Título: Mantega não crê em enxurrada de capital
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Fonte: Gazeta Mercantil, 07/05/2008, Nacional, p. A8

São Paulo, 7 de Maio de 2008 - O ministro da Fazenda, Guido Mantega, não acredita que vá ocorrer uma "enxurrada" de capital especulativo no mercado brasileiro em decorrência da concessão de grau de investimento pela Standard & Poors. Em entrevista concedida ontem à BandNews, Mantega afirmou que o Brasil reúne condições de país recomendável para investimento (investment grade) há alguns anos e já recebia um fluxo de investimentos expressivo. Para Mantega, a expectativa é que aumentem as aplicações em bolsa de valores e em novas empresas que estão abrindo capital. "É bom para o País porque barateia o custo de capital", afirmou o ministro. "Esse movimento é interessante porque permite o aumento de investimentos, de renda e da economia como um todo." O cenário internacional contribui para que não ocorra uma entrada de capital acima do normal no País. Segundo Mantega, a crise financeira diminui a disponibilidade de recursos. "Não tem muito capital dando sopa por aí", disse. Em relação a uma eventual necessidade de se impor uma limitação para a entrada de capital, como a cobrança de 1,5% do IOF, Mantega mostrou tranqüilidade. "Eu não tenho essa preocupação", declarou. Para ele, o grau de investimento é muito positivo para o Brasil e representa o "reconhecimento do trabalho que temos desenvolvido nos últimos anos". O ministro não avançou no detalhamento do plano de criar um fundo soberano para manter a estabilidade cambial e preservar a competitividade das exportações brasileiras. "A valorização do real vem ocorrendo nos últimos anos porque o País ficou mais sólido, mais confiável e as pessoas querem aplicar no Brasil." Reservas O governo tem feito compra agressiva de dólares nos últimos anos e acumulou reservas de cerca de US$ 200 bilhões. "Vamos continuar com essa política, vamos enxugar esse fluxo", afirmou Mantega. A cobrança de um pedágio de 1,5% do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) desestimula o investimento de curto prazo e Mantega espera que os recursos dos fundos de pensão comecem a fluir para o País e ajudem a manter o ritmo de crescimento. O grau de investimento já havia chegado ao Brasil antes da decisão da Standard & Poors ser anunciada.. Segundo o ministro, o mercado já tratava o Brasil como um país sólido, à semelhança da Rússia e ´Índia. "Temos um selo de qualidade mas o mercado já precificava esse grau de investimento". Quando saiu o anúncio da S&P houve uma oscilação nos mercados de renda variável. "O câmbio está estabilizado e não está havendo esta enxurrada de dólares". De acordo com Mantega, o governo fez uma oferta significativa para os funcionários da Receita Federal e mesmo assim a greve continua. "Estamos cortando o ponto dos que não estão trabalhando e estamos dando condição para que essa greve acabe o mais breve possível". afirmou. A liminar que proibia o desconto dos dias parados foi derrubada e quem não trabalhar não será remunerado. Foram oferecidos salários de até ´R$ 19 mil aos auditores, no final dos aumentos. Desta forma, o ministro considera que as condições para o encerramento da greve foram dadas. A nova política industrial será apresentada no próximo dia 12 (segunda-feira) pelo governo. Segundo o ministro, o objetivo é reduzir custos e tributos. A desoneração de tributos será importante principalmente para que o exportador brasileiro, apesar do câmbio valorizado, tenha competitividade frente aos seus concorrentes internacionais. O reajuste dos combustíveis, a alteração da Cide para evitar que o aumento chegue até o consumidor foi comentado por Mantega em sua entrevista à BandNews. Para o ministro, havia necessidade do aumento do diesel e da gasolina porque os preços da Petrobras estavam estacionados desde 2005. Neste período o barril de petróleo custava US$ 50 a US$60 e saltou para mais de US$ 100. "Fizemos uma redução da Cide na proporção do reajuste", comentou o ministro. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 8)(Redação)