Título: Cartel dos maiores produtores poderá sair do papel em breve
Autor:
Fonte: Gazeta Mercantil, 23/04/2008, Infra-estrutura, p. C7

Roma, 23 de Abril de 2008 - A idéia de um cartel de gás natural baseado no modelo da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) poderá se concretizar nos próximos meses, no momento em que os países produtores negam querer um consenso sobre os preços para não inquietar os países consumidores. Os países exportadores de gás natural dispõem atualmente de uma estrutura informal de diálogo, o Fórum dos Países Exportadores de Gás (FPEG). Fundado em 2001, esse fórum reagrupa cerca de quinze países ricos em gás natural, entre eles Irã, Rússia, Catar, Venezuela e Argélia, que controlam 73% das reservas mundiais, e 42% da produção. "Existe a vontade" desses Estados de "ter algo mais concreto" que o Fórum dos Países Exportadores de Gás , disse ontem um membro da delegação iraniana, Javad Yarjani, à margem do Fórum Internacional de Energia realizada em Roma, que reuniu países produtores e consumidores de petróleo. Petróleo versus gás "Nos próximos 20 anos, a proporção de petróleo (nas energias fósseis) se reduzirá, e a de gás aumentará. Portanto, é preciso trabalhar mais o mercado em relação ao gás", disse um dirigente da empresa petrolífera nacional iraniana, Akbar Torkan. Novo encontro em Moscou O FPEG poderá ter uma "secretaria" baseada no modelo da Opep, a partir de sua próxima reunião, informou Claude Mandil, ex-diretor da Agência Internacional de Energia (AIE). Esse encontro está previsto para final de junho em Moscou, mas o diretor geral da AIE, Nobuo Tanaka, explicou que poderá ser postergado para setembro. Sistema de cotas Entretanto vários países consumidores temem que uma organização do gás natural permita aos exportadores fixar os preços ou pelo menos influir sobre eles, segundo o modelo da Organização dos Países Exportadores de Petróleo. O cartel petrolífero conserva até hoje um sistema de quotas que lhe permite diminuir sua produção e impedir uma queda nos preços. Do lados dos consumidores O diretor da companhia nacional líbia de petróleo, Chukri Ghanem, assegurou, entretanto, que não se pretende criar um cartel, mas "uma estrutura de cooperação e intercâmbio de informações." O Irã assegurou por seu lado, que essa organização "não irá contra os consumidores, já que existem muito consenso" entre os países consumidores e os produtores de gás, disse Yarjani. Mas "se os exportadores querem formar uma organização, não podemos impedir", admitiu Tanaka, que considera esse projeto difícil, devido às características do mercado de gás, sustentado por contratos bilaterais no longo prazo. Contra a nova organização "Não me agrada a idéia de uma Opep do gás, porque apoiamos um mercado aberto e competitivo", disse o ministro britânico da Energia, Malcolm Wicks, em Roma. Os rumores sobre sua criação se estenderam após a assinatura em 2006 de um acordo de cooperação entre a gigante russa Gazprom e a estatal argelina Sonatrach. Esse pacto, que inquietou os europeus, terminou em agosto de 2007 sem a elaboração de nenhum projeto concreto. (Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 7)(AFP)