Título: Geração de energia a partir da cana supera fontes
Autor: Scrivano, Roberta; Monteiro, Ricardo Rego
Fonte: Gazeta Mercantil, 09/05/2008, Infra-Estrutura, p. C8

São Paulo e Rio, 9 de Maio de 2008 - O cenário energético nacional começa a mudar de rumo e as fontes renováveis ganham cada vez mais importância na matriz brasileira. O destaque é para o álcool e a biomassa que, juntos, responderam, no ano passado, por 16% do total de energia gerada no Brasil e ultrapassaram, pela primeira vez na histórica, a fonte hídrica no ranking nacional de geração, que fechou 2007 com 14,7% de participação, de acordo com dados divulgados ontem pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Agora, a energia gerada a partir da cana-de-açúcar está atrás somente do petróleo e derivados, setor que encerrou 2007 com 36,7% de participação, uma queda frente a fatia de 2006, de 37,8%. Já a participação dos produtos de cana saltaram de 14,5% para os 16%, enquanto a fonte hídrica caiu de 14,8% para 14,7%. O avanço do álcool e, consequentemente, o enfraquecimento do petróleo foi motivado principalmente pela popularização dos carros flex fuel e pelo aumento da mistura de álcool anidro na gasolina comercializada no País. Energia ao mercado livre As usinas de cana, potenciais produtoras de energia a partir do bagaço da cana, estão na mira do mercado livre de energia. A Comerc Energia, por exemplo, empresa responsável pela gestão de consumidores vinculados ao ambiente de livre contração, já prevê ampliar seu faturamento em 50% com a entrada desses novos empreendimentos como fornecedores de eletricidade no mercado livre. "Fechamos contrato com oito usinas que somam 310 megawatts de geração", disse à Gazeta Mercantil o presidente da empresa, Cristopher Alexander Vlavianos, que, porém, só informou o nome de um dos cliente, a Usina Santa Cruz em Ribeirão Preto, interior de São Paulo. Vlavianos explicou que a nova estratégia da Comerc Energia se deu por conta da consolidação do mercado livre. "Entre 2003 e 2005 houve uma movimentação forte de consumidores cativos migrando para o ambiente de livre contratação, mas depois disso o mercado se consolidou. Hoje são quase mil empresas livres", disse. Segundo cálculos do executivo, uma usina desse tipo é capaz de gerar 60 megawatts (MW) de potência, consome cerca de 15 MW desse total e pode pôr no mercado 45 MW. "O mercado de biomassa está em plena expansão. As novas usinas não pensam mais em produzir açúcar e álcool e, sim, etanol e energia elétrica", ressaltou Vlavianos. E o interesse das usinas pela produção da energia se dá também pelas altas verificadas no preço do insumo. "A energia é uma comodity e como todas as outras está em alta", comentou o presidente da Comerc. "Antes as usinas jogavam o bagaço da cana fora e hoje elas geram energia a partir desse insumo". Renováveis: acima da média O avanço de 17,1% da participação dos derivados da cana-de-açúcar contribuiu, no ano passado, para aumentar para 46,4% a participação das energias renováveis no País - acima da média mundial, que em 2005 foi de 12,7%. Em 2006, a fatia das renováveis na matriz brasileira se limitava a 44,9%. O maior responsável pelo fenômeno foi o etanol, cuja produção de 20,1 bilhões de litros foi proporcionada por uma safra de 495 milhões de toneladas de cana em uma área plantada total de 6,7 milhões de hectares. Auto-suficiência garantida Com relação à auto-suficiência em petróleo, o presidente da Empresa de Pesquisa Energética, Mauricio Tolmasquim, revelou que o Brasil produziu o equivalente a 1,751 milhão de barris/dia de petróleo bruto. O consumo, por sua vez, chegou a 1,734 milhão de barris diários, o que produziu um saldo de 17 mil barris/dia. No anterior, a produção média atingiu 1,727 milhão de barris/dia, enquanto o consumo se limitou a 1,698 milhão de barris/dia - uma diferença de 29 mil barris diários. Assim, o presidente da EPE confirmou a manutenção da auto-suficiência petrolífera do Brasil, em 2007, apesar do crescimento de apenas 1,39% da produção em relação ao ano anterior. (Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 4)(Roberta Scrivano e Ricardo Rego Monteiro)