Título: Planos da Petrobras para o etanol no Japão
Autor: Lorenzi, Sabrina
Fonte: Gazeta Mercantil, 09/05/2008, Infra-Estrutura, p. C8

Amsterdã, 9 de Maio de 2008 - A Petrobras planeja exportar quase um milhão de litros de etanol para o Japão num prazo de cinco anos. Para atender à expressiva demanda dos japoneses, que começam agora a adicionar álcool à gasolina, a estatal fechou, com a comercializadora Mitsui, um contrato de produção do insumo junto a uma usina de cana-de-açúcar, que vai lhe render 60 mil litros já no ano que vem. E costura outras quatro associações, nos mesmos moldes, para produzir com outros usineiros de grande porte. Enfim, a petroleira entrou no ramo de produção de álcool. No Japão, a companhia já tem onde estocar, adequar e distribuir o etanol: a refinaria localizada na ilha de Okinawa, conforme revelou o gerente-executivo da estatal, Antônio Sérgio Oliveira. A compra da refinaria foi anunciada há dois meses pela Petrobras, mas os objetivos da aquisição não foram revelados na ocasião. "O Japão está iniciando programa de adição de álcool à gasolina e o consumo do produto vai crescer. Como não dá para ficar carregando volumes grandes nesta distância toda, criamos uma base de distribuição no país", afirmou o executivo. A refinaria, adquirida por US$ 200 milhões, deverá ser reformada para ampliar a capacidade de estocagem e distribuição, disse o executivo. Garantia de contratos Os projetos com usinas de cana são formatados a partir de uma empresa constituída com a japonesa Mitsui. Cada uma detém 50% do capital da sociedade de propósito específico. A empresa criada, então, se associa com usinas, com até 30% de participação na produção do álcool. "Não queremos ser majoritários em nenhum projeto". A produção inicial, de 60 mil litros em 2009, deverá alcançar 190 mil litros em 2012. Com os cinco contratos de produção, a Petrobras vai conseguir exportar cerca de 950 mil litros na ocasião, conforme os contratos de longo prazo assinados com japoneses. Aliás, a justificativa da Petrobras para entrar na produção de álcool é garantia dos contratos de grande volume assinados no exterior. Outros países na mira O consumo de etanol no exterior levou a Petrobras à criar "complexos bioenergéticos", batizados de "CBios". Além do Japão, a Petrobras mira outros países que estão introduzindo programas de biocombustíveis, como Colômbia e Portugal, apesar das críticas aos biocombustíveis, acusados de contribuir para a crise mundial dos alimentos. Oliveira palestrou na Conferência Internacional sobre Sustentabilidade e Transparência, em Amsterdã, realizada de quarta a sexta-feira. Na palestra, o executivo rebateu indagações, por parte de holandeses e outros estrangeiros da platéia, de que os biocombustíveis, no Brasil, substituem a plantação de alimentos. SP tem 62% da produção Mostrou que a produção de etanol está concentrada no estado de São Paulo (62%) e que a agricultura de commodities em escassez, como soja e milho, são mais cultivados em outros estados, como Paraná e Mato Grosso do Sul. E que o potencial de expansão é grande, porque a plantação de cana equivaleria a 1% da área ""plantável"". Especialistas questionam o percentual, alegando que muitas áreas consideradas adequadas para a agricultura na verdade não são, mas o fato é que a área usada pelo etanol não deve ultrapassar 5%, segundo esses mesmos críticos. Criticas O ambientalista João Meirelles Filho fundador do Instituto Peaburu, da Amazônia, critica a Petrobras porque a empresa incentiva o etanol e não se interessa em saber para onde vão as culturas que foram substituídas pela cana. Os bois que deixam Ribeirão Preto quando as fazendas são compradas pelos usineiros que abastecem a Petrobras, segundo ele, vão pastar no Pará, em plena floresta. "Questão de Estado" A coordenadora de balanços socioambientais da Petrobras, Ana Paula Carvalho, afirmou que a estatal não tem como controlar para onde vão os fazendeiros que vendem suas propriedades para usinas de cana. "Isso é uma questão de Estado, de fiscalização que cabe às autoridades, não à Petrobras". A Petrobras ganhou o prêmio de empresa mais transparente do mundo por causa de seus relatórios. O público leitor de balanços elegeu os balanços da Petrobras como o melhor do mundo. As empresas brasileiras correm para se adaptar aos padrões do Global Reporting Initiative (GRI). (Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 4)(Sabrina Lorenzi - A repórter viajou a convite da Petrobras)