Título: Petrobras, enfim, reajusta preços da gasolina e diesel
Autor: Monteiro, Ricardo Rego ; Exman, Fernando
Fonte: Gazeta Mercantil, 02/05/2008, Nacional, p. A6

de Maio de 2008 - A Petrobras anunciou na quarta-feira o reajuste da gasolina e do óleo diesel nas refinarias, depois de dois anos e oito meses de represamento. A partir da zero hora desta sexta-feira, os dois derivados ficaram, respectivamente, 10% e 15% mais caros para as distribuidoras. Para minimizar o impacto nos índices de inflação, e conseqüentemente para o consumidor, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou que o governo também decidiu reduzir em R$ 0,10 a incidência da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), o chamado imposto dos combustíveis, sobre cada litro de gasolina. A medida, justificou Mantega, visa tornar o reajuste da gasolina nulo para o consumidor. Na prática, a redução da Cide ajuda a amortecer o impacto do aumento sobre o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que serve de referência para a meta oficial de inflação (ver mais informação sobre o assunto na matéria ao lado). Ao reduzir a incidência da contribuição, o Ministério da Fazenda baixou de R$ 0,28 para R$ 0,18 a fatia do imposto sobre cada litro de gasolina. O abatimento da Cide, porém, não ocorreu apenas para a gasolina. Mantega também anunciou uma redução de R$ 0,04 do imposto sobre o litro de óleo diesel. Dessa forma, justificou, a contribuição baixa de R$ 0,07 para R$ 0,03 por litro do derivado. Diferentemente do esperado para a gasolina, o ministro revelou uma expectativa de impacto do reajuste de 15% sobre o diesel para o consumidor final. Pelos cálculos da Fazenda, mesmo com a redução da Cide, o aumento provocará uma alta de 8,8% do preço do derivado nas bombas. Arrecadação prejudicada Além das pressões indiretas, o aumento do diesel na bomba dos postos de combustíveis terá impacto de 0,015 ponto percentual na inflação. Para o ministro da Fazenda, apesar da elevação dos preços internacionais dos alimentos, a inflação do País está controlada. A arrecadação do governo também será prejudicada. Devido à redução da Cide, a arrecadação cairá entre R$ 2,5 bilhões e R$ 3 bilhões por ano. Em entrevista, Mantega tentou reduzir a importância da desoneração anunciada. "A Petrobras vai devolver com mais lucro e dividendos", afirmou o ministro da Fazenda. Estratégia da Petrobras Por meio de comunicado oficial, a Petrobras justificou o reajuste alegando que seguiu a estratégia de manter os preços praticados no mercado doméstico atrelados às cotações internacionais. A commodity tem valorização recorde nas bolsas de mercadorias estrangeiras. Para o economista Luiz Roberto Cunha, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), os reajustes deverão ser mais sentidos no Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M), medido pela Fundação Getulio Vargas (FGV), do que propriamente pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Levando-se em consideração um peso de 1,24% e 2,53%, respectivamente, da gasolina e do diesel sobre o Índice de Preços do Atacado (IPA) - que compõe uma parcela do IGP-M -, Cunha prevê um impacto de 0,40 ponto percentual sobre o índice cheio já em maio. Fatores políticos O economista da PUC-RJ avalia que o impacto do reajuste do diesel deverá ser minimizado devido a fatores políticos. Em ano de eleições municipais, justifica, dificilmente as prefeituras deverão autorizar o repasse para os preços das passagens de ônibus. Além do transporte municipal, o derivado influencia diretamente os custos dos fretes rodoviários, uma vez que o diesel é utilizado principalmente em caminhões."O importante é que o reajuste dos combustíveis agora dá uma sinalização de alívio na inflação do ano que vem", pondera o economista da PUC-RJ. "Quanto mais o reajuste vinha sendo adiado, maiores eram as expectativas de pressão sobre a inflação de 2009", acrescenta Cunha. Oscilação do petróleo Embora o aumento dos combustíveis seja suficiente para pressionar a inflação brasileira, para as contas da Petrobras, tem impacto limitado. Pelo menos é o que avalia o consultor Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra-estrutura (CBIE), ao lembrar que o último reajuste desses dois derivados ocorreu em setembro de 2005, quando o barril do petróleo encontrava-se no patamar de US$ 65. Na última quarta-feira, o barril do tipo WTI, negociado na Bolsa de Nova York, encerrou o dia em queda de US$ 2,17, cotado a US$ 113,46. Já o Brent, negociado em Londres, caiu US$ 2,07, para US$ 111,36. R$ 7,5 bilhões a menos Pelos cálculos de Pires, o represamento do reajuste custou à Petrobras, desde 2005, R$ 7,5 bilhões. Ainda de acordo com o consultor do Centro Brasileiro de Infra-estrutura, hipoteticamente, se o barril do petróleo e o câmbio permanecessem congelados nas cotações de quarta-feira, o prejuízo da Petrobras seria de R$ 500 milhões em maio. Não fosse o reajuste de quarta, compara Pires, o prejuízo em maio subiria para R$ 1 bilhão. Ganhar margem "A Petrobras agora tem que torcer para o barril no mercado internacional cair daqui para frente, de modo a minimizar o prejuízo mensal com a atual política de preços", afirma o consultor, ao duvidar de um impacto zero para o consumidor final. "No papel, a redução da Cide funciona bem. O problema é que não dá para saber se os distribuidores e revendedores não vão aproveitar o reajuste para ganhar margens." (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 6)(Ricardo Rego Monteiro e Fernando Exman)