Título: Restos mortais de inconfidentes
Autor: Fagundes, Ezequiel
Fonte: Correio Braziliense, 22/04/2011, Política, p. 2

Enviada especial Ouro Preto ¿ A lápide de três inconfidentes, no Museu da Incofidência, na Praça Tiradentes, no Centro Histórico de Ouro Preto, recebeu, ontem, as urnas com os restos mortais dos conjurados José de Resende Costa (1728-1798), Domingos Vidal Barbosa Lage (1761-1793) e João Dias da Motta (1743-1793). O sepultamento foi acompanhado pela presidente Dilma Rousseff (PT) e pelo governador Antonio Anastasia (PSDB), que colocaram sobre os túmulos coroas de flores simbolizando o reconhecimento do povo brasileiro e mineiro.

Dilma lembrou que os inconfidentes que tiveram os corpos recém-sepultados morreram na África e disse: ¿Eles foram exilados por haverem se atrevido a desejar um Brasil independente. Na nossa história, muitos tiveram que se exilar por desejar também liberdade e democracia¿. A presidente disse ainda que cada conquista do povo brasileiro é reflexo do sonho dos inconfidentes e lembrou de sua prisão pelos militares. ¿Os brasileiros e brasileiras que, como eu, sofreram na pele os efeitos da privação de liberdade sabem o quanto a democracia institucional faz falta quando desaparece.¿

Desde 1980, o diretor do Museu da Inconfidência, Rui Mourão, e a equipe de pesquisadores da instituição vinham estudando a autenticidade das ossadas dos três inconfidentes. Em 1993, equipe da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) começou o longo processo de separar e montar os fragmentos de ossos.

Os restos mortais dos conjurados mineiros chegaram ao Brasil em 1932 e foram levados para o arquivo histórico do Itamaraty, no Rio de Janeiro (então capital federal), e depois percorreram um longo caminho. Em Minas, a primeira ação pedindo a transferência dos despojos dos inconfidentes mineiros partiu do poeta Augusto de Lima Júnior. Ele pediu ao então presidente Getúlio Vargas que as ossadas fossem trazidas ao Brasil. Em 21 de abril de 1936, Vargas decretou o repatriamento dos restos mortais dos degredados e, no fim daquele ano, as urnas foram conduzidas à Capela do Senhor dos Passos, na Catedral Metropolitana do Rio. Pouco depois, novo destino, o Museu da Inconfidência, em Ouro Preto, onde foram construídos jazigos especiais para recebê-los.

Em 1993, para garantir a autenticidade das ossadas, a direção do Museu da Inconfidência entregou o material para exame à equipe do curso de pós-graduação do programa de Odontologia Legal e Deontologia da Faculdade de Odontologia da Unicamp, em Piracicaba (SP), que pôde comprovar que os ossos, repatriados da África para o Brasil nos anos 1930, são mesmo dos inconfidentes.

Afagos Na contramão do PSDB nacional, que nas últimas semanas tem intensificado as críticas ao governo federal, o governador Antonio Anastasia (PSDB) voltou a afagar a presidente Dilma Rousseff (PT), oradora oficial da solenidade de encerramento da Semana da Inconfidência, em Ouro Preto. Com um discurso voltado para a história de mulheres mineiras que ¿fizeram a pátria¿, ressaltou o fato de a primeira presidente da República eleita pelo povo ter nascido em Minas Gerais.

MARCO REGULATÓRIO Em sua quarta visita a Minas depois de eleita, a presidente Dilma Rousseff reiterou que vai enviar ao Congresso projeto do marco regulatório para o setor da mineração, uma das principais reivindicações do estado. Depois de afagos e uma cobrança do governador Antonio Augusto Anastasia, a petista criticou o atual sistema de compensação pela exploração da atividade, cujos percentuais são considerados baixos em relação aos pagos pelas empresas em outros países e setores e assumiu a bandeira mineira. Anastasia aproveitou o encerramento da solenidade da medalha da Inconfidência, em Ouro Preto, para reclamar recursos para o estado.