Título: Oscilação no preço do petróleo deve perdurar
Autor:
Fonte: Gazeta Mercantil, 25/04/2008, Editoriais, p. A2

25 de Abril de 2008 - volatilidade no preço do petróleo ganhou significativa aceleração nos últimos dias. Na terça-feira, os contratos futuros para entrega em maio fecharam pela primeira vez acima de US$ 119 o barril na Bolsa Mercantil de Nova York. De imediato, diferentes analistas apressaram-se em garantir que alta tão forte da commodity teria apagado "qualquer possibilidade" de recuperação econômica dos Estados Unidos pelo impacto que terá sobre as decisões de consumo. O presidente Bush, depois de considerar óbvia sua atenção, repetiu que estava "preocupado com nossos consumidores". A tensão, no entanto, durou bem menos do que as previsões pessimistas. Ontem, na mesma Bolsa de Nova York, o contrato futuro de óleo para junho fechou em queda de 1,89%, em US$116 o barril. Em Londres, o contrato para junho já fechou com o preço do barril a US$ 114. A principal razão de tais oscilações é o forte movimento do dólar frente ao euro. Na terça-feira, a moeda norte-americana atingiu a máxima, ante a moeda européia em 17 dias, com o dólar negociado a US$ 1,60 frente ao euro. Como as cotações do petróleo estão baseadas na moeda americana, os grandes investidores preferem empurrar o preço do óleo para cima para manter o valor real do dólar. Ontem o processo inverteu-se, com a moeda norte-americana recuperando valor, derrubando os preços da commodity. Foi o suficiente para que na mesma velocidade previsões muito otimistas aparecessem e se solidificasse a crença de que o pior da crise do subprime já passou, com reflexo favorável no mercado de ações. É fato que a escalada nos preços do petróleo, que atingiu 24% apenas nos quatro primeiros meses deste ano e 68% na referência dos últimos 12 meses, tem forte impacto nas decisões de consumo da economia americana, pressionando bastante a inflação nos diferentes e grandes blocos econômicos. O temor da maioria dos analistas é o da estagflação, quando a economia reage com índices muito baixos de expansão, contraposta a preços em constante trajetória de alta. Com exceção das economias emergentes, as previsões, até do Fundo Monetário Internacional, são de um razoável freio na economia americana, com perda de aceleração do PIB nos países da área do euro e com o Japão voltando ao crescimento zero. Nesse quadro, quando o barril do petróleo ganha ritmo de alta constante, o temor da estagflação volta ao cenário. É indiscutível que a maioria das oscilações no preço da commodity tem razões pontuais. É suficiente o registro de alguns distúrbios nas instalações da Nigéria, ou a ameaça de uma greve em uma refinaria da Escócia, para promover grandes altas no preço do óleo. A disparada de preço da terça-feira ocorreu depois que, na véspera, o grupo que controla a exploração na Nigéria comunicou que reduziria as exportações em 160 mil barris porque um ataque terrorista no sul do país teria interrompido um oleoduto. O país africano exporta pouco mais de dois milhões de barris/dia, uma parte modesta do consumo mundial diário de 84 milhões de barris. A greve na Escócia, por sua vez, ameaçava outros 196 mil barris. Porém, as duas ameaças foram suficientes para propiciar uma disparada nos preços. Sem esquecer que a expansão da demanda, que também pode ter saltos pontuais, tem óbvio poder desestabilizador no mercado. Nas duas últimas semanas de março e nas duas primeiras de abril a China importou uma quantidade extra recorde de petróleo, de aproximadamente 4 milhões de barris diários, acumulando um estoque não previsto, que provocou uma compreensível pressão sobre os preços internacionais do óleo. Com essas oscilações, tanto do lado da oferta como da demanda, é muito difícil qualquer previsão equilibrada sobre o preço futuro da commodity. Basta observar que, no mesmo dia em que os preços do barril rondaram os US$ 120, os participantes do 11 Internacional da Energia, em Roma, reunindo todos os produtores de petróleo, não ousaram oferecer qualquer prognóstico sobre o movimento de preços da commodity. O máximo que os qualificados participantes se permitiram foi responsabilizar a especulação financeira pela volatilidade do produto. Os integrantes da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), também presentes em Roma, preferiram outra explicação, relacionando toda a instabilidade à grande imprevisibilidade da demanda. Em outras palavras, a Opep quer, primeiro, uma definição sobre o perfil da expansão da economia mundial para, então, decidir sobre se aumenta ou não a produção, devolvendo o preço do óleo a padrões mais aceitáveis. Nesse quadro, em que tanto os donos da oferta como os responsáveis pela demanda esperam que o outro lado ceda, a única previsão correta é que a volatilidade nos preços do petróleo apenas continuará. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 2)