Título: Cresce a produtividade, mas pressão de custos preocupa
Autor: Severo, Rivadavia
Fonte: Gazeta Mercantil, 29/04/2008, Nacional, p. A4

Brasília., 29 de Abril de 2008 - A indústria está preocupada com a elevação do custo da matéria-prima em setores que têm preços pautados pelo mercado internacional. O risco da pressão dos preços na ponta ser repassado para a cadeia produtiva é uma das maiores preocupações dos empresários, sobretudo para commodities como alimentos e produtos oriundos do refino de petróleo. Também faz parte das maiores dificuldades listadas pelos empreendedores a competição mais acirrada com os concorrentes e a falta de trabalhadores qualificados. Os dados foram revelados pela Sondagem Industrial feita pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) no primeiro trimestre de 2008 sobre a expectativa dos empresários para os próximos seis meses. A pesquisa ouviu 1.490 empresas entre 31 de março e 23 de abril, antes, portanto, de computar o reflexo da decisão do Banco Central (BC) de elevar a taxa básica de juros (Selic) de 11,25% para 11,75% ao ano. Segundo o economista da CNI, Renato da Fonseca, o impacto que os preços desses produtos terão na cadeia produtiva ainda é uma incógnita, mas afirmou será desigual por setor. Ele explicou que os preços das commodities subiram na esteira da alta mundial por causa do descompasso entre a oferta e a demanda e que alguns setores terão de reduzir suas margens de lucro por causa da competição de produtos importados. "Quem compete com importados tem dificuldade de repassar preços. Para as commodities, se sobe lá fora sobe aqui também", disse Fonseca. Com referência aos juros, o economista da CNI observou que o impacto dessa alta da Selic deverá ter reflexos na expectativa de investimentos dos empresários, mas pontuou que ainda é cedo para falar dessa reação em aplicações futuras. "Vai depender se o Comitê de Política Monetária (Copom) mantiver a alta dos juros nas próximas reuniões e por quanto tempo essa tendência será mantida", avaliou Fonseca. No entanto, o economista enfatizou que o cenário dessa elevação dos juros é diferente daquele de 2005 que freou bruscamente a economia. "Agora temos investimentos que estão maturando desde 2006, o que alivia a pressão nos preços", comparou ele. Os dados da pesquisa também apontam que a produtividade da indústria cresceu no primeiro trimestre, ao mesmo tempo que o nível da Utilização da Capacidade Instalada (UCI) caiu de 80% para 75% na comparação entre o primeiro trimestre de 2008 e o último de 2007, mas avançou em relação ao mesmo período do ano passado em dois pontos percentuais. Para o economista, o aumento da produção junto com a redução da UCI sugere aumento na capacidade produtiva da indústria. Tendência que deve continuar no segundo trimestre. "As projeções ainda são positivas. Há um crescimento forte da demanda e a previsão de que a economia vá continuar crescendo", declarou. A previsão foi na mesma linha da declaração dada pelo presidente do BC, Henrique Meirelles, na sexta-feira, quando afirmou que não haverá freada na economia e que o momento é de investir no Brasil. Os dados da pesquisa mostram ainda que os estoques estão ajustados ao planejamento das empresas e os empresários continuam otimistas em relação ao mercado doméstico, mas pessimistas em relação às exportações. Para o empresariado, a valorização cambial do real e a elevada carga tributária continuam sendo os maiores vilões da economia brasileira. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 4)()