realizada na semana passada, com um maioria tão esmagadora que sequer houve necessidade de contagem de votos. Curiosamente, em 1992, quando era prefeito, Patrus patrocinou uma chapa para sua sucessão que tinha como candidato o médico Célio de Castro, que era do PSB e o vice do seu partido. Exatamente como ocorre agora, para sua contrariedade. O presidente Lula se deparou também com um ambiente de angústia predominante no grande número de políticos que participaram dos eventos. A maioria ainda está sob o impacto da prisão de 17 prefeitos, de todos os partidos, acusados pela Justiça Federal de se apropriar de dinheiro do INSS. O governador Aécio Neves não compareceu à recepção ao presidente, pois se encontra nos Estados Unidos. Mas certamente se ausentaria caso estivesse em Belo Horizonte, pois nunca mais compartilhou de eventos com Lula desde que foi vaiado por militantes do Partido dos Trabalhadores, em Uberlândia. As inúmeras e sucessivas viagens do presidente mostram claramente objetivos promocionais, com a presença de uma infra-estrutura e organização típicas de campanha, o que se repetiu em Belo Horizonte e que, no caso, teve a aparente utilidade de manter a elevada popularidade do seu governo. Em seu pronunciamento em Ribeirão das Neves, cidade próxima a Belo Horizonte, o presidente reafirmou que não é candidato ao terceiro mandato e que a ministra Dilma Roussef, ao seu lado, "não é apenas a mãe, mas também a avó e a tia do PAC". Em seu discurso, a ministra, por sua vez, acabou por cometer a imprudência de chamar o evento de comício. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 9)()