Título: Oposição admite "erro" de José Agripino
Autor: Falcão, Márcio
Fonte: Gazeta Mercantil, 08/05/2008, Política, p. A7

Brasília, 8 de Maio de 2008 - A apatia da oposição durante o depoimento da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, já era esperada. Nos bastidores do Senado, corria a notícia de que o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, teria procurado líderes da oposição e acertado um tratamento especial à ministra. Os oposicionistas negam, mas, ontem, a falta de perguntas que incomodassem a chefe da Casa Civil confirmou a existência dessa articulação. Ao final da sabatina, oposicionistas e governistas eram quase unânimes em afirmar que a passagem de Dilma pelo Senado não trouxe prejuízo algum à sua imagem e até a sua possível candidatura na sucessão do presidente Lula em 2010. Senadores avaliam que a ministra demonstrou segurança e equilíbrio emocional suficientes para sair fortalecida do depoimento. Os governistas eram os mais entusiasmados com a postura de Dilma. Durante as explicações da ministra, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), a líder do PT na Casa, Ideli Salvatti (SC) e o ex-presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), chegaram a trocar bilhetes com a escrita: "Ela é Dilmais". Nos questionamentos, em sua maioria referente ao PAC, os governistas faziam questão de demonstrar a satisfação com a linha de defesa que Dilma assumiu. Para Jucá, a ministra esgotou o assunto do dossiê e se tornou uma referência política. "A Dilma era uma referência administrativa e a oposição tentou fazer um massacre político. Agora ela virou uma referência política. Ela galgou passos importantes na formatação política dela. Ela mostrou que agüenta pressão e passou em um teste importante", disse o líder do governo. Segundo os governistas, a ministra ganhou o duelo verbal com a oposição quando respondeu ao questionamento do líder do DEM no Senado, José Agripino (RN), sobre a sua confissão de que mentiu durante a ditadura militar. Os governistas dizem que a resposta foi extremamente positiva porque a ministra demonstrou emoção e, isso pode ter intimidado os oposicionistas. "A confiança dela foi suficiente para mostrar que ela não tem nada a esconder", disse Ideli, argumentando que Dilma é a primeira e única vítima da exploração desse banco de dados. Desde que a ministra foi convocada pelo Senado, uma das preocupações era de que qualquer constrangimento arquitetado pela oposição atingisse sua pré-campanha ao Palácio do Planalto. Ontem mesmo, os governistas empolgados com o desempenho da ministra Dilma defenderam a candidatura dela para a Presidência. "A oposição sai com uma dor de cabeça porque sai agora com uma candidatura a mais para 2010", afirmou Romero Jucá. O discurso foi seguido pelo líder do PSB no Senado, Renato Casagrande (ES). Apesar de seu partido ter pré-candidato, por enquanto o deputado Ciro Gomes (CE), o socialista acredita que Dilma ganha pontos na próxima pesquisa de intenção de votos. "No início das pesquisas, antes mesmo da crise, Dilma era perto do zero. Hoje, depois de toda esta confusão já alcançou os 10%. Indo bem hoje, ganha uns quatro pontos e encosta no Aécio (Neves, governador de Minas Gerais, do PSDB)", alfinetou Casagrande. A comemoração governista, no entanto, é ironizada pela oposição que acha cedo para sustentar Dilma como candidata. "Haja verba pública, haja cargo nas estatais", disse o líder do PSDB, o senador Arthur Virgílio (AM). A oposição reconhece que o ataque de Agripino foi um tiro no pé. Os oposicionistas disseram que tentaram alertar o democrata do risco de partir para tentar construir a idéia de que a ministra teria "intimidade" - nas palavras de um democrata - com a ministra. "Isso a deixou em situação de conforto, desanuviou o ambiente para ela, que acabou ganhando segurança, o que interferiu no desempenho dela", avaliou o senador Álvaro Dias (PSDB-PR). O senador Heráclito Fortes (DEM-PI) ponderou que a ministra ganhou pontos, mas destacou que ela poderia ter antecipado sua ida ao Congresso. " Essa quarentena não foi boa para a senhora e não foi boa para o País", argumentou o senador do Democratas. Diante do cenário favorável à ministra-chefe da Casa Civil, os líderes tentaram minimizar a situação e culpam a dinâmica da sessão pela falta de aprofundamento nas investigações. Foram 36 parlamentares inscritos para questionamentos o que estendeu o depoimento por mais de sete horas, sendo que as perguntas eram respondidas em bloco pela ministra. Os parlamentares da oposição já falam em nova convocação da ministra. Dilma tem outra intimação na Comissão de Infra-Estrutura que já foi aprovada e um requerimento na Comissão de Constituição e Justiça do Senado (CCJ) chamando a chefe da Casa Civil para falar do dossiê. "Temos muitos esclarecimentos para cobrar. Eu não falei 1/5 do que queria", o líder tucano. Arthur Virgílio diz que a ministra não convenceu sobre a origem do dossiê. "Não é apenas a investigação da Polícia Federal que tem que apresentar respostas. A ministra e a Casa Civil trouxeram várias versões e, portanto, têm que explicar a cada cidadão o que aconteceu para a elaboração deste dossiê", completou o líder do PSDB. O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), acredita que é preciso deixar os ânimos se acalmarem para pensar sobre as outras convocações. Guerra diz que a ministra não explicou claramente o dossiê. "Ela deu uma resposta burocrática para uma pergunta política, isto é fato", afirmou o senador tucano. Para o presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), as discussões em torno do dossiê terminaram ontem. "Se alguém quiser que a ministra venha de novo, só se for realmente um sujeito insaciável", disse Garibaldi para explicar uma natimorta tentativa da bancada de oposição tentar, novamente, a convocação da ministra Dilma Rousseff. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 7)(Márcio Falcão)