Título: Preço de Itaipu será mantido, diz Lobão
Autor: Severo, Rivadavia
Fonte: Gazeta Mercantil, 23/04/2008, Nacional, p. A4

Brasília, 23 de Abril de 2008 - O Ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse, ontem, que o Brasil não pensa em reajustar a tarifa da energia de Itaipu, como quer o presidente paraguaio, Fernando Lugo, eleito no último domingo. Lobão falou a jornalistas que o ministério entende como justa a tarifa cobrada pela energia gerada em Itaipu que o Paraguai não utiliza e vende para o Brasil. A postura brasileira sobre o pedido de redução de preço paraguaia ficou confusa, porque o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, disse, na segunda-feira, em Gana, que havia um tratado e ele iria se manter. Logo depois, o chanceler Celso Amorim declarou que iria discutir com o Paraguai como obter uma remuneração adequada para a sua energia. "Isso é justo", avaliou Amorim.. Lobão descartou que o governo tome qualquer medida que possa implicar em aumento do preço de energia no País. O governo está preocupado com a retomada da inflação e a energia de Itaipu responde por 19% do consumo energético do Brasil. Preço de Santo Antônio Segundo o ministro, o preço da energia de Itaipu equivale ao da usina de Santo Antônio, que foi de R$ 78,9 por megawatt/hora (MWh), portanto, justo. "Não tem porque haver crise entre os dois países. Esse assunto não tem potencial de gerar crise com o Paraguai. Itaipu surgiu para remover um contencioso de fronteiras com o Paraguai e resultou em benefícios para os dois países", declarou Lobão. A discussão sobre a revisão do valor pago pelo Brasil para o Paraguai pela energia gerada em Itaipu começou com a promessa de campanha de Lugo de rever o preço do megawatt-hora da hidrelétrica. Essa foi a principal bandeira que o ex-bispo católico, da frente Aliança Patriótica para a Mudança - uma coalizão de nove partidos de diversos espectros ideológicos - usou para derrotar a candidata Blanca Avelar da Associação Nacional Republicana (ANR), mais conhecida como Partido Colorado, nas eleições gerais do Paraguai neste domingo, depois de 61 anos de hegemonia dos colorados. Logo depois de eleito, Lugo moderou o tom de seu discurso de campanha e disse que pretende "esgotar todos os canais de negociação possíveis", antes de tomar uma atitude, mas afirmou que não pretende esperar até o fim do Tratado de Itaipu que expira em 2023, para rever os preços da energia que seu país não usa e vende ao Brasil. Criação de grupo técnico A proposta de Lugo é a de criar um grupo técnico para discutir o assunto. Conforme declarações do futuro presidente paraguaio a jornais, na segunda-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria aceitado debater o assunto tecnicamente. O Tratado prevê que o excedente energético de um dos sócios seja vendido para o outro. Itaipu tem potência instalada de 14 mil megawatts (MW) de energia, a maior hidrelétrica em atividade no planeta. A produção é dividida pela metade entre os dois países (ver matéria abaixo). Uma das possibilidades aventadas por Amorim para contornar a situação é que o Brasil invista em transmissão de energia no país vizinho. O Paraguai, apesar de ser sócio de Itaipu, tem dificuldades no setor energético, porque sua rede de transmissão é precária. Investimento da Eletrobrás A recente liberação para que a Eletrobrás possa investir fora do País, pode fazer parte dessa estratégia de Brasília na negociação com Assunção. A estatal elétrica brasileira poderia investir na área de transmissão de energia no Paraguai, como compensação de um eventual aumento do valor pago pelo Brasil ao Paraguai pela energia de Itaipu. O Ministro Lobão, já havia aventado a possibilidade de investir em transmissão de energia em países vizinhos, entre eles o Paraguai, logo depois que a lei que proibia a Eletrobrás de investir fora do País foi alterada. Ontem, Lobão informou que o Brasil está dando apoio técnico ao Paraguai em uma consultoria de projetos para a construção de uma grande linha ligando Itaipu a Assunção. O próprio Amorim comentou essa possibilidade em Acra, capital de Gana, antes de embarcar para o Brasil. Proteção ao consumidor O que é certo é que uma eventual revisão do Tratado de Itaipu vai acabar batendo no bolso dos consumidores do Brasil, o que o governo brasileiro não quer nem ouvir falar. Itaipu distribui energia para as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do País. O tamanho desse impacto vai depender de como será feita a negociação com o país vizinho, em caso das tarifas serem revistas, afirmam os especialistas. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 4)()