Título: Consumo cai e déficit cresce nos EUA
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Fonte: Gazeta Mercantil, 15/09/2004, Internacional, p. A-10

Para analistas, falta de controle sobre déficit é ameaça à economia e à recuperação do país. As vendas no varejo dos Estados Unidos caíram em agosto e o déficit norte-americano em conta corrente bateu recorde no segundo trimestre, apontaram relatórios divulgados ontem pelo governo. O Departamento de Comércio informou que as vendas caíram 0,3%, queda maior do que a projetada por analistas de 0,1%. Excluindo automóveis, no entanto, as vendas subiram 0,2%, em linha com as expectativas. O dado das vendas em julho foi revisado para cima, de uma alta de 0,7% para 0,8%. Excluindo automóveis, as números também foram revistos, passando de 0,2% para 0,3%.

Novo aumento do déficit

Em um relatório separado, o departamento comunicou que o déficit das contas correntes - medida mais ampla do fluxo de comércio e investimento entre os EUA e o resto do mundo- aumentou novamente no segundo trimestre, chegando ao recorde de US$ 166,18 bilhões. O número ficou bem acima do esperado pelos analistas, que era de US$ 159,35 bilhões.

Os dados, entretanto, não conseguiram fazer os investidores deixarem de apostar no aumento da taxa de juros pelo Federal Reserve na próxima semana. Apesar dos indicadores negativos, os mercados de ação oscilavam pouco.

Além dos veículos

No relatório de vendas do varejo, os economistas se concentraram nos números que excluem o setor automobilístico, como um sinal de que o consumo está aumentando. "Sabemos que os preços mais altos da energia estão reduzindo o poder de compra dos consumidores e o mercado de trabalho mais defasado está aumentando esta hesitação nos gastos. Neste cenário, gastos sólidos, embora não entusiasmados, são um bom sinal", disse o economista do MFC Global Investment Management, Oscar Gonzalez.

Em agosto, as vendas de automóveis declinaram 1,9 %, a maior queda desde junho. Outros setores também mostraram fraqueza, como vestuário - com recuo de 1,4% - e lojas de departamentos, com baixa de 0,8%. Ainda assim, alguns setores tiveram crescimento. Os chamados varejistas sem loja - que vendem através da internet e de catálogos - tiveram aumento nas vendas de 1,7% e a comercialização das farmácias e de produtos de saúde subiram mais 1%.

Já o déficit das contas correntes, apesar de ter atingido recorde, aparentemente não preocupou muito os economistas. "Isto apenas mostra que os Estados Unidos continuam contando com as poupanças do resto do mundo cada vez mais", disse o estrategista de câmbio da IDEAglobal, Sean Callow. Analistas se surpreenderam com a queda na entrada de investimentos internacionais, que caiu para apenas US$ 2,64 bilhões no segundo trimestre, contra os US$ 12,16 bilhões registrados nos primeiros três meses do ano, ampliando o déficit do segundo trimestre.

Vários analistas comentaram que os déficits recordes, se deixados sem controle, são um sério risco ao maior mercado financeiro mundial, particularmente no caso de os estrangeiros perderem a confiança na capacidade do país pagar suas dívidas. Ainda mais preocupante, o déficit tem severas implicações para o crescimento econômico dos Estados Unidos.