Título: Brasil pode tornar os EUA independentes do Oriente Médio
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Fonte: Gazeta Mercantil, 25/04/2008, Infra-estrutura, p. C4

Chicago, 25 de Abril de 2008 - As descobertas do Brasil do que poderão ser dois dos três maiores novos depósitos de petróleo encontrados do mundo nos últimos 30 anos poderão contribuir para pôr fim à dependência do continente americano em relação ao petróleo do Oriente Médio, disse a empresa Strategic Forecasting Inc. A influência da Arábia Saudita como o maior exportador mundial de petróleo esmorecerá se os campos brasileiros foram tão grandes quanto foi anunciado, e a China e a Índia se tornarão os compradores dominantes do petróleo do Golfo Pérsico, disse Peter Zeihan, vice-presidente de análise da Strategic Forecasting de Austin, no Estado norte-americano do Texas. A empresa de Zeihan, que dá consultoria a companhias privadas e governos de todo o mundo, foi descrita em artigo de 2001 do Barron""s como "a CIA paralela". Entre os sete maiores O Brasil deverá extrair "vários milhões""" de barris de petróleo bruto ao dia até 2020, guindando o País para as fileiras dos sete maiores produtores mundiais do combustível, disse ontem Zeihan em entrevista concedida por telefone. A presença da Marinha norte-americana no Golfo Pérsico e adjacências se reduziria, deixando a região exposta a mais conflitos, afirmou.A estatal brasileira Petrobras disse em novembro que o campo de Tupi, em águas profundas, na chamada camada pré-sal, deve encerrar 8 bilhões de barris de petróleo bruto recuperável. Entre as descobertas de novos depósitos ocorridas nos últimos 30 anos, apenas o campo de Kashagan, de 15 bilhões de barris, no Cazaquistão, tem capacidade maior. 33 bilhões de barris Haroldo Lima, diretor da Agência Nacional de Petróleo (ANP), disse recentemente que outro campo marítimo, o de Carioca, deve conter 33 bilhões de barris de petróleo. Esse volume o qualificaria como o terceiro maior campo da história, atrás apenas dos campos de Ghawar, na Arábia Saudita, e de Burgan, no Kuwait. Lima, o diretor da ANP, atribuiu posteriormente o número a uma revista. Dúvidas sobre o Carioca Mark Flannery, analista do Credit Suisse Group, e Gustavo Gattass, especialista do UBS AG, contestam a estimativa da capacidade do campo de Carioca. Flannery disse a clientes durante conferência por telefone realizada a 16 de abril que 600 milhões de barris é uma estimativa "razoável""" e sugeriu que Lima pode ter-se referido à formação geológica como um todo que abriga o campo de Carioca. Petrobras não confirma Carioca é um dos sete campos identificados até o momento na área de exploração BM-S-9, parte de uma formação chamada de Pão de Açúcar. Se novas perfurações da Petrobras confirmarem as estimativas da capacidade de Tupi e de Carioca, os campos, juntos, encerrarão o volume de petróleo suficiente para abastecer todas as refinarias do litoral norte-americano do Golfo Pérsico por 15 anos. A Petrobras disse que precisa de pelo menos três meses para estimar o volume de petróleo encerrado por Carioca. Aumento da oferta O vice-presidente de análise da Strategic Forecasting disse que, além do aumento da oferta originária do Brasil, será necessária a triplicação da produção de petróleo do Canadá, a partir do arenito betuminoso, e o aumento da economia dos automóveis para pôr fim à dependência do continente americano em relação ao petróleo do Oriente Médio. Importação dos EUA Os Estados Unidos importam cerca de 10 milhões de barris de petróleo por dia, ou 66% de sua demanda, de acordo com o Departamento de Energia de Washington. A Arábia Saudita foi o segundo maior fornecedor para o mercado norte-americano em janeiro, atrás do Canadá. Os países do Golfo Pérsico responderam por 23% do petróleo bruto importado pelos Estados Unidos, comparativamente à participação de 1,7% do Brasil. A produção brasileira de petróleo bruto subiu 1,9% no ano passado, para 2,14 milhões de barris/dia, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE). "A independência do continente americano em combustíveis soa como um desejo um tanto imaginoso, em vista de esse continente já estar gerando um terço da demanda mundial total" do combustível fóssil, disse Jason Gammel, analista de petróleo do Macquarie Bank Ltd, localizado em Nova York. "É bem arriscado falar em autosuficiência, a menos que os biocombustíveis assumam um papel ainda maior nos próximos cinco a 10 anos do que o que já foi determinado por lei" no caso dos Estados Unidos. Prospecção no Brasil Petrobras, Chevron Corp., Royal Dutch Shell Plc e Norsk Hydro ASA pretendem começar a extrair petróleo de oito campos brasileiros nos próximos dois anos e meio, que produzirão um total de 1,02 milhão de barris por dia - volume correspondente a dois terços do petróleo empregado pelas refinarias norte-americanas do Golfo do México. Abrir a torneira dos poços Novas descobertas deverão se seguir nas bacias em águas profundas brasileiras, a maior parte das quais ainda não foram abertas à exploração, disse o vice-presidente de análise da Strategic Forecasting. "As descobertas feitas até agora são apenas a ponta do iceberg", disse Zeihan. "O Brasil vai mudar a correlação de forças dos mercados mundiais de petróleo, e a Petrobras vai se tornar uma superpotência geopolítica". (Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 4)(Bloomberg News)