Título: Reajuste elevará receita da Petrobras em R$ 10 bilhões
Autor: Lorenzi, Sabrina
Fonte: Gazeta Mercantil, 05/05/2008, Nacional, p. A4

Rio, 5 de Maio de 2008 - Os reajustes do óleo diesel e da gasolina vão aumentar a receita da Petrobras em cerca de R$ 10 bilhões em um ano. O valor, calculado pela Gazeta Mercantil a partir de dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP), foi confirmado pelo diretor financeiro da estatal, Almir Barbassa, em entrevista a este jornal. "Neste momento (a quantia) é suficiente para a Petrobras. Vamos remunerar nossos acionistas e manter o fôlego dos investimentos", afirmou o executivo. A receita bruta estimada da estatal é de R$ 220 bilhões a R$ 240 bilhões neste ano. Com a medida, a petroleira volta a gozar de um retorno médio de 20% a 25% do capital empregado, percentual considerado bom por Barbassa. "Estávamos chegando a níveis baixos". Barbassa não espera aumento das vendas dos derivados de petróleo por causa do avanço do álcool, concorrente da gasolina. Carro-chefe das vendas da Petrobras, o óleo diesel reajustado representará um ganho da ordem de R$ 7 bilhões no prazo de um ano. A cifra considera que o consumo do combustível manterá o volume registrado no primeiro trimestre, avaliado como bastante alto pelo mercado. De acordo com a ANP, as vendas do diesel cresceram 10% de janeiro a março. O País consumiu 10,38 milhões de metros cúbicos de diesel neste período. Considerando que para cada litro de diesel vendido a Petrobras passará a receber R$ 0,17, equivalente aos 15% de aumento nas refinarias, o ganho trimestral será de R$ 1,7 bilhão, sem a inclusão de novos aumentos do volume vendido. De 2004 a 2006, as vendas recuaram um pouco. No ano passado, porém, houve uma alta da ordem de 5% do consumo do derivado, motivado pelo aquecimento da economia. Segundo a reguladora, a Petrobras vendeu 5,9 milhões de metros cúbicos de gasolina de janeiro a março. Com o reajuste de R$ 0,10 por litro, a estatal arrecadará R$ 600 milhões a mais por trimestre e R$ 2,4 milhões em um ano, se as vendas forem mantidas. Em algumas regiões, a venda de álcool já superou o consumo de gasolina. Com a redução de tributos para anular o reajuste da Petrobras na gasolina, o governo resguardou o caixa da empresa, segundo analistas. A gasolina poderia perder mais terreno ainda para o álcool, por conta da proximidade da safra da cana-de-açúcar. Nesta época, o álcool costuma ficar 20% mais barato. Para Juscelino Sousa, vice-presidente da distribuidora Ale, "essa diferença de redução do preço do álcool e aumento da gasolina criaria problema para a Petrobras". "O uso da Cide (Contribuição de Intervenção do Domínio Econômico ) foi bastante inteligente: livrou o consumidor de uma alta da inflação, protegeu o caixa da Petrobras da concorrência com o álcool e reduziu a defasagem dos preços em relação ao mercado internacional". Por cada litro vendido de gasolina, o governo federal arrecadava R$ 0,28. O reajuste de R$ 0,10 foi coberto integralmente quando o governo abriu de parte da Cide, que passa agora a representar R$ 0,18 para os cofres da União. Alísio Vaz, diretor do Sindicato das Distribuidoras (Sindicom), também elogiou a medida. "A Cide cumpriu pela primeira vez o objetivo que justifica sua criação, foi muito bem usada". O imposto foi criado há seis anos para, entre outros fins, permitir o repasse das cotações internacionais do petróleo para os combustíveis no mercado interno. Mas nunca foi usado, até a semana passada. "A Cide foi criada, entre outras coisas, para essa finalidade", lembrou também o diretor da Petrobras. O preço do barril de petróleo dobrou enquanto os preços dos combustíveis no Brasil permaneceram intactos desde o último reajuste. A defasagem tornou o investimento em refino e distribuição de derivados pouco atraente, razão da debandada de investidores como Esso e Ipiranga do setor. No refino, as únicas refinarias privadas fecharam as portas por algumas vezes e não têm planos de expansão. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 4)(Sabrina Lorenzi)