Título: 2010, uma eleição em quatro turnos
Autor: Nascimento, Sandra
Fonte: Gazeta Mercantil, 28/04/2008, Editoriais, p. A2

28 de Abril de 2008 - O símbolo do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), o tucano, nasceu com o partido, em 1988. Com a palavra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso: "O tucano foi uma invenção do (Franco) Montoro, que era democratacristão, para evitar que houvesse uma conotação que a ele não parecia adequada, de trazer para o Brasil uma briga européia entre os social-democratas e os democratas cristãos", segundo relato dele mesmo no livro O Legado de Franco Montoro. No site oficial da legenda, no entanto, a explicação é um pouco diferente: a idéia nasceu da bancada mineira, que queria algo mais simples para identificar o partido e facilitar sua comunicação. Uma observação curiosa - e até pitoresca -, de que, desde a primeira ninhada, tucanos paulistas e mineiros já davam suas bicadas. O PSDB nasceu em 25 de junho de 1988, formado por dissidentes peemedebistas, descontentes com o rumo do partido à época. Ainda segundo o site tucano: "Nas eleições de 1986 (...) , o PMDB teve uma vitória arrasadora (...) e `inchou¿ com a chegada de muitos políticos, o que resultou na falta de credibilidade dos eleitos identificados com o governo. Foi nessa época que algumas das lideranças do grupo começaram a pensar em criar um novo partido sério". Vinte anos se passaram e hoje o PMDB é o grande cobiçado pelos dois pré-candidatos do PSDB ao Palácio do Planalto, o governador de São Paulo, José Serra, e o de Minas Gerais, Aécio Neves. Posição confortável para os peemedebistas, já que são igualmente disputados pelo PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem hoje é um aliado de peso. "A única certeza que temos para 2010 é que o PMDB estará no governo", diz um tucano (também) dissidente. Afirmação nada surpreendente, já que o partido nunca deixou o poder desde o governo de José Sarney (1985). Na semana passada o PMDB foi o pivô da virada de jogo promovida por Serra, maestro (não assumido) do acordo entre o prefeito Gilberto Kassab (DEM) e o PMDB de Orestes Quércia, jogando a batata quente para o ex-governador tucano Geraldo Alckmin, pré-candidato a adversário de Kassab, que quer a reeleição. O acordo acabou transformando-se num ato pró-Serra 2010, fortalecendo o papel das eleições municipais deste ano como um pré-turno do pleito presidencial. Hoje as probabilidades apontam para o confronto entre os dois tucanos, o que fará da capital paulista o palco ideal para avaliar o jogo de cintura do governador. Ele vai subir em dois palanques? Em nenhum? Enquanto isso, as `bicadas amigas¿ já começaram. Em nota divulgada na sexta-feira, o deputado federal Silvio Torres, um dos líderes da tropa de choque alckmista, disparou: "Os tucanos de todo o Brasil têm certeza de que o governador José Serra (...) será o principal líder da campanha, fiel a sua coerência e espírito partidário". As disputas em São Paulo e Belo Horizonte, que representam 40% do total do eleitorado do País - são, respectivamente, o primeiro e o segundo maior colégio eleitoral - deverão concentrar as atenções daqueles que já começam a fazer suas apostas no mercado futuro de 2010. Do lado dos tucanos, Serra, apesar do recente triunfo, tem um partido rachado em São Paulo, enquanto Aécio luta para garantir uma megaaliança em torno de seu candidato a prefeito, Márcio Lacerda (PSB), cujo o principal destaque é o PT. A direção nacional do partido do presidente Lula rechaçou a idéia; a regional estrilou e decidiu indicar o vice na chapa de Lacerda, mesmo sob ameaça de intervenção. Na avaliação do cientista político Rogério Schmitt, da Tendências Consultoria, são quatro os cenários possíveis para as pretensões tucanas, tendo por base as eleições municipais nessas duas cidades estratégicas. Se Kassab for eleito, Serra sai fortalecido, dependendo, claro, de quantas penas irão voar durante a campanha; uma vez vencedor o ex-governador, ponto para Aécio. Em Belo Horizonte, avalia, a questão é de como se dará a aliança com o PT. "Sem uma participação formal, ele pode sair com menos força." É esperar para ver. Editora de Política. snascime@gazetamercantil.com.br kicker: "A única certeza que temos para 2010 é que o PMDB estará no governo" (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 2) SANDRA NASCIMENTO*