Título: Ciclo de aperto monetário será curto, avaliam economistas
Autor: Saito, Ana Carolina
Fonte: Gazeta Mercantil, 25/04/2008, Nacional, p. A4

São Paulo, 25 de Abril de 2008 - O ciclo de aperto monetário deve ser curto e não deve ter um impacto significativo no crescimento da economia brasileira e nos investimentos, na avaliação de economistas. A expectativa é que o Banco Central (BC) faça um ajuste entre 1,5 e 2 pontos percentuais, o que elevaria a taxa básica de juros para até 13,25% no final do ano. Para Gustavo Loyola, sócio da Tendências Consultoria Integrada, a autoridade monetária está fazendo ajuste preventivo para se antecipar a um eventual descompasso entre oferta e demanda, além dos impactos da alta dos preços dos alimentos na inflação. Na avaliação do o ex-presidente do BC, a idéia é de um ciclo curto de altas, o que justificaria o aumento de 0,5p.p. na Selic, acima das projeções da maior parte do mercado, na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). "O BC está adotando a política correta. Exatamente por agir dessa forma o ciclo de aperto será curto e o efeito sobre o crescimento vai ser relativamente baixo. As perspectivas não se alteram de forma expressiva por causa da política monetária", diz. O diretor do Departamento de Pesquisas Econômicas do Bradesco, Octávio de Barros, afirma também que o BC está na direção certa e que o ciclo de ajuste deve ser bem menor do que o feito em 2004 e 2005. "Essa é a hora de agir", avalia. Para o economista, o foco da ação da autoridade monetária são as expectativas em momento de propensão de repasses de custos. "O principal canal é o das expectativas", afirma. De acordo com pesquisa realizada pelo Bradesco com 1,6 mil empresas do setor industrial, as perspectivas de investimentos continuam fortes. De janeiro para abril, o percentual de companhias que declaram que os investimentos não serão afetados com uma alta de juros de 1 p.p. no ano aumentou de 50,6% para 60,1%. No cenário de elevação de 2 p.p. na Selic, a fatia passou de 37,6% para 50,3% dos entrevistados. "Mês após mês, esse percentual vem crescendo", comenta Octávio de Barros. Outro levantamento do Bradesco baseado em informações publicadas na imprensa mostra ainda que o número de anúncios de investimentos subiu de 77 para 88 entre fevereiro e março. Para o ex-ministro da Fazenda Mailson da Nóbrega, a ação do BC contrapõe a idéia de que não haveria nada a ser feito pois a pressão inflacionária é provocada pela alta de alimentos, um fator externo. "Dada a cultura inflacionária brasileira, nenhum Banco Central hesitaria", diz. Loyola, Octávio de Barros e Mailson da Nóbrega participaram ontem do 11 Seminário Perspectivas da Economia Brasileira, promovida ontem pela Tendências, em São Paulo. Preço dos combustíveis Os economistas esperam para este ano um repasse da alta do preço internacional do petróleo no mercado interno. Segundo Octávio de Barro, a projeção do Bradesco de uma inflação em torno de 5% em 2008 já incorpora reajuste de 5% na bomba, apesar de a ata do Copom, divulgada ontem, apontar para um cenário de estabilidade para o preço da gasolina. "Em algum momento, a alta tem de ser transferida para o mercado doméstico. A Petrobras é uma empresa de capital aberto e tem responsabilidade. Ela pode criar uma distorção", completa Loyola. Mailson da Nóbrega diz que o cenário mais provável é de que não aconteça um aumento da gasolina no curto prazo. "Não acho a atitude mais correta. Há uma desfasem de 15% a 20% em relação aos preços internacionais. A permanência de cotações recordes do barril de petróleo no mercado internacional pode levar o governo a reconsiderar e se convencer a reajustar os preços", afirma. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 4)()