Título: Infra-estrutura portuária prejudica as exportações
Autor:
Fonte: Gazeta Mercantil, 24/04/2008, Editoriais, p. A2

24 de Abril de 2008 - O saldo da balança comercial até o final da primeira quinzena de abril revelou uma queda de 63% em relação ao mesmo período do ano passado. O crescimento das importações, 43% na mesma comparação, preocupa principalmente pela distância com a expansão das exportações, que cresceram 14% no período, ante 2007. É opinião consolidada entre os analistas que a questão central do saldo comercial não está em conter importações (mais da metade delas continua a ser bens de capital), mas de aumentar o potencial exportador do País. Este é, de fato, o aspecto sensível no comércio exterior brasileiro. Aumentar exportações, além de equacionar excessos da política cambial, exigiria redimensionar a expansão da logística marítima brasileira. Como mostrou a entrevista de Julian Thomas, gerente da empresa que é a maior operadora de cabotagem no Brasil, publicada na edição de ontem da Gazeta Mercantil, "em 2007, só no porto de Santos, tivemos 6.300 horas perdidas" por causa de greves e congestionamentos. A comparação desse prejuízo pode ser avaliada quando se sabe que no mesmo período a empresa perdeu, por exemplo, 259 horas em Buenos Aires. Na estimativa do gerente, os atrasos nos portos brasileiros geraram prejuízo de US$ 62 milhões para a empresa. É preciso observar que na entrevista o gerente aponta tanto as mazelas da infra-estrutura portuária como reconhece que o sistema recebeu investimentos de US$ 1 bilhão, sem deixar de insistir em que é "preciso mais para atender à demanda". Thomas analisa que os portos não comportam o volume atual de cargas, que "já está além da capacidade" e que é esse fato, especialmente, que impacta na produtividade do sistema. A comparação com o porto de Hamburgo, para citar um exemplo, exibe bem essa deficiência de produtividade: enquanto o porto alemão tem 65 movimentos por hora e o de Buenos Aires 55 por hora, o porto de Santos, no terminal da margem esquerda, operado pela Santos-Brasil, o ritmo é de 41 movimentos por hora. Isso contraposto ao fato de que nos últimos dez anos o movimento em Santos cresceu 136%, enquanto a área retroportuária expandiu apenas 27% entre 2001 e 2007. No mesmo período a extensão de berços foi de 6% e a quantidade de guindastes aumentou 79%. A produtividade, portanto, só poderia sofrer seguidos desgastes. O Centro de Logística da Coppead, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), elaborou um ranking sobre os portos brasileiros, divulgado em setembro do ano passado, tendo consultado cerca de 300 empresas exportadoras e agências marítimas, que colocou Santos como o quarto pior porto do Brasil. O terminal paulista, responsável por 26% do comércio exterior do Brasil, acumula fortes deficiências. O calado do porto é de 12 metros no canal interno e 14 metros no externo. A Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), administradora do porto, tem projeto para elevar as profundidades para 13 e 15 metros, respectivamente. A média dos calados nos portos europeus é de 18 metros, enquanto o de Roterdã, porto de alta produtividade, tem calado de 20 metros. Vale notar que a liderança no ranking da Coppead é do terminal marítimo Ponta da Madeira, no Maranhão, da Companhia Vale do Rio Doce, o único do País capaz de carregar inteiramente o maior graneleiro do mundo, navio de bandeira norueguesa, capaz de transportar 365 mil toneladas de carga. A capacidade desse terminal já é de 100 milhões de toneladas, que deve dobrar até 2011. No ano passado, a empresa investiu nesse porto US$ 337 milhões. O segundo porto do ranking também é da Vale, o de Tubarão, que embarca principalmente minério e soja e desembarca fertilizante. Esse terminal recebeu investimentos de R$ 600 milhões da empresa em 2007. Esses dois portos têm calado de 20 metros. Vale lembrar, por outro lado, que abaixo de Santos ficaram os portos de Fortaleza, Vitória e Salvador. A reforma e modernização dos portos brasileiros foram anunciadas diversas vezes. Em 2005 o governo federal lançou a Agenda Portos, um programa formado por 64 projetos a serem realizados em caráter de emergência nos 11 principais portos do País. A falta de projetos e a dura burocracia dos órgãos de defesa ambiental fizeram com que apenas 18 desses projetos efetivamente avançassem. Um quadro bem diferente dos investimentos privados no setor de infra-estrutura portuária. Em agosto de 2007, a Agência Nacional de Transportes Aquaviários analisava 25 pedidos para construção e exploração de Terminal de Uso Privativo e Misto, que totalizavam investimentos de R$ 4 bilhões. A diferença na vontade de investir explica os lugares ocupados pelos portos estatais no ranking da Coppead e justifica bem por que Santos, o maior porto da América Latina, tem uma produtividade de operação tão baixa.