Título: Dilma: fim do sigilo para ex-presidentes
Autor: Correia, Carla
Fonte: Gazeta Mercantil, 08/05/2008, Política, p. A7

Brasília, 8 de Maio de 2008 - Favorecida pela blindagem governista, mas sobretudo pela timidez da oposição no questionamento sobre o dossiê contendo gastos do presidente Fernando Henrique Cardoso, a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, driblou as raras perguntas espinhosas, concentrou seu discurso no Programa de PAC e pregou o fim do sigilo dos gastos de ex-presidentes da República "depois de passado tempo suficiente para não comprometer a segurança presidencial" nas mais de nove horas de depoimento na Comissão de Infra-estrutura no Senado. Elogiada pelas duas alas da Casa, que se apertaram na comissão para ouvir a ministra, Dilma voltou a afirmar que nunca existiu um dossiê contra Fernando Henrique, apenas informações pinçadas de um banco de dados do Palácio do Planalto. E lembrou a promessa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de abrir seus gastos assim que deixar a presidência. "Eu não vejo nenhum problema em divulgação, em determinado momento, dos dados que antes são considerados sigilosos, acho que será um aprimoramento nosso procurar divulgá-los", defendeu a ministra, no Senado. "Isso é questão do Gabinete de Segurança Institucional, mas defendo que com a passagem do tempo, ao não comprometer mais a segurança, eles sejam divulgados", disse. Questionada sobre as várias versões dadas pelo Palácio do Planalto sobre o dossiê - desde a negação de sua existência até a afirmação, pelo ministro da Justiça, Tarso Genro, de que não haveria crime em se montar um dossiê - Dilma manteve a afirmação de que, provocada por avaliações negativas do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre o controle dos gastos da presidência, o Planalto decidiu montar uma base de dados com informações sobre o suprimento de fundos do governo. O Congresso Nacional teria sido informado sobre o banco de dados quando, em setembro de 2005, o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) pediu informações sobre gastos de ministros, observou Dilma. "A Casa Civil, na época, respondeu para o senador que a Presidência da República aderiu ao cartão corporativo só no dia 13 de março de 2002, e que não havia gastos com suprimentos de fundos com os cartões, mas que havia outros gastos com suprimento de fundos, que estavam sendo objeto de banco de dados confeccionado pela Casa Civil", respondeu. Dilma se disse "vítima" do vazamento de informações do dossiê contra Fernando Henrique Cardoso e chamou de "irrisórias" as informações publicadas em jornais e revistas sobre os gastos do ex-presidente tucano. Também defendeu a ex-ministra da Igualdade Racial Matilde Ribeiro, afastada do cargo por conta de irregularidades no uso do cartão corporativo. "Os gastos dela não tinham grandes discrepâncias", disse. Estratégia armada Dilma chegou à comissão às 10h14 com uma estratégia armada durante o fim de semana, no qual ensaiou atacar a platéia com números massivos sobre o PAC, de forma a cansar os senadores e esgotar o tempo de depoimento mais com dados da principal bandeira do governo no segundo mandato de Lula do que com explicações sobre o escândalo que atingiu a Casa Civil. Senadores da base governista estavam a postos para fortalecer o debate apenas ao redor do PAC.A primeira colaboração dada à ministra, entretanto, veio da oposição, quando o senador José Agripino Maia (DEM-RN) mencionou entrevista concedida por Dilma, na qual ela admite ter mentido "muito" quando presa e interrogada durante o regime militar. Agripino pediu a Dilma que não mentisse da mesma forma diante dos senadores. Deu de presente, dessa forma, o apelo emocional que faltava à defesa da ministra, que disse se orgulhar de ter mentido e salvo a vida de companheiros de luta armada. Depois da resposta com voz embargada, Dilma foi aplaudida por governistas. Foi o suficiente para a chefe da Casa Civil, mesmo acusando o golpe com a declaração do senador oposicionista, abandonar a posição acuada e partir para o ataque. Encolhida, a oposição amenizou o tom das perguntas, quase todas concentradas no PAC. O senador Heráclito Fortes (DEM-PI) cobrou obras em seu estado. Recebeu de Dilma um livreto com balanço do PAC no Piauí. Sobre o dossiê, respondeu o que quis. O tucano Sérgio Guerra (PE) reconheceu que a CPI dos Cartões está perdida e pediu à ministra a divulgação dos dados. O senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) elogiou a ministra. Chegou a dizer que temeu sua saída da Casa Civil por conta do caso do dossiê. Enquanto isso, os governistas comemoravam. Em um bilhetinho passado de mão em mão pelos senadores aliados, lia-se o elogio rasgado: "Ela é Dilmais". (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 7)(Karla Correia)