Título: Raposa Serra do Sol catalisa os debates no Clube Militar
Autor: Botelho, Guilherme
Fonte: Gazeta Mercantil, 22/04/2008, Nacional, p. A4

Rio, 22 de Abril de 2008 - A polêmica em torno da demarcação contínua da reserva indígena Raposa Serra do Sol, no Estado de Roraima, continuou, sexta-feira, como catalisador dos debates durante o último dia do seminário "Brasil, ameaças à sua soberania", organizado pelo Clube Militar do Rio de Janeiro. O empresário Jairo Cândido, diretor do departamento voltado para o setor de Defesa da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), manifestou apoio às posições defendidas pelo comandante militar da Amazônia, general Augusto Heleno. Quarta-feira, em sua palestra no seminário, o general afirmara que o desenvolvimento da Amazônia "acontecerá alheio à vontade do governo ou de qualquer outra força. O que queremos é que ele seja feito de forma sustentável". "Falando em nome da indústria, confirmo absolutamente as palavras de Augusto Heleno", afirmou o representante da Fiesp. "Acho que a verdade às vezes dói. Odeio essa diferença entre sociedade civil e sociedade militar. Somos todos sociedade brasileira. Se o presidente não gostar do que eu falo, o problema é dele", acrescentou o empresário Jairo Cândido. Ele também criticou a demarcação contínua da reserva indígena Raposa Serra do Sol: "Realmente, essa demarcação em faixa de fronteira é um absurdo. Quem já foi lá, de um certo ponto para cima sabe que não há floresta, é só cerrado. Vamos proteger cerrado? Jairo Cândido ainda citou alguns exemplos para reforçar sua postura, como o fato de um estrada federal fechar durante a noite, para não atrapalhar a população indígena. Ele também criticou a forma como o presidente Lula tratou o general Heleno. "Não se chama a atenção de um oficial do Exército dessa maneira." Para ele, é importante que se discuta a questão com toda a sociedade brasileira. O tema em debate no dia era o poder dissuasório das Forças Armadas brasileiras. O primeiro palestrante foi o almirante Marcos Martins Torres, que se absteve de comentar a nota oficial publicada pelo presidente do Clube Militar. Em sua apresentação, o almirante avaliou que o atual orçamento das Forças Armadas "não atende às nossas necessidades". "Na América do Sul, temos condições de dissuadir. Já em questões que envolvam a disputa por água doce ou petróleo, com grandes potências, estamos desenvolvendo alternativas", acrescentou. Segundo palestrante do dia, o professor Expedito Carlos Stephani Bastos, da Universidade Federal de Juiz de Fora, ressaltou o fato de o Brasil não ter desenvolvido ainda uma visão estratégica que oriente sua política de Defesa. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 4)()