Título: Um salto na produtividade: a saída inteligente
Autor: Loures, Rodrigo da Rocha
Fonte: Gazeta Mercantil, 08/05/2008, Opinião, p. A3

8 de Maio de 2008 - A reclassificação de risco que coloca o Brasil na condição de "investment grade" é a grande notícia econômica deste ano. Não representa a superação dos nossos problemas estruturais, mas coroa o esforço de aprimorar as condições macroeconômicas do País, em especial do setor externo. Para a indústria, o anúncio é visto de forma positiva em três dimensões principais. Em primeiro lugar, porque pode contribuir para a necessária redução dos juros reais que caracterizam de forma tão singular a economia brasileira. Há anos diz-se que o grau de investimento seria um diferencial importante para permitir taxas de juros sensivelmente menores. Se isso finalmente acontecer, vivas ao grau de investimento! Em segundo lugar, poderemos comemorar em dobro se essa condição nos auxiliar na ampliação do investimento em nova capacidade produtiva e na infra-estrutura, quer por meio de investimentos diretos, quer pela maior oferta de crédito e melhor acesso ao mercado de capitais. Por fim, a reclassificação de risco é um estímulo a mais na contínua melhoria do ambiente macroeconômico. Na área fiscal, em especial, pode contribuir na redução da carga tributária e no equacionamento do financiamento do setor público. Pode facilitar o avanço da questão regulatória e na criação de ambientes econômicos mais amigáveis ao investimento. Nos últimos anos assistimos à implementação de uma política econômica cuja única prioridade foi o combate à inflação. Esta política com foco no curto prazo utilizou basicamente dois principais instrumentos: uma política de juros reais muito acima do padrão internacional e uma política cambial de valorização da moeda local. É esta combinação perversa que tem inviabilizado uma estratégia de desenvolvimento sustentável do País. No entanto, especialistas nos alertam que a utilização do câmbio valorizado como âncora para controlar a inflação pode mostrar-se desastrosa no médio prazo, na medida em que vai reduzir ainda mais a competitividade do setor exportador. Isto vai reverter um dos pilares que nos permitiram alcançar o grau de investimento: a relativa folga do setor externo. Por isso acreditamos que está na hora de desarmar essa bomba e criar uma nova política capaz de sustentar o crescimento com estabilidade. No novo contexto mundial esta tarefa se torna ainda mais difícil, pois existem pressões de custos por todo lado. No nosso entendimento só existe um caminho: dar um salto efetivo na produtividade que nos permita conviver com taxas de câmbio mais apreciadas. Esta deveria ser a contribuição efetiva da nova política industrial para a manutenção da estabilidade econômica e para o crescimento vigoroso e sustentável do País. Felizmente neste momento estamos diante de uma grande oportunidade para avançar nesta direção. Na próxima semana o governo vai lançar a nova fase da política industrial, a qual, conforme Luciano Coutinho, presidente do BNDES e um dos seus idealizadores, estimulará a inovação, a expansão de capacidade produtiva e as exportações. São diretrizes importantes para fomentar ganhos crescentes de produtividade. Pessoas competentes e comprometidas com o desenvolvimento nacional estão liderando este processo e o governo demonstra estar trabalhando de forma coordenada na concepção dessa estratégia. Além disso, o BNDES deverá ser a alavanca dessa nova política, operando como financiador do investimento produtivo de longo prazo. Com ganhos crescentes de produtividade vamos nos tornar mais competitivos no mercado global. É isto que vai garantir mais empregos e renda para os brasileiros. É hora de criar um novo jeito de correr para frente e desarmar a armadilha macroeconômica que impede o nosso pleno desenvolvimento, em bases sustentáveis. Nós os empresários devemos nos organizar rapidamente para dar vida a esta política industrial. Temos que desenvolver competências para usufruir destes instrumentos. Desta forma, vamos contribuir para o aprofundamento e institucionalização de política industrial no Brasil. Único meio de aproveitar na plenitude as nossas potencialidades. kicker: Este é o caminho para conviver com taxas de câmbio mais apreciadas (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 3) RODRIGO DA ROCHA LOURES* - Presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) e presidente do Conselho de Política Industrial da CNI. Próximo artigo do autor em 29 de maio)