Título: Governo deve cortar gastos e carga tributária
Autor: Totinick, Ludmilla
Fonte: Gazeta Mercantil, 20/05/2008, Nacional, p. A4

Rio, 20 de Maio de 2008 - O presidente eleito da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf) e vice-presidente da Associação Brasileira da Companhias Abertas, Alfried Karl Plöger, é um crítico da ineficiência do governo. Ele ataca o desperdício de recursos governamentais e reforça que há muita gordura para cortar. Plöger defende a redução da carga tributária e alerta para a insuficiência de investimentos em infra-estrutura, apontado como um dos gargalos para o crescimento do País. Gazeta Mercantil - Se o senhor pudesse fazer um pedido ao ministro da Fazenda Guido Mantega, qual seria? Pediria para baixar fortemente a tributação, os impostos e as contribuições e, concomitantemente, para diminuir os custos do próprio governo. Joga-se muito dinheiro fora, além da alocação de verbas inúteis. Não há dia em que os jornais não tragam notícias de dispêndios absolutamente discutíveis, desnecessários e inúteis. Gazeta Mercantil - O sr. pode citar alguns exemplos? Basta dizer que temos mais de 30 ministérios. O que faz o Ministério da Pesca? No campo da agricultura, há cinco ministérios concorrendo entre si. Um organismo é seara do outro e aí vai. Isso requer um staff enorme de pessoas, infra-estrutura, com computadores, carros, viagens, alimentação e assim vai. Se o empresariado se comportasse como o governo estaria falido, absolutamente falido. O duro é ter de cortar despesa quando não se tem mais o que cortar. Mas no governo tem gorduras e ineficiências brutais em todos lados. Gazeta Mercantil - O custo Brasil continua alto ou o sr. acha que houve uma melhora ? O custo Brasil é muito alto, extremamente exacerbado em todos os campos. A começar pela própria burocracia, a ineficiência que se verifica em todos os setores além do custo do governo. Gazeta Mercantil - Qual a sua opinião sobre a política do Banco Central de elevar a taxa de juros para conter as pressões inflacionárias? Considero a política equivocada. Temos as maiores taxas de juros do mundo. Sempre competimos com a Turquia mas agora a ultrapassamos. O nosso país não merece isso. Com os nossos índices de inflação, dentro daquilo que foi preconizado pelo Banco Central, não vejo nenhum risco de sair do que foi planejado pelo governo. Ao contrário, acredito que temos todas as condições de ficar dentro dessa previsão. O empresariado, por exemplo, está investindo maciçamente, principalmente em equipamentos, com o cenário positivo da importações. Cabe ao governo fazer a sua parte, ou seja, investir em logística, na parte de infra-estrutura, que está uma desgraça. Não tem porto que preste. Em São Paulo, uma vez por semana acontece um pequeno apagão por má-conservação de linhas. O mês de junho se aproxima e ficaremos à mercê do nível dos reservatórios de água para não ter falta de luz. Os portos não dão conta do escoamento dos cereais, que apodrecem dentro das próprias caçambas dos caminhões. O País está mal. O governo não fez nada até agora. Dentro desse projeto inicial, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) tem alguma coisa, mas não sinto muita vontade de investir nesse tipo de ação. É aquela velha história: aquilo que fica embaixo da terra não dá voto. Gazeta Mercantil - A Política de Desenvolvimento da Produção (PDP) tem a abrangência necessária? Não. Inicialmente, beneficia a área de softwares, depois a indústria automobilística. Mas isso para mim não é importante porque o plano em si já começou a fazer água antes de ser implantado. Não tem operador. Me diga com quem eu falo? Quem tem o comando para falar com o ministro A, B ou C? Ninguém. Gazeta Mercantil - Como o senhor analisa a relação PIB/dívida pública no Brasil e nos EUA? Há uma palavra muito forte chamada credibilidade. Ela movimenta a economia, o crédito e a área financeira. Não há dúvida alguma que a economia dos Estados Unidos, mesmo com o subprime, com as guerras, não a perdeu e isso precisa ser conquistado no Brasil. Recentemente, conquistamos o grau de investimento e isso já está sendo muito bom. Já temos um, ainda falta outro, pois, na verdade, só se considera mundialmente como grau de investimento o país que o tenha recebido de duas agências de classificação de risco diferentes. Provavelmente agora ficará mais fácil receber o outro. Gazeta Mercantil - O mercado de capitais pode ser uma boa alternativa para as empresas? O brasileiro ainda não tem cultura desenvolvida, pois gostaria de ter um mercado de ações com garantias de renda fixa, que não houvesse grandes oscilações nas cotações das ações. No mercado americano, por exemplo, é permitida a especulação. Não falo de manipulação, faz parte do mercado de capitais. Aqui o mais comum é a empresa A comprar a empresa B, o investidor receber o percentual da operação e acabou. Isso acontece em boa parte em conseqüência do engessamento dos atos normativos. Temos um monte de regras, instruções que cerceiam a agilidade de investir e, por isso, nossa cultura é completamente diferente da dos Estados Unidos. O subprime aconteceu, por exemplo, porque houve uma liberdade muito grande. Mas aqui ainda vai demandar um bom tempo. É um mercado para ganhar e perder. Gazeta Mercantil - O governo pode adotar alguma medida para ampliar as ações neste mercado? Várias. Dar mais liberdade de ação e punir aquele que manipula, que vaza informação. A questão ética deveria ser levada em consideração por ser inerente à boa governança corporativa, mas, por outro lado, deveria soltar as amarras éticas e legais que prendem o mercado. Hoje, funciona 24 horas; posso comprar ações americanas às 4 horas da manhã na Austrália, pela internet. Essas coisas têm de ser rápidas e não podem ter muitas travas. Outro ponto importante está nos impostos e taxas que incidem no mercado de ações. Gazeta Mercantil - O setor gráfico brasileiro é competitivo? Sim. Ganhamos vários prêmios internacionais. Importamos, só no ano passado, mais de US$ 1 bilhão em equipamentos gráficos. Daqui a alguns dias, acontecerá a maior exposição de máquinas gráficas do mundo, na Alemanha, onde são fechados muitos negócios e muitas novidades serão trazidas para o Brasil, principalmente devido ao câmbio. Gazeta Mercantil - Qual o impacto da melhora tecnológica do setor? Ela o aqueceu. Nossa capacidade, mesmo com o aquecimento da economia, não está tomada. São 15% de ociosidade, alguns ramos com mais e outros com menos. O crescimento em média segue o aumento do PIB. Tivemos um desempenho muito bom no ano passado, US$ 9,6 bilhões. Para este ano, a previsão é boa devido às eleições municipais, quando são impressos materiais de campanha que seguramente aumentam de 1% a 2% o faturamento do nosso setor. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 4)()