Título: Uma missão civilizadora
Autor: Vasconcelos, Adirson
Fonte: Correio Braziliense, 21/04/2011, Opinião, p. 19

Historiador de Brasília, com dezenas de livros publicados (adirson@bol.com.br %u2014 www.thesaurus.com.brlk) Brasília tem mais futuro do que passado. A afirmativa pode parecer um paradoxo, pois Brasília tem longo passado, uma tradição com mais de dois séculos, desde o Brasil Colônia, pelas pregações e pelos sonhos nativistas de Tiradentes, Bonifácio, Hipólito e outros.

No Império e na República, muitos lutaram pelo ideal de ter o Brasil uma capital no interior central do país. Outros sonharam e até profetizaram que a nova capital seria um polo irradiador de desenvolvimento socioeconômico e cultural para todo o Centro-Oeste e o Norte. Até profetizaram o surgimento, na novel cidade, de uma nova civilização para o Brasil. Três Constituições determinaram Brasília e três comissões escolheram o local no Planalto Central goiano. Num momento de luz, um homem de fé e vontade inquebrantáveis, o presidente Juscelino Kubitschek, cumprindo o desejo de muitas gerações de brasileiros, construiu e inaugurou, a 21 de abril de 1960, a nova capital federal, Brasília, nos altiplanos do Brasil Central.

Homens simples, quase rudes, retirantes do Nordeste, de Goiás, de Minas e de outras partes do país, fugiram da seca e da falta de oportunidades para, sem quase qualificação de mão de obra, lançar-se à epopeia de Brasília e construir palácios admiráveis, belos edifícios residenciais, avenidas, eixos monumentais, etc., entregando pronta e acabada o que a imprensa mundial classificou de ¿a obra do século¿ e o filósofo francês André Malreau chamou de ¿a capital da esperança.¿

Assim, gente do Norte, do Leste, do Sul e do Oeste, repetindo o feito dos fugitivos do deserto, na Antiguidade, acorreu à terra prometida e, no Planalto Central do Brasil, edificou Brasília, a nova capital do Brasil. Construíram também famílias, numa mistura integradora e numa miscigenação de tipos étnicos os mais diversos ¿ nortistas com gaúchos, mineiros com cearenses, goianos com cariocas etc. etc. Surge daí, de uniões conjugais, de relacionamentos, de mistura de costumes e tradições, um novo tipo étnico miscigenado e com todas as cores nacionais: a integração sociorracial brasileira, o homem síntese, o homem de Brasília, que desponta ao longo dos primeiros 40 anos de vida da cidade-capital. Isso, num tempo de 40 anos, o que fez lembrar a caminhada de Moisés e seu povo para a formação da Terra Prometida, na Antiguidade.

E esse homem síntese, o brasiliense, com o aconselhamento de pioneiros predestinados que edificaram a cidade e a sustentaram naturalmente com a assistência de entidades superiores, constrói nos momentos iniciais do Terceiro Milênio as perspectivas alvissareiras de um futuro promissor para que se cumpra a profecia e implante-se no Planalto Central do Brasil, a partir de Brasília, os fundamentos de uma nova civilização, já antevista por brasileiros clarividentes e pelo sonho profético do padre salesiano Dom Bosco.

Assim, pelo pensamento construtivo e pela evolução moral e espiritual, essa nova geração nascida no Planalto Central, esse homem brasiliense, esse homem síntese nacional, fará de Brasília a capital do Terceiro Milênio, revelação esta que me foi feita, coincidentemente, pelo presidente Juscelino Kubitschek dias antes do seu falecimento, em 1976. Será uma riqueza inconcebível, na visão de Dom Bosco. A cultura e os valores morais se agigantarão! A ganância pelo poder e pelo ouro não predominará mais. Os corruptos, os hipócritas, os maus não terão mais vez na política, na economia, na cultura. A preocupação maior será o bem comum. A consciência evolutiva de cada um definirá melhor os direitos e as responsabilidades na construção da justiça social e da paz entre os humanos. O pensamento e a virtude prevalecerão sobre a matéria e sobre o vício. O Brasil será o coração do mundo e a pátria espiritual do planeta, na vidência de Humberto de Campos. E Brasília será a capital do Terceiro Milênio, na antevisão do presidente Juscelino Kubitschek