Título: Lula diz que Dilma foi "motivo de orgulho" para o governo
Autor: Correia, Karla ; Falcão, Marcio
Fonte: Gazeta Mercantil, 09/05/2008, Política, p. A7

Brasília, 9 de Maio de 2008 - No dia seguinte ao depoimento no Senado, todas as atenções do Palácio do Planalto estavam voltadas para a chefe da Casa Civil - e nome mais citado para a sucessão presidencial em 2010 - Dilma Rousseff. O desempenho da ministra nas mais de nove horas de depoimento à Comissão de Infra-Estrutura do Senado foi elogiado duas vezes pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que criticou o senador José Agripino Maia (DEM-RN) que indagou a ministra por ter mentido em depoimentos durante a ditadura. Pela manhã, foi intensa a romaria de ministros ao gabinete de Dilma, cercada de congratulações pelos companheiros de governo. "Certamente, você foi motivo de orgulho para quem, junto com você, participa do governo, e para o povo brasileiro", disse o presidente Lula a Dilma, em solenidade de lançamento do Plano de Amazônia Sustentável (PAS). Lula amenizou o discurso com a oposição e elogiou os senadores pelo "comportamento democrático" durante o depoimento. "As pessoas fizeram as perguntas que tinham que fazer, mas eu acho que as pessoas foram civilizadas ao perguntar e no debate." Bem humorado, o presidente disse que não assistiu ao depoimento, que começou às 10h14 e acabou às 19h20. "Alguém tem de trabalhar nessa República", brincou Lula à tarde, depois de cerimônia em que sancionou a criação da súmula vinculante para julgamentos no Superior Tribunal de Justiça (STJ). O presidente voltou a louvar o comportamento dos senadores oposicionistas. Mas não poupou o líder do DEM na Casa, senador José Agripino Maia (RN), que questionou a ministra citando entrevista em que Dilma declara ter mentido em depoimentos dados à polícia, durante os anos de ditadura. "Eu acho que ele fez o que não deveria fazer. Mas de qualquer forma, um homem com a experiência política dele achou que certamente iria abafar, que iria colocar a Dilma em uma situação delicada, mas no fundo, no fundo eu acho que ele é que ficou em uma situação delicada", arrematou o presidente. Homenagens A cerimônia de apresentação do Plano de Amazônia Sustentável (PAS) foi pontuada pelos elogios à ministra. O ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima chamou Dilma de "competentíssima" ao ler a nominata da solenidade. A platéia irrompeu em palmas. O secretário-geral da Amazônia, Adilson Vieira, fez questão de parabenizar a ministra por sua primeira intervenção no depoimento ao Senado. Justo o momento em que Dilma respondeu ao questionamento do senador José Agripino. Mais uma vez, a platéia aplaudiu. De volta à agenda palaciana, Dilma Rousseff viajou ontem ao lado de Lula para a Bahia, onde o presidente fará a primeira solda do gasoduto ligando Catu, na Bahia, a Cacimbas, no Espírito Santo. Cicatrizes A passagem da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, na Comissão de Infra-Estrutura do Senado, deixou cicatrizes na oposição. Ontem, pelos corredores do Congresso, era evidente o mal-estar entre os oposicionistas que após responsabilizarem o líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), pelo bom desempenho da ministra, recuaram e minimizaram a contribuição do líder democrata. Por outro lado, entre os governistas, a satisfação era evidente. A ressaca da oposição começou logo pela manhã. Agripino se reuniu com lideranças do partido, como o presidente, deputado Rodrigo Maia (RJ) e o senador Demóstenes Torres (GO). Eles fizeram uma avaliação da crise. Segundo integrantes do partido, o líder foi repreendido, mas rebateu as acusações sustentando que não poderia levar toda culpa, uma vez que a apatia tomou conta de todos os senadores oposicionistas que não atacaram a ministra cobrando duramente esclarecimentos sobre o dossiê. No encontro democrata, Agripino cobrou uma retratação de Demóstenes, que teria dito que a declaração à ministra só poderia ter sido feita se o líder estivesse dopado. Em plenário, o senador por Goiás pediu desculpas. Outros oposicionistas, como o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), saíram em defesa do líder. "Ela se aproveitou de um momento infeliz do senador Agripino, e ele ficou refém desse momento a sessão inteira. Ela tinha razão nesse episódio e tinha todas as razões para mentir sob tortura, mas também não falou a verdade na democracia", disse Virgílio. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 7)(Karla Correia e Márcio Falcão)