Título: Plano de Safra 2008/09 vai ter foco no combate à inflação
Autor: Batista, Fabiana
Fonte: Gazeta Mercantil, 13/05/2008, Agronegocio, p. C8

São Paulo, 13 de Maio de 2008 - Como parte da solução para reduzir a inflação dos alimentos no Brasil, o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, anunciou ontem que o Plano Agrícola e Pecuário da Safra 2008/09 contemplará medidas específicas para estimular o cultivo de feijão, arroz, trigo e milho. E não é para menos: nos últimos 12 meses, os preços do arroz, do milho e do trigo dobraram e os do feijão chegaram a triplicar no mercado interno. No caso do feijão, é a primeira vez que a cultura tem destaque na política agrícola do governo. A expectativa é de esses produtos não impactem mais este ano e nem no próximo na inflação brasileira. No entanto, segundo Stephanes, espera-se para 2010 um novo reajuste de preços. "Os preços do trigo, por exemplo, estão recuando, mas claro, não retornarão aos patamares anteriores. E, apesar de certa acomodação, está sendo esperado uma nova alta em 2010, pois o crescimento da oferta não está acompanhando a expansão da demanda mundial", diz. O plano ainda está em elaboração mas o ministro antecipa que as medidas serão de elevar o preço mínimo e o valor de financiamento com taxa de juros subsidiadas (6,75% ao ano). Recentemente, o governo já alterou valores para estimular o cultivo de trigo, elevando em 20% o preço mínimo - que agora está em R$ 480 a tonelada - e em 33% o limite de financiamento - de R$ 300 mil para R$ 400 mil por hectare. A medida foi considerada razoável por analistas, mas insuficiente para fazer frente à concorrência com a rentabilidade do milho. Benedito de Oliveira, analista da AgRural, pondera que, para algumas regiões produtoras de trigo, o valor não é suficiente para superar o retorno do milho. "Se for analisada a rentabilidade dos dois, o milho safrinha sai ganhando. Isso porque o custo do trigo é muito mais alto", acrescenta. Para ele, o preço mínimo deveria estar próximo de R$ 600 a tonelada para competir em pé de igualdade com o milho. "Na região de Ponta Grossa (PR) eles não podem plantar outra coisa, senão trigo, pois é muito quente para o milho safrinha. Já no Oeste do estado, a competição com o milho safrinha será acirrada", anuncia o especialista. Mas, nos bastidores, o governo tenta amarrar a negociação com produtores e indústria para deslanchar a produção nacional de trigo. Está em negociação, segundo fontes do governo, a assinatura de documento inédito em que os agentes da cadeia triticultora (produtor, indústria e governo, principalmente) se comprometem com a meta de atingir até 2012 a produção de 7,1 milhões de toneladas de trigo, o equivalente a 60% do consumo nacional. Na safra passada, o País produziu 3,8 milhões de toneladas que, em 2008/09 deve elevar-se em 20%. O documento incluiria o compromisso do produtor de plantar, o da indústria de privilegiar a produção nacional adquirindo o grão a valores compatíveis com o importado e ao governo, o cumprimento da política de garantia de preços mínimos, caso necessário. O feijão deve ter pela primeira vez na história um contrato de opção - instrumento de política agrícola já utilizado por outras culturas, tais como arroz e milho. Adquirindo este contrato, o produtor pode exercê-lo na colheita, caso o preço de mercado esteja abaixo do preço mínimo. A medida visa a estimular o plantio. Também está prevista a elevação do preço mínimo para o feijão, atualmente de R$ 48,42 a saca. Nos últimos 12 meses, o preço de mercado variou de R$ 70 a saca para R$ 130, chegando a bater R$ 210 a saca em janeiro. De acordo com Stephanes, não estão concluídos os cálculos sobre quanto seria o novo preço mínimo do feijão. No entanto, o ministro considera que algo em torno de R$ 80 a saca seria "razoável". Rafael Poerschke, analista da Safras & Mercado acredita que um preço mínimo entre R$ 75 e R$ 85 a saca é razoável para o feijão, mas também destaca que esse valor pode não funcionar para todos os casos, sobretudo nas regiões onde o feijão sofre concorrência com outras culturas. O boom do preço do feijão, explica o analista da Safras & Mercado, está diretamente ligado à relação entre os bons preços de outras culturas, como soja e milho, e a queda da área do feijão. O valor de mercado desse grão começou a subir em outubro timidamente, já refletindo um recuo da área plantada da primeira safra em 15%,de 1,559 milhão de hectares para 1,320 milhão de hectares. Em dezembro, esse valor atingiu R$ 268,50 com o pico recorde em janeiro quando a saca do feijão carioca bateu R$ 297,50. (Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 8)()