Título: Santander capta para comércio exterior
Autor: Alessandra Bellotto
Fonte: Gazeta Mercantil, 15/09/2004, Finanças & Mercados, p. B-1
Os US$ 400 milhões captados pelo Santander Banespa no início desta semana no mercado internacional serão destinados ao financiamento do comércio exterior, principalmente operações estruturadas de pré-pagamento de exportações. Segundo o superintendente da área internacional, Airton Villafranca, o banco tem registrado uma demanda crescente por recursos de médio e longo prazo. "Isso porque os grandes exportadores já estão com o fluxo deste e do próximo ano comprometidos", disse.
O forte desempenho da balança comercial tem contribuído para a maior procura por crédito. "Mas, as operações ligadas ao comércio exterior não crescem na mesma velocidade da balança comercial", destacou o executivo. Segundo ele, parte do volume negociado não é financiado, ou porque os exportadores estão muito líquidos ou porque há menos espaço para arbitragem (ganhos com a diferença de taxas entre dois mercados). "Muitos preferem fechar o câmbio à vista", disse. Foi justamente essa demanda por recursos de médio e longo prazo que levou o banco a optar por fazer, pela primeira vez, uma emissão de títulos lastreados no fluxo financeiro de clientes - operação mais conhecida como "MT 100". Graças à estrutura de securitização, o prazo de captação é mais longo - no caso, a emissão do banco, liderada pela corretora Merrill Lynch, vence em sete anos, com dois e meio de carência.
A operação, acrescentou Villafranca, tem uma peculiaridade. "O fluxo é gerado pelos dois bancos. Pode-se dizer que é uma emissão conjunta do Santander Brasil e do Banespa", explicou o executivo. Os papéis foram emitidos com cupom (juro nominal) de 5,5% ao ano e "yield" (taxa de retorno para o investidor) de 5,73% ao ano. Como a taxa é fixa, a estrutura não prevê cobertura de seguro. A emissão foi classificada no nível Baa1 pela Moody¿s e BBB+ pelas agências Standard & Poor¿s e Fitch - três degraus acima do piso considerado "investment grade" (aplicações de menor risco).
A captação do Santander Banespa ficou aberta apenas um dia. A intenção inicial era levantar cerca de US$ 300 milhões. O forte apetite dos investidores, porém, fez o banco ampliar a operação. "Aproveitamos a janela de oportunidade para colocar os papéis", afirmou Villafranca. Segundo ele, não há vencimentos do banco neste ano e o montante já captado é suficiente para o negócio - foram US$ 400 milhões nesta semana, mais US$ 100 milhões em eurobônus emitidos em fevereiro. Voltar ao mercado, portanto, só se em caso de uma boa oportunidade.
"O mercado melhorou bastante, o que significa que pode haver mais emissões. E a janela deve se manter aberta", disse o executivo. Segundo ele, os grandes emissores - bem capitalizados - estavam apenas esperando o melhor momento. A perspectiva até o final do ano, acrescentou Villafranca, é de tranqüilidade. O que pode haver, na sua opinião, é um impacto no custo das captações, com o aumento do juro americano.