Título: Juros recuam na véspera do Copom
Autor: Alessandra Bellotto
Fonte: Gazeta Mercantil, 15/09/2004, Finanças & Mercados, p. B-1

Risco Brasil cede mais de 1%; dólar fecha praticamente estável, negociado a R$ 2,909. Na véspera da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central sobre o rumo da Selic, o mercado de juros futuros dá sinais de otimismo e as taxas caem. A exceção ficou por conta do contrato mais curto - com vencimento em 1º de outubro -, que fechou praticamente estável. Neste caso, a taxa projetada embute a expectativa de parte dos analistas de alta do juro básico na reunião de hoje, de 0,25 a 0,5 ponto percentual. Mas o que chamou a atenção foi o giro registrado neste contrato, o que pode indicar mudança de apostas de última hora.

Mesmo com a possibilidade de um ajuste para cima na Selic, a hipótese de elevação da meta de superávit primário - dos atuais 4,25% para 5% do PIB - para compensar o efeito desta alta na dívida pública foi interpretada de forma positiva pelos investidores, segundo o gerente de Renda Fixa do Banco Prosper, Carlos Cintra. "Isso demonstra a forte preocupação do governo com as contas e dívida públicas", disse. O aumento isolado do juro comprometeria a estratégia de reduzir a relação dívida pública/PIB.

O contrato de janeiro de 2005, o mais líquido, apontou juro de 16,75%, ante 16,87%. O movimento financeiro subiu de R$ 16,6 bilhões para R$ 25 bilhões. O segundo contrato com maior giro foi justamente o de outubro. Os contratos negociados aumentaram de 14.781 (R$ 1,46 bilhão) para 93.210, com movimento de R$ 9,24 bilhões. Apesar de a taxa ter ficado praticamente estável - passou de 16,11% para 16,13% -, a forte procura pelo contrato pode sinalizar mudança de apostas, com a ampliação da ala dos que acreditam em manutenção da Selic nos 16% atuais.

Enquanto alguns bancos reforçam suas expectativas de alta do juro, economistas como o ex-ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega, e o diretor da Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas, Yoshiaki Nakano, argumentam que não há pressão inflacionária que justifique alta do juro neste momento. Para o economista do HSBC, Alexandre Bassoli, apesar de divididas, as apostas predominantes no mercado indicam alta. Na sua avaliação "não houve nas últimas semanas dissipação dos fatores de risco em relação à convergência da inflação para suas metas de médio prazo e, diante disto, o mais provável é que tenhamos uma elevação da Selic."

Já o dólar encerrou o dia praticamente estável. Registrou leve alta de 0,03%, para R$ 2,909. O movimento não acompanhou a melhora do risco-País, que cedeu 1,15% para 502 pontos-base. O comportamento no câmbio foi patrocinado pela participação das tesourarias de bancos, interessadas em elevar a Ptax (cotação oficial) que será usada para remunerar US$ 1,073 bilhão em títulos e swaps cambiais que serão resgatados no dia 16. "O mercado chegou a puxar por conta da formação da Ptax, mas voltou no final", disse o analista de câmbio da Corretora Souza Barros, Hideaki Iha.

Segundo ele, o movimento de correção começou na segunda-feira, mas não tem força, é pontual. "A tendência para a moeda ainda é de baixa, principalmente por conta das captações", afirmou Iha. O analista informou ainda que há um movimento de zeragem de posições, em função do Copom.

Carlos Cintra reforçou que o aumento de captações de bancos e empresas - segundo ele a Gerdau pode ser o mais novo nome a integrar a lista de emissores - anula o efeito de uma alta no juro e a pressão sobre a Ptax. "O dólar está em um nível muito bom", disse.