Título: Empresas terão de recuperar produção perdida com a greve
Autor: Assis, Jaime Soares de
Fonte: Gazeta Mercantil, 22/04/2008, Nacional, p. A5

São Paulo, 22 de Abril de 2008 - As empresas devem continuar contabilizando prejuízos, mesmo após o fim da greve dos auditores da Receita Federal, quando isso acontecer, uma vez que eles decidiram na sexta-feira manter a paralisação. As perdas incluem gastos com logística, armazenamento do grande volume que será liberado das aduanas de uma vez e pagamento de horas extras para compensar a queda de produção. As indústrias de produtos eletroeletrônicos deverão enfrentar dificuldades de armazenagem e de falta de pessoal quando a greve dos for encerrada. Segundo Lourival Kiçula, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), o volume de componentes represados nos portos e aeroportos supera a capacidade de estocagem e as empresas terão de suspender as férias remuneradas dos funcionários e começar, em seguida, a pagar horas extras para retomar o fluxo de produção. "As fábricas não estão preparadas para receber volumes acima do previsto", comenta Kiçula. O setor estima ter US$ 350 milhões em insumos retidos por conta da paralisação dos auditores. Os custos da retomada serão acrescidos de uma corrida contra o tempo para fabricar, abastecer os centros de distribuição do varejo para atender a demanda comércio no Dia das Mães, responsável pelo segundo melhor resultado de vendas da industria no ano, superado somente pelo Natal. "Os prazos estão apertados", comenta Kiçula. O setor de eletroeletrônicos fatura cerca de US$ 25 bilhões por ano. Com a greve na Receita Federal, pelo menos US$ 1 bilhão em produtos deixaram de ser fabricados e vendidos. "Teremos de nos reorganizar e diminuir a produção futura", segundo o presidente do Eletros. Com a perda dos prazos de entrega para atender aos consumidores em um período de vendas altas, as empresas terão de "torcer para que o varejo aceite os pedidos".. Não devem faltar produtos para o Dia das Mães, mas os preços podem subir de 10% a 12% nos preços. "Com certeza, a oferta será menor que a demanda no período", diz o presidente do Sindicato das Indústrias de Aparelhos Elétricos, Eletrônicos e Similares do Amazonas (Sinaees), Wilson Périco. Nos cálculos da entidade, os prejuízos para o Pólo Industrial de Manaus atingiram R$ 1 bilhão até a última sexta-feira, quando a greve completou um mês. Segundo Périco, cerca de 4 mil empregos deixaram de ser gerados no período, entre vagas temporárias para atender os pedidos para o Dia das Mães e novas contratações. Até sexta-feira, 18 empresas continuavam com linhas de produção paradas por falta de insumos. O valor das mercadorias aguardando liberação somava US$ 170 milhões. "Sete mil trabalhadores em licença remunerada ou sem nada para fazer nas fábricas", diz. O movimento dos auditores se tornou uma greve sem parâmetros, na avaliação da tributarista Paula Bove, do escritório Correia da Silva Advogados. Os portos estão abarrotados, perto de sua lotação máxima, os navios que chegam à costa brasileira tem dificuldades nas atividades de carga e descarga e não se sabe exatamente se a manutenção do mínimo de 30% de pessoal está sendo observado, comenta Bove, que teve decisão favorável ao seu mandado de segurança em favor da Associação Brasileira dos Revendedores e Importadores de Insumos Farmacêuticos (Abrifar). A liminar concedida à Abrifar permitirá a liberação dos produtos retidos nos aeroportos de Cumbica, de Guarulhos e Viracopos (SP). A Justiça entendeu que a falta de insumos afeta a produção e deve causar a falta de remédios nas farmácias, com risco para a população. As empresas associadas à Abrifar fornecem matérias primas e produtos acabados para indústrias e laboratórios farmacêuticos e órgãos públicos como a Fundação para o Remédio Popular (Furp), laboratório farmacêutico do governo do estado de São Paulo, instalado em Guarulhos (SP). No encontro realizado com o ministro da Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, na semana passada, a Eletros solicitou o uso do pessoal da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) para a liberação dos portos e aeroportos. De acordo com Kiçula, o ministro prometeu que irá conversar com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, para discutir isso. O mercado permanece aquecido, segundo Kiçula. As dificuldades das empresas em exportar deve levar a um reordenamento de pedidos no exterior. Mesmo com o dólar desvalorizado em relação ao real, os contratos são mantidos. Os atrasos nas entregas, no entanto, podem criar "oportunidade dos clientes analisarem uma eventual oferta de outro fornecedor", diz. Em meio a greve prolongada dos auditores, a elevação da Selic para 11,75% altera o comportamento do consumidor. Para Kiçula, quando houve o aumento da taxa de juros, mesmo que não haja impacto significativo em um primeiro momento, os consumidores decidirão esperar. "A decisão do Copom foi um equívoco", diz (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 5)(- Colaborou Ana Carolina Saito)