Título: Samek Brasil não negocia o Tratado
Autor: Staviski, Norberto
Fonte: Gazeta Mercantil, 23/04/2008, Nacional, p. A5

Curitiba, 23 de Abril de 2008 - A posição do governo brasileiro é de não mexer no Tratado de Itaipu porque ele está funcionando muito bem dentro da proposta para o qual foi criado: viabilizar a usina e ela se autopagar. A proposta é a de desenvolver o Paraguai, auxiliando na construção de uma nova linha de transmissão de 500 kilowatts (KV) cujo projeto fica será concluído em maio e elimina o problema de congestionamento no fornecimento de energia para Assunção - hoje há uma linha de 220 KV -- e que vai permitir o desenvolvimento industrial da região. Outro ponto é resolver o problema dos sacoleiros brasileiros que atuam na fronteira transformando-os em microempresários através de medida provisória já aprovada e uma terceira situação é alavancar o desenvolvimento industrial do agronegócio para que o Paraguai processe sua crescente produção agrícola. "Tenho certeza que é essa a posição que o presidente Lula vai defender quando receber a visita do novo presidente paraguaio, além de cumprimentá-lo pela demonstração de maturidade democrática que o país deu. O resto é imaginação", disse ontem o diretor geral brasileiro da Itaipu Binacional, Jorge Miguel Samek. O ex-bispo e candidato de esquerda, Fernando Lugo, ganhou as eleições presidenciais no Paraguai no domingo passado, com 39,2% dos votos e, segundo o diretor de Itaipu, "já temos motivos para otimismo com o novo presidente porque ele propôs a criação de uma comissão técnica para avaliar o quanto o Paraguai está recebendo pela energia que vende ao Brasil. Os números serão colocados na mesa e a situação se resolverá", afirmou. O problema, para Samek, é que na campanha foi construído todo um discurso dizendo que Itaipu é a fonte de todos os males do Paraguai. "Como pode uma usina tão rica conviver com um povo tão miserável. A resposta era que o Brasil só pagava US$ 2,80 dólares o megawwat-hora (MWh) da energia que comprava do Paraguai. Ora, isso não é verdade. Este valor é apenas o plus que se paga ao Paraguai pelo fato de vender sua energia excedente ao Brasil. O preço real é US$ 45,31 o MWh, o que está dentro dos valores de mercado e é um preço justo", disse ele. Para Jorge Miguel Samek "um tratado só se altera numa situação de uma grande catástrofe, se um país quebrar ou se houver seca cinco anos seguidos e a usina não consiga produzir o suficiente para se pagar. Alterar o Tratado de Itaipu vai prejudicar o Paraguai que não conseguirá credibilidade no mercado internacional para promover o desenvolvimento que precisa apesar de ter energia sobrando", argumenta. Dos 92 milhões de MWh que Itaipu produz anualmente o Paraguai só consome 8 milhões de MWh. Com isso, a usina é responsável, sozinha, por 20% do abastecimento de energia no Brasil. Segundo o diretor geral brasileiro, o Tratado de Itaipu deu tão bons resultados que atualmente está servindo de modelo para a construção de usinas em outras áreas de fronteiras como entre El Salvador e Honduras e em alguns países africanos. Entre 1987 e 2007, o Paraguai recebeu de Itaipu US$ 4,5 bilhões e acabou tendo a co-propriedade de um empreendimento avaliado hoje em U$ 60 bilhões, ou o equivalente a seis vezes o PIB paraguaio. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 5)()