Título: A difícil arte de ser oposição a Lula
Autor: Nascimento, Sandra
Fonte: Gazeta Mercantil, 12/05/2008, Editorial, p. A2

12 de Maio de 2008 - A desastrosa intervenção feita pelo senador Agripino Maia (DEM-RN) durante o depoimento da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, na Comissão de Infra-Estrutura do Senado Federal, semana passada, foi mais uma amostra do despreparo da oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Dentro e fora do Congresso. Democratas e tucanos vinham se preparando desde sempre para "desmascarar" a ministra no que diz respeito ao dossiê montado contra o governo anterior, revelando gastos com cartão de crédito corporativo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e da então primeira-dama, Ruth Cardoso. Aproveitando o "passe perfeito" de Agripino, a Dilma só restou fazer o gol e correr para o abraço. E time despreparado que toma susto logo de início perde o rumo e leva goleada. No dia seguinte, enquanto Agripino tentava explicar o "mal- entendido" e era consolado pelos seus pares, chega a notícia que daria rumos diferentes ao depoimento da ministra: identificado pela Polícia Federal o possível responsável pelo vazamento do tal dossiê, o secretário de Controle Interno - da Casa Civil - , José Aparecido Nunes Pires. Agora, a oposição tenta se mobilizar para ouvi-lo na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Cartões. Sempre correndo atrás do prejuízo, DEM e PSDB têm um quadro difícil para 2010, na avaliação do diretor da LCA Consultores, Luiz Guilherme Piva, mantida a atual perspectiva de economia estabilizada e de manutenção do crescimento, "ainda que menor". A oposição tem dois fortes candidatos - o paulista José Serra, que lidera as pesquisas de intenção de voto, e o mineiro Aécio Neves, ambos do PSDB. O governo, por sua vez, busca nomes. Dilma ganhou novo fôlego pós-depoimento, mas o presidente não tem pressa em bater o martelo. Demora que vai alimentando aqueles que ainda pensam ser possível um terceiro mandato, a despeito das incansáveis negativas de Lula. "Não se pode desconsiderar a capacidade do presidente em transferir parte de sua enorme popularidade", diz o analista. "Com isso, é difícil imaginar um discurso eficiente para a oposição", acrescenta ele, para quem temas como crescimento, consumo e políticas sociais, que sempre foram do PT, estão ainda mais nas mãos do governo. "E os da estabilização e da gestão macroeconômica, antes do PSDB, agora são também do governo Lula, que tem ainda a ostentar a redução da dívida externa e a obtenção do grau de investimento." Na avaliação de Piva, a oposição perdeu esse discurso já em 2002, quando Lula venceu José Serra. Tiveram a chance de abraçar outro discurso em 2006, na esteira da crise do chamado "mensalão". Mais uma vez nada conseguiram. Resta à oposição uma saída nada simpática. Seu sucesso dependeria de uma piora da situação econômica. "A oposição, perversamente, depende disso para calibrar algum discurso de maior pegada." E não é só, continua Piva. Ele lembra que a oposição - o DEM (PFL) desde sempre e o PSDB mais recentemente - tem dificuldades para articular projeto, diretrizes, propostas ou núcleo central de idéias capazes de aglutinar setores sociais e mover o eleitorado. Resultado: joga na defensiva e nos erros do governo, sem grandes vitórias. É preciso destacar também o importante papel da ascensão econômica dos setores mais pobres (via emprego, renda, consumo e programas sociais) no governo Lula, que mudou o panorama social e político. "Não será possível tentar abraçar compromissos com tais setores se não houver vinculação legítima com eles e, nesse terreno, Lula é imbatível." Como as coisas se darão daqui para frente, ainda é cedo para se saber. Aparecido é militante histórico do PT e foi levado para a Casa Civil por José Dirceu, antecessor de Dilma e cassado em 2005 por conta do escândalo do mensalão. Ou seja, os problemas para o governo, mais uma vez, vêm do único partido que hoje tem munição para fazer estragos consideráveis no PT: o próprio PT. kicker: "Perversamente, a oposição depende da piora da situação econômica para ter sucesso" (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 2) SANDRA NASCIMENTO* - Editora de PolíticaE-mail: snascime@gazetamercantil.com.br)