Título: TV Digital: cobertura nacional em 10 anos
Autor: Mazzini, Leandro
Fonte: Gazeta Mercantil, 28/04/2008, Nacional, p. A7

Brasília, 28 de Abril de 2008 - O Brasil está muito avançado na implantação da TV Digital, e em 10 anos, será possível cobrir todo o território nacional, dentro do cronograma estabelecido. A afirmação é do ministro das Comunicações, Hélio Costa, que acaba de voltar de uma feira nos Estados Unidos. Lá, depois de 15 anos de trabalho na digital, o sinal analógico será encerrado em fevereiro. Ocorre que na nação mais rica do mundo, curiosamente, a TV digital chega a só 40% dos lares, o que provocou uma corrida às lojas para a compra do conversor - agora, subsidiado pelo governo americano. Mas, diante desse exemplo, o que garante o sucesso da TV digital no Brasil, cujos projetos de implantação devem ser concluídos, numa primeira etapa, em 14 meses? Costa solta um sorriso de tranqüilidade. Além do modelo japonês, escolhido pelo governo as emissoras de TVs estão à frente do cronograma de instalação. E a corrida tecnológica com a convergência das mídias contribuem. Gazeta Mercantil - Quando a TV digital entrará no ar com toda a interatividade esperada? Na verdade nós temos 18 meses, contando a partir de janeiro deste ano, para que as emissoras do Rio de Janeiro e Belo Horizonte tenham a obrigatoriedade de estar no ar com sinal digital. Em janeiro elas receberam a consignação. Têm seis meses para apresentar o projeto. Depois de apresentarem o projeto, têm mais seis meses para afinar os instrumentos. Considere que 18 meses depois de recebido, em janeiro, elas devem estar funcionando. Gazeta Mercantil - Quais os maiores obstáculos? Esse cronograma ocorrerá em condições rigorosamente normais. Imagine o Rio, que é uma cidade entre morros, onde você leva uma grande vantagem na TV analógica, porque a transmissão analógica dá volta ao morro. A TV digital não vai fazer isso. As emissoras vão ter que colocar um retransmissor do outro lado. Por sorte, o sistema que nós adotamos, o japonês, permite que você retransmita no mesmo canal. Isso vai facilitar enormemente numa cidade como o Rio, onde poderemos ter retransmissão da TV digital em todas as regiões de sombra, que hoje já são imensas na TV analógica, porque você vai retransmitir no mesmo canal. Gazeta Mercantil - A TV digital deu certo como o esperado em outros países? O senhor voltou dos Estados Unidos há pouco. O que houve lá? Os Estados Unidos estão convertendo agora, depois de 10 anos de trabalho, e chegam na reta final. Em fevereiro eles encerram a transmissão analógica. Eu cheguei a perguntar o que aconteceria se houvesse uma grande manifestação popular. Eles disseram: "Olha, nós não estamos ainda preparados para a TV digital, só tem 40% das residências americanas com TV, não dá para dilatar esse prazo?" A resposta do governo para foi: "Não. Quem não tiver comprado o seu conversor, quem não tiver o seu aparelho analógico, não tem televisão e ponto final". Gazeta Mercantil - As emissoras todas lá já se adequaram? Todas já estão preparadas. E nós, para dizer a verdade, estamos adiantados de um cronograma. Gazeta Mercantil - Então como está a situação das emissoras no Brasil? Estão investindo mesmo por conta própria? Veja só o Rio, como exemplo. As emissoras receberam a consignação em janeiro, tinham 18 meses para colocar o sinal no ar, e já estão com o sinal no ar. Gazeta Mercantil - Sobre a questão dos conversores, o presidente Lula estudava subsidiar a indústria para baratear o aparelho. O governo vai fazer isso? Não estuda, não, já está em vigor no Pólo Industrial de Manaus, autorizado pelo governador Eduardo Braga. O governo do Amazonas assinou um decreto dando desconto de ICMS em Manaus para os fabricantes. Para nós podermos atender a necessidade brasileira, tivemos que adotar um sistema que comporte a TV de alta definição, a TV móvel, e a portátil. Só o sistema japonês faz isso. O sistema europeu nos obrigava a pagar a companhia telefônica para receber o sinal. O sistema americano não traz mobilidade. Gazeta Mercantil - E a questão da interatividade, ministro? A interatividade com o telespectador está longe de ser alcançada. A TV digital tem um cronograma de implantação. Primeiro tem que botar a imagem no ar, o som. Depois, vem a interatividade. Quem tem que se ocupar da interatividade não é o governo. Mas sim as emissoras e as entidades que querem usar a interatividade. Por exemplo, vamos imaginar que a TV Cultura queira fazer educação à distância. Então desenvolva um software que vai dar condições ao aluno de interagir com o professor. Gazeta Mercantil - Como o fórum da TV digital tem debatido isso? O fórum está conduzindo todos os procedimentos da TV digital. Não