Título: O novo presidente paraguaio e Itaipu
Autor:
Fonte: Gazeta Mercantil, 06/05/2008, Infra-Estrutura, p. C6
6 de Maio de 2008 - Engana-se quem pensar que o ex-bispo e presidente eleito paraguaio Fernando Armindo Lugo Méndez será um novo Evo Morales ou Hugo Chávez. Ao contrário dos seus pares que bradam um bolivarianismo arcaico do século XXI, Lugo não vai entrar nessa "canoa furada". Ele já mostrou a que veio, declarando que após tomar posse terá relações formais com a China e romperá com Taiwan (considerada província rebelde), ou seja, tem idéia de mundo e quer participar de um mercado de mais de um bilhão de consumidores. Em um artigo de minha autoria publicado em 12/04/07, alertei a respeito das futuras reivindicações de Lugo: "Em entrevista ao jornalista Raul Juste Lores (Folha, 16/02/07), o candidato a presidente da república do Paraguai, o ex-bispo Fernando Lugo, questionou o preço pago pela energia de Itaipu. Quando inquirido qual seria o preço justo, ele respondeu: `Temos estudos técnicos feitos aqui. O Paraguai recebe em torno de US$ 250 milhões ao ano. É muito pouco. Em valores de mercado, essa cifra subiria a US$ 1,8 bilhão¿, ou seja, o candidato quer um aumento de 620%!". Como podemos constatar, as reivindicações de Lugo não são de agora e, com certeza, ele não abandonará a bandeira que o elegeu. Assim sendo, é de suma importância que as autoridades brasileiras deixem de lado a retórica e as declarações apressadas e passem a dar a devida atenção aos seus reclamos em relação ao chamado "Tratado de Itaipu" (ouvir e negociar não é dizer "amém"), antes que essa situação vá parar nos tribunais internacionais. Afinal, como bem disse Maurício Tolmasquim (25/04): "Itaipu foi construída com alavancagem de recursos do Brasil e com tecnologia brasileira. O Paraguai, nesse processo todo, entrou apenas com a água, já que metade do rio é do Paraguai e metade do Brasil". Nesse sentido, é bom recordar de dois textos publicadas pela Gazeta Mercantil em 15/03/05, que tratavam da dívida da empresa: "Itaipu Binacional renegocia dívida de US$ 19 bilhões" e "Itaipu quer rolar dívida sem índices da inflação americana". As matérias informavam há mais de três anos que "Itaipu já pagou US$ 25 bilhões de juros e amortizações e deve outros US$ 19 bilhões ao Tesouro - que terão que ser pagos até 2023 - de um empréstimo inicial de US$ 12 bilhões". No entanto, o texto "Paraguai consome apenas 5% da produção", publicado em 23/04/08, página A-4, diz que "o estoque da dívida em 31 de dezembro de 2007, era de US$ 18,7 bilhões". Neste momento em que a binacional está sob os holofotes de reivindicações externas, seria importante que se confirmassem esses dados, pois, se compararmos os números constantes da reportagem de 2005 e a de 2008, observamos que, apesar das amortizações ao longo dos últimos três anos, o passivo só baixou US$ 300 milhões. Nunca está por demais recordar que Itaipu é uma referencia mundial e em função da sua enorme experiência adquirida ao longo de sua operação, está negociando a venda de transferência da tecnologia brasileira para os operadores da usina de Três Gargantas, na China (Gazeta Mercantil, 28/04). Itaipu continua sendo o orgulho para a Engenharia brasileira. Não há quem a visite e não fique maravilhado, inclusive Fernando Lugo. (Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 6)(Humberto Viana Guimarães - Engenheiro Civil e ConsultorE-mail: humbertoviana@terra.com.br)
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