Título: Indústrias são reticentes em relação a pólo de brinquedos
Autor: Horvath, Sheila; Maia Filho, José Pacheco
Fonte: Gazeta Mercantil, 24/04/2008, Empresas e Negocios, p. C1

24 de Abril de 2008 - Um mercado que vive um momento de grande concorrência e busca alternativas para se fortalecer a cada ano. Assim vive a indústria brasileira de brinquedos, que prevê um faturamento de R$ 2,5 bilhões neste ano, um total de 12,4% de crescimento em relação ao ano passado. Muitas empresas passaram por dificuldades na década de 1990, quando o dólar quase se equivaleu ao real. Algumas resistiram, outras ficaram no meio do caminho. Vieram os chineses, que conquistaram 50% do mercado, e a concorrência tornou-se ainda mais difícil. Com esse cenário, a Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq) anuncia o início das negociações com três estados - Pernambuco, Fortaleza e Bahia - para a criação de um pólo industrial de brinquedos. No dia 18 de abril foi enviado um e-mail para a Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, ligada à Secretária de Desenvolvimento Econômico do Estado, com um questionário sobre os incentivos fiscais oferecidos à indústria. "Estamos em entendimentos prévios em andamento", afirma o presidente da Abrinq, Synésio Batista da Costa. "Nosso principal objetivo é manter o processo na área técnica e não transformá-lo em algo político." O governo baiano também foi consultado pela Abrinq para a possível instalação de um pólo de produção no estado. Segundo o chefe de gabinete da Secretária Estadual de Indústria, Comércio e Mineração, Antonio Carlos Machado Matias, a Bahia tem total condições de receber o empreendimento. "Apresentamos nossas propostas. Além de benefícios fiscais, contamos com infra-estrutura, mão-de-obra qualificada e tradição de receber grandes empreendimentos", afirma. Auxiliar do secretário estadual de Indústria, Comércio e Mineração, Rafael Amoedo, que está em viagem aos Emirados Árabes com o objetivo de atrair novos investimentos para o estado, Matias evitou pormenorizar a proposta apresentada à Abrinq. "Nesta fase de negociação não é recomendável", diz, confiante no potencial do estado para atrair o pólo de brinquedos que pretende se transferir de São Paulo para o Nordeste em busca de melhores condições fiscais e vantagens competitivas. É importante lembrar que há também os chineses, responsáveis pela produção de 76% dos brinquedos vendidos no mundo e 50% dos comercializados no Brasil, de acordo com dados da própria Abrinq. Para o setor de brinquedos, a Bahia oferece as vantagens do Programa de Desenvolvimento Industrial e de Integração Econômica (Desenvolve), criado em 2002. O programa concede, entre outros incentivos, o pagamento de 10% a 30% do valor do ICMS apurado, a depender do enquadramento do projeto, e dilatação de prazo por até seis anos da parcela correspondente à diferença entre o imposto apurado e o imposto pago. Caso a empresa queira pagar antecipadamente, poderá ter desconto progressivo que poderá chegar a 90% do imposto devido. A proposta de instalação de um pólo de brinquedos na Bahia agrada às empresas do setor que já funcionam no estado. Para o diretor administrativo-financeiro da Acalanto, que desfruta do programa Desenvolve, Luiz Roseghini, a implementação do pólo de produção poderá ter como efeito positivo a ampliação do número de fornecedores, facilitando a logística, com ganhos de escala. Na avaliação dele, a concessão de incentivos fiscais é essencial à instalação de novas empresas. As fábricas de brinquedos existentes na Bahia estão localizadas em Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador, e representam 5% do mercado nacional. Porém, algumas companhias que têm a linha de produção em São Paulo ainda são reticentes em relação a esse assunto. "Esse projeto ainda está em fase de estruturação. Recentemente passamos por uma grande mudança de fábrica, acho difícil apostar numa nova mudança nos próximos anos", afirma o diretor de marketing da Estrela, Aires José Leal Fernandes. Uma outra companhia, a Multibrink, que possui fábrica em Guarulhos (SP), também não prevê uma mudança de sua unidade de produção. Pelo contrário, a empresa começa a diversificar sua linha com a produção de bicicletas aro 16, bolas e tapetes de EVA. "Não há interesse em levar a produção para outro estado", comenta a gerente de marketing e desenvolvimento de produto da Multibrink, Silvia Bissoli. Outras companhias como Grow e Gulliver também, por meio de seus executivos, não confirmaram o interesse em mudar as unidades de produção para o Nordeste. "Talvez os executivos não gostem da idéia, mas o que vai determinar a mudança ou não serão as vantagens de custos para a companhia", afirma Synésio Costa. Ele diz que a idéia é manter em São Paulo a produção com maior valor agregado. Essa é uma das alternativas que vêm sendo estudadas pela indústria. Uma outra opção tem sido a queda no preço dos brinquedos, de olho no poder de consumo da classe C. A Lego, por exemplo, lança este ano produtos a partir de R$ 14,90. A empresa vem de uma crise mundial entre os anos de 2002 e 2004. "Hoje a Lego está focada em fazer o que faz melhor, brinquedos de montar", conta o diretor de operações da companhia, Robério Esteves Moreira. Hoje, o Brasil está entre os 50 principais mercado da marca em todo o mundo - a Lego tem negócios em mais de 130 países. "Isso é um dado muito importante. Daí a estratégia da empresa de baixar os preços. Da coleção de 180 itens, cerca de 100 modelos custam até R$ 99,90", conta o executivo. No caso da Estrela, um dos modelos da boneca Susi pode ser encontrado por R$ 14,90 nas lojas de brinquedos.(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 1)()