Título: Verba pública na esteira da popularidade
Autor:
Fonte: Gazeta Mercantil, 02/05/2008, Política, p. A7

São Paulo, 2 de Maio de 2008 - As regiões do País onde é maior a aprovação ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva - atestada em pesquisa da Confederação Nacional dos Transportes (CNT) e Instituto Sensus - receberam mais recursos da União em convênios com estados e municípios. Segundo o levantamento CNT/Sensus, o governo Lula conseguiu a aprovação de 69,3% dos pesquisados no País, porém estão nas regiões Norte, Centro Oeste e Nordeste seus melhores índices. Nos estados do Norte e do Centro Oeste, Lula conseguiu a aprovação de 76,1% dos pesquisados. Para essas regiões foram liberados R$ 742 milhões em recursos federais entre os dias 27 de março a 26 de abril de praticamente todos os ministérios. Para o Nordeste, onde a aprovação de Lula foi recorde - 85,1% - os recursos liberados chegaram a R$ 604 milhões. Nestas três regiões vivem aproximadamente 76 milhões de pessoas.Nas regiões Sul e Sudeste, o governo Lula obteve seus mais baixos índices de aprovação, 58,1% e 60,3%, respectivamente. As duas regiões conseguiram a liberação de R$ 1,6 bilhão e é onde vivem 105 milhões de pessoas. "Além do óbvio crescimento econômico e da política social adotada pelo governo, boa parte dessa popularidade do presidente no Nordeste, por exemplo, se deve à incompetência da oposição", acredita o cientista político Carlos Melo, do Ibmec/São Paulo. Apesar de dar razão, em parte, ao analista do Ibmec/SP, o líder do PSDB na Câmara, o deputado José Aníbal (SP), reclama do comportamento populista do presidente Lula. "São pelo menos três fatores que explicam essa perfomance de Lula nas pesquisas. Primeiro são os programas sociais utilizados da forma mais assistencialista possível, indiscriminado. Ele (Lula) distribui dinheiro. Isso em campanha eleitoral é crime", reclamou Aníbal. Para Carlos Melo, a oposição tem ajudado "fantasticamente" no aumento da popularidade do Lula. "A oposição não consegue colocar uma pauta interessante, ela é repetitiva", acredita o analista. Para ele, a oposição está em um "samba de uma nota só" desde o escândalo de Waldomiro Diniz, em 2004, "tocando na questão da ética". "As eleições já mostraram que essa não é a questão", diz Melo. "Não se pode esquecer o fato dele (Lula) fazer campanha diuturnamente, descaradamente, não faz outra coisa de segunda à segunda. Em toda parte que vai é palanque e comício a ponto de outro dia a Dilma (Rousseff) se trair e dizer que estava em um comício ao invés de um lançamento do PAC", acrescentou Aníbal. O deputado reconhece dificuldades da oposição em contrapor ao presidente. "Temos alguma dificuldade porque, como ele mesmo diz, o Lula é um vira casaca permanente, é uma metamorfose ambulante e isso tem uma certa graça para uma parte da população. Juntando com esse ambiente favorável da economia, tudo ajuda o presidente", disse o líder do PSDB. Porém, Carlos Melo diz que o presidente está perdendo a oportunidade de fazer as reformas necessárias ao País. "O Lula tem se negado a uma política impopular, isto é ele deveria aproveitar o bom momento e realizar as reformas que são necessárias", diz Melo. Para o líder do PSDB na Câmara, a oposição tem procurado fazer a obrigação. "Temos procurado fazer a nossa parte, inclusive na Câmara, depois de dois meses de embate, procuramos ter um entendimento para que se possa votar, ter uma atitude mais positiva e interativa com a população", explicou o deputado. Nessa estratégia, ainda de acordo com Aníbal, a oposição tentará "mostrar as oportunidades que o Brasil está perdendo". "Você conserta o telhado quando tem sol, e o Brasil está vivendo uma situação ensolarada do ponto de vista internacional. O País produz o que o mundo consome e, infelizmente, o governo incompetente não faz a sua parte que são as reformas e, sobretudo, a criação de um ambiente favorável ao investimento", acrescentou o deputado. Aníbal dá a falência da infra-estrutura como um problema a ser resolvido. "Tudo está começando a estrangular", avisa. E completa: "É um governo que só colhe, não planta, e fomos nós que plantamos". (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 7)(Marcos Seabra)