é mais o governo. O fórum tem a participação do governo, das emissoras de TV, da indústria de telecomunicações. Então, todas as decisões hoje são colegiadas. Não é mais a decisão governamental. Gazeta Mercantil - Nos Estados Unidos, com toda o aparato tecnológico que possui, a TV digital ainda atinge só 40% dos lares em 10 anos de implantação, o que garante ao governo que poderá dar tudo certo dentro do cronograma aqui? Os Estados Unidos falam em TV digital há 30 anos. A primeira vez que eu fui à feira (de tecnologia) eles já faziam TV digital analógica. Nos últimos 15 anos eles estão desenvolvendo um projeto de TV digital. Nos primeiros 10 anos, desenvolvendo o projeto. Nós estamos na era da convergência. Nos últimos três anos houve um boom extraordinário com as ferramentas que surgiram capazes de permitir a TV digital popular. Agora nós estamos falando de outras ferramentas. Estamos na era da convergência. E de repente, o que vinha muito devagar, agora pegou velocidade. Então, se levamos 10 anos para chegar a 40% dos lares nos Estados Unidos, em quatro meses, agora, eles vão fazer 100%. Gazeta Mercantil - Mas eles estão obrigando a população a comprar o conversor... Estão obrigando da seguinte maneira: todos os novos televisores já vêm com o conversor. Gazeta Mercantil - No Brasil vai ser assim?Vai ser assim também. Este é o momento da transição. O novo conversor já está vindo com os aparelhos de TV. Gazeta Mercantil - Mas com o preço acoplado... Está sendo acoplado, por enquanto. Nos Estados Unidos houve uma concessão. Estão subsidiando o conversor para as pessoas que não pretendem comprar um novo televisor. Se não puder comprar um conversor por 10 dólares, então fica sem televisão. Gazeta Mercantil - O senhor acha que é possível subsidiar o aparelho no Brasil, na compra, além dos benefícios fiscais na produção? Acredito que dá, sim, se identificarmos as pessoas que não têm condições de comprar nem mesmo o conversor popular, que ainda este ano estará no mercado. Gazeta Mercantil - Quanto vai custar o conversor? O último preço que trouxeram para nós, aqui, em reunião do governador do Estado do Amazonas, foi de R$ 200. Eu acredito que ainda vai cair mais. Esse chip de modelação, em janeiro do ano passado, custava US$ 70. De janeiro do ano passado para este ano, ele caiu para US$ 12. Gazeta Mercantil - Nessa linha de raciocínio, soma-se à demanda que vai crescer, e pode baratear. Nesse caso, o senhor acha que será preciso o governo subsidiar? Não creio. Lá na frente nós poderemos adotar um esquema para atender a população pobre. Gazeta Mercantil - E basta o conversor? É importantíssimo destacar isso: precisa da antena. Não existe televisão sem antena. Assim como a analógica, a digital também precisa. O que fizeram até agora? Quase um crime. Anunciou-se a TV digital em São Paulo, vendeu-se o aparelho da TV digital, vendeu-se o conversor por um preço absurdo e esqueceram de dizer para o comprador que ele precisava da antena. O cidadão chega em casa, liga na antena comum dele, não dá, porque a antena dele é VHF. Ele precisa de uma antena UHF. Uma antena dessas custa R$ 12. Então o Fórum da TV Digital estabeleceu que as próprias emissoras de televisão, especialmente em Belo Horizonte, façam curso para antenistas. Então no Rio e em Belo Horizonte nós já não vamos ter o problema que tivemos em São Paulo. Gazeta Mercantil - Qual a meta de abrangência da TV digital? Em 10 anos nós temos que atender o País inteiro. É a meta do próprio cronograma, para 2016. Acho é que as coisas estão andando muito mais rapidamente do que se imaginava. Só que na idéia, principalmente de alguns observadores, fica parecendo que nós estamos atrasados. Pelo contrário, a TV digital no Brasil está adiantada. Está á frente do seu próprio cronograma. Gazeta Mercantil - Qual a sua avaliação nas conversas com os concessionários de canais? Estão todos conscientes de que esse é um processo que não vai ter retrocesso, porque a TV analógica vai acabar. Ela abre espaço para mais canais e democratiza o meio de comunicação. Então adotar o sistema digital não é uma opção, não. Você tem que fazer a conversão para o digital, porque se chegar em 2016 e não tiver convertido para o digital, perde o seu canal, acabou. A globalização das ferramentas, o custo dessas ferramentas ter caído vertiginosamente, há uma expectativa muito grande em cima do que se pode fazer com a TV digital, o que ela trás de benefício para a população, no que diz respeito, sobretudo, ao uso da interatividade na hora que você quiser fazer medicina à distância, educação à distância, vendas diretas ao consumidor através do sistema de interatividade da televisão. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 7)()