Título: Ênfase à continuidade na política externa
Autor: Tranches, Renata ; Kleber, Leandro
Fonte: Correio Braziliense, 21/04/2011, Política, p. 6

Em discurso para a nova turma de diplomatas formados pelo Instituto Rio Branco, a presidente Dilma Rousseff enfatizou ontem a continuidade dos conceitos da política externa brasileira estabelecidos por seu antecessor, Luiz Inácio Lula Silva. Porém, não deixou de valorizar a ênfase nos direitos humanos, vista como ponto de possível diferenciação entre as gestões. Como o ex-presidente, Dilma pontuou a importância da reforma de organismos internacionais, como o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), a necessidade de parcerias entre nações do Hemisfério Sul e a vontade de dar um fim ao protecionismo econômico imposto por países desenvolvidos.

Segundo a presidente, a defesa dos direitos humanos, ¿desde sempre e mais agora¿, está no centro de suas preocupações. O tema tem sido citado como a marca de Dilma em sua forma de conduzir a política externa, muito embora ela tenha evitado o delicado assunto na visita à China. No mês passado, o Brasil votou a favor, no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, do envio de um observador ao Irã. No fim de 2010, a ONU aprovou resolução condenando o desrespeito aos direitos humanos no país, pedindo o fim de apedrejamentos, perseguições a minorias étnicas, ataques a jornalistas e a advogados de vítimas de violações de direitos. A censura ao regime de Mahmoud Ahmadinejad não contou com o voto do Brasil, que se absteve.

Agora, a definição da postura sobre violações em países como China e Cuba é considerada um dos grandes desafios diplomáticos do início do atual governo. Ontem, Dilma garantiu que sua administração vai promovê-los e defendê-los em todas as instâncias internacionais, ¿sem concessões, discriminações ou seletividade¿.

Sem capricho Durante o discurso de 17 minutos, sem improvisos, a presidente defendeu que a reforma do Conselho de Segurança não é um ¿capricho¿ do Brasil, mas reflete a necessidade de ajustá-lo ¿à correlação de forças do século 21¿. Para Dilma, os recentes episódios nos países árabes e do norte da África, a favor da democracia, refletiram a complexidade dos desafios atuais. ¿Lidamos com fenômenos nos quais não são mais aceitas políticas imperiais, certezas categóricas e as respostas certeiras de sempre¿, garantiu. ¿Do ponto de vista da segurança, a ONU também envelheceu.¿

Na solenidade no Palácio do Itamaraty, que marcou o Dia do Diplomata, Dilma salientou que a América do Sul seguirá como prioridade. ¿Sinalizei isso ao fazer na Argentina minha primeira visita ao exterior¿, afirmou, destacando a importância da região, que atingiu crescimento médio de 7,5% em 2010. ¿Não há espaço para discórdias e rivalidades que nos separaram no passado. Os países do nosso continente tornaram-se valiosos parceiros políticos e econômicos do Brasil.¿

A presidente destacou ainda as parcerias com os países da África, que ganharam visibilidade no governo Lula, e a aproximação com os asiáticos, com os quais pretende ¿ampliar e diversificar as unidades de negócio nos marcos da franca reciprocidade¿. Dilma lembrou a viagem que acabou de fazer à China. ¿Não temos por que nos envergonhar de nossa condição de exportador de commodities. Mas, ao mesmo tempo, queremos expandir as exportações de valor agregado.¿ Ao falar rapidamente sobre os parceiros desenvolvidos ¿ EUA e Europa ¿, a presidente disse que o Brasil manterá ¿intensas, construtivas e equilibradas relações¿. Ela destacou a recente visita do presidente americano, Barack Obama, que, segundo ela, ¿dará mais vigor às relações EUA-Brasil¿.

Altas honrarias Antes da cerimônia de formatura dos 109 novos diplomatas da turma 2009-2011 do Instituto Rio Branco, a presidente Dilma Rousseff concedeu a 13 ministros a Ordem de Rio Branco, a mais alta honraria dada pelo governo a personalidades brasileiras. O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS) e os governadores do Acre, Tião Viana (PT-AC); e do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), também receberam a ordem.