Título: Brasil teme calote da dívida de Itaipu pelo Paraguai
Autor: Staviski, Norberto
Fonte: Gazeta Mercantil, 24/04/2008, Nacional, p. A5

Curitiba, 24 de Abril de 2008 - "Pelo nosso lado, o Brasil já colocou sua posição de não renegociação do Tratado de Itaipu e agora a bola está com o Paraguai, que deve fazer o próximo lançamento dizendo o que deseja do governo brasileiro", disse Jorge Miguel Samek, diretor geral brasileiro da Itaipu Binacional. "E, da nossa parte, esperamos que o país vizinho não venha nos propor um "calote" da dívida de Itaipu para aumentar o fluxo de recursos que recebe porque isso seria um desastre para ambos os países", completou. Segundo o diretor brasileiro, "o Paraguai é sócio do Brasil em Itaipu tanto no que se refere às receitas como nas despesas". Atualmente, o país vizinho recebe cerca de US$ 500 milhões anuais entre royalties e venda da energia excedente ao Brasil. Do orçamento de US$ 3,2 bilhões de Itaipu para 2008, US$ 2 bilhões (75%) serão destinados a amortizar a dívida da construção da usina. Pelo menos imediatamente não há como o Brasil realizar um aumento de repasse de recursos de Itaipu para o Paraguai. Assim, ganhou corpo no governo brasileiro a idéia de criar um compromisso com o país vizinho, com o Brasil adquirindo parte da energia a ser produzida após 2023, quando a usina estará quitada e o Paraguai poderá vender sua parte excedente para quem quiser. Isso seria uma espécie de antecipação de recursos para o novo governo de Fernando Lugo e uma saída para que as discussões não virem um impasse. O Paraguai, ao que parece, refutou fortemente a idéia. Há, ainda, a saída de melhorar aos poucos o percentual fixo de US$ 2,80 que hoje é pago ao Paraguai acima do custo de produção da energia, exclusivamente pela cessão desta ao Brasil. Este valor já foi reajustado de US$ 1,70 para US$ 2,80 em 2007, mas pesa diretamente sobre o valor da tarifa brasileira e escorrega para as contas dos consumidores brasileiros. Por esta via, o aumento de repasses ao novo governo do Paraguai teria de ser feito de uma maneira lenta e gradual para não gerar expectativas inflacionárias no Brasil, já que Itaipu é responsável por 20% do abastecimento da energia consumida no País. No entanto, há uma certa folga de operação já que os preços praticados por Itaipu estão um pouco abaixo da média do mercado brasileiro. A energia de Itaipu chega às distribuidoras brasileiras a um custo médio de R$ 86,90 o megawatt-hora (MWh), incluindo o transporte. Porém, não é ela que determina qual é o valor pago pelo consumidor final porque toda comercialização é feita pela Eletrobrás. Sinal dessa possibilidade é o fato da Light ter reduzido a tarifa de energia elétrica no Rio de Janeiro, seguindo determinação da Agência Nacional de Energia Elétrica.. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 5)()