Título: Em Curitiba, partidos se unem contra Richa
Autor: Staviski, Norberto
Fonte: Gazeta Mercantil, 22/04/2008, Politica, p. A8

Curitiba, 22 de Abril de 2008 - No início de março, durante uma visita a Curitiba, o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, que é do PMDB local, provocou enorme alvoroço na cidade ao declarar que o seu partido "não tem estrutura e organização para enfrentar a eleição municipal e que o prefeito Beto Richa (PSDB) é um candidato imbatível". De fato, à primeira vista, a eleição em Curitiba parece estar definida e nem chegaria a um segundo turno se levado em conta a pesquisa de intenção de voto realizada pelo Datafolha em dezembro do ano passado, onde ele aparece disparado na frente das preferências. O tucano mantém uma imagem forte, baseada numa propaganda constante, alicerçada em elevados gastos em comunicação mesmo sem ter criado ou realizado intervenções importantes na cidade. O prefeito tem ganhado pontos junto ao eleitorado da classe média da cidade justamente por manter, sem contestar, todo o mobiliário urbano e sistemas criados nas três criativas gestões do ex-prefeito Jaime Lerner. Contra o prefeito, já definida como candidata do PT, aparece Gleisi Hoffman, mulher do Ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. Ainda sem um apoio de "palanque" do governo Lula, ela aparece em segundo lugar nas pesquisas, mas muito longe de Beto Richa. A terceira maior força na eleição curitibana não é exatamente um candidato, mas o seu padrinho o governador do estado, Roberto Requião, do PMDB. Alvo de seus adversários, Richa não pode esquecer que do outro lado da trincheira está Requião, um especialista na desconstrução de imagens. Na eleição de 2004, Requião apoiou o PT e perdeu. Desta vez o PMDB decidiu lançar candidatura própria, mas o seu indicado, o reitor da Universidade Federal do Paraná, Carlos Augusto Moreira Júnior não possui experiência política e faz questão de declarar que esta é uma de suas grandes vantagens: não ser originário do caciquismo local onde a prefeitura é dominada pelo mesmo grupo há 30 anos. Se certo ou errado, o reitor aparecia em último lugar na pesquisa de intenção de volta do Datafolha. Até aqui, as estratégias parecem bem definidas. A campanha de Beto Richa está centrada em consolidar sua popularidade por causa da folgada dianteira na corrida eleitoral. À oposição resta construir uma estratégia eleitoral que leve a eleição para o segundo turno para então se unir contra o candidato do PSDB. O lançamento da candidatura do reitor da UFPR por Requião parece ter este fim. Praticamente desconhecido do eleitorado, Moreira Júnior é nacionalmente respeitado como oftalmologista que, inclusive, resolveu um problema de visão do governador e com ele divide o gosto por cavalgadas. A candidatura do reitor estaria na base da estratégia multiplicar as candidaturas para tirar votos da situação e levar as eleições para o segundo turno. Só assim haveria então o verdadeiro confronto entre Gleisi Hoffman, apoiada pelo PMDB de Requião, e Beto Richa. Beto Richa já garantiu ao seu lado o PDT, do senador Osmar Dias a quem apoiou nas eleições para o governo do estado. Ratinho Júnior, pelo PSC, tem o pai, o apresentador Carlos Massa - o Ratinho do SBT -, como grande eleitor. Já Fábio Camargo, pelo PTB, Ricardo Gomyde, pelo PCdoB, Osmar Bertoldi, pelo Democratas, Carlos Simões, do PTB e Rubens Bueno, do PPS, devem cumprir o papel de figurantes, destinados a não permitir que Richa supere a barreira dos 50% dos votos e vença já no primeiro turno da eleição de outubro. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 8)()