Título: Ciro Gomes, agora, um maluquinho cinquentão
Autor: Nunes, Augusto
Fonte: Gazeta Mercantil, 02/05/2008, Política, p. A9

La Paz e Washington, 5 de Maio de 2008 - Vários incidentes ocorreram durante o dia de ontem no Departamento de Santa Cruz, o mais rico da Bolívia, em razão do referendo para decidir sobre a declaração de sua autonomia do governo central. O referendo é o maior desafio enfrentado até agora pelo presidente do país, Evo Morales. O domingo começou "tingido de violência" e até o fechamento desta edição havia pelo menos 20 feridos, segundo Ivan Canelas, porta-voz do governo. Foram registrados protestos dos opositores do referendo, com a quebra de urnas e bloqueio das estradas durante a madrugada para que as pessoas não conseguissem chegar aos locais de votação. Alguns manifestantes estavam munidos de pedaços de pau e pedras. Os incidentes ocorreram nas localidades rurais de San Julián e Yapacani e no bairro Plan 3000 da cidade de Santa Cruz, onde há uma forte presença de pessoas alinhadas a Morales e que queimaram urnas. "Em nenhum processo de votação houve tanta rejeição e tanta violência como desta vez em Santa Cruz", disse Canelas. O governador de Santa Cruz, Rubén Costas, atribuiu os incidentes e enfrentamentos às ações dos simpatizantes de Morales. O referendo sobre o estatuto autônomo de Santa Cruz é ilegal, para o Governo de Morales, que o considera uma simples pesquisa e fez chamadas para que as pessoas não participassem da consulta. O Departamento de Santa Cruz deseja proclamar sua autonomia do governo central para, teoricamente, angariar mais impostos, poder formular políticas próprias e ter para si as terras férteis que por lá são cultivadas, além das reservas de gás natural que o estado possui. A votação de ontem é vista como uma rejeição às políticas de Morales, em especial sua iniciativa de refazer a Constituição, com o objetivo de redistribuir grandes propriedades para camponeses e dar mais poder para a maioria indígena e pobre da Bolívia. A oposição a Morales é grande em Santa Cruz, região plana que abriga um quarto da população da Bolívia e é responsável por um terço da economia e cerca de 10% das reservas de gás natural e petróleo. Sua grande população de origem européia está exaltada com as promessas de Morales de tomar medidas para reverter séculos de discriminação contra os nativos. Segundo Morales, este é um processo ilegal promovido por oposicionistas racistas e separatistas. Na sexta-feira, o presidente boliviano havia pedido que os militares do país permanecessem unidos diante do referendo de autonomia. No dia seguinte à nacionalização de quatro empresas de energia e da maior companhia de telecomunicações da Bolívia, Morales disse que alguns ex-comandantes militares, que ele não identificou, estariam a serviço de um suposto objetivo separatista do referendo. "Ex-comandantes me ensinaram a defender a pátria, e sinto que esse serviço continua, mas não é porque somos ex-soldados ou ex-comandantes que podemos ser influídos com algumas versões de independência de algum departamento, de uma nova república", disse Morales em uma cerimônia militar. "Todos, como instituições do Estado, temos a obrigação de cumprir com nosso dever, com a Constituição vigente, e sobretudo servir à unidade da pátria", acrescentou. Também na sexta-feira, ministros e outros funcionários disseram que o governo garante a normalidade nas empresas de energia e telecomunicações nacionalizadas na véspera. Várias passaram por decreto às mãos do Estado. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 10)(EFE e Reuters